Crítica de Filme | 15 Anos e um Dia

Giselle Costa Rosa

15 Anos e um Dia, premiado como melhor filme no XVI Festival de Málaga 2013, é pra ser assistido em família. Dos avós aos netinhos que estejam na puberdade. Selecionado para representar a Espanha no Oscar 2014 na categoria Melhor Filme Estrangeiro, o longa, dirigido por  Gracia Querejeta, deixou Almodóvar, com seu filme “Os Amantes Passageiros”, de fora da disputa.

O filme, que abriu a “Mostra de Cinema Espanhol Contemporâneo – Constelações”, traz à baila velhas questões sobre rebeldia adolescente. A história começa a ser contata a partir da cena em que  Jon (Arón Piper), típico menino de quinze anos, transcende o sentido de estar a salvo. Descer de bicicleta pela ladeira, cronometrando o tempo para ir de encontro ao motorista que vem desavisado pela estrada, demonstra perfeitamente a totalidade de colocar em risco vidas. Subentende-se que a real possibilidade de acidente ou morte não dialoga com o medo. Jon se coloca no mundo de maneira rasgada, desafiadora. Transgredir regras é a própria regra. Arón Piper, ator pouco experiente dá conta do personagem, muito pela forma como o roteiro, escrito por Gracia Querejeta e Antonio Santos Mercero, foi construído.

Logo o vemos ser expulso do colégio por desrespeitar e ter comportamento violento com professores e colegas. Como toda mãe, Margo, vivida por Maribel Verdú (“O Labirinto do Fauno”, “E Sua Mãe Também”) fica estupefata ao ouvir a narrativa do diretor sobre as atitudes errôneas de seu menino. Verdú deixa a desejar em sua interpretação, talvez porque o papel não lhe tenha trazido grandes desafios. Como não bastasse a expulsão, Jon ainda envenena o cachorro do vizinho alguns dias depois. Motivo: todos os dias o cãozinho era colocado propositalmente no quintal deles para fazer suas necessidades. Sua mãe era a premiada. Pisava sempre de forma certeira nas fezes caninas. O que o diálogo com o vizinho não deu  jeito, Jon resolveu à sua maneira. Uma atitude atabalhoada de proteger sua mãe, já tão desgastada, de mais um aborrecimento cotidiano. Aqui o roteirista planta pra colher mais a frente. Margo resolve levar Jon pra passar um tempo com seu avô Max (Tito Valverde), militar da reserva, na esperança de que a disciplina resolva toda essa questão de mau comportamento.

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Na casa de seu avô, o menino se vê forçado a seguir regras. Sem TV ou regalias, ele é forçado a cumprir tarefas diárias. Assim como todo bom jovem, acaba burlando suas designações e se misturando aos demais adolescentes do local, fazendo novas amizades, jogando bola. E logo fez aproximação com os “delinquentes”. Max o repreende. De nada adianta. Jon é bicho solto, pensa por si só. Um garoto que não vê sentido em ser certinho. Seu rosto não o denuncia; sua forma de pensar sim. O roteiro mostra Jon como um rapaz que se sente sozinho ao lado de sua mãe. De fato ela não consegue se aproximar e não o deixa se inteirar da história do pai suicida – um tabu imposto por Margo que tentou mantê-lo fora a todo custo, mas ele já estava por dentro há tempos. Talvez isso tenha invocado e trazido à tona a forma displicente que Jon lidava com as pessoas.

Quando a casa do seu avô é invadida e alguns itens são roubados, Jon inventa novos itens para que o seguro lhe proporcione coisas além do que existia. Max não deixa que isso se efetue e o manda retificar sua declaração de bens roubados junto às autoridades. Daqui em diante nada será fácil. Max e Jon passam a enfrentar suas limitações e seus medos. Ao passo que o menino percebe que agora tem alguém que consegue acessá-lo. Em contrapartida, seu avô começa a refletir sobre a forma autoritária e binária de estar no mundo.

A mistura do certo/errado passeia sutilmente pelo roteiro. A virada final se dá quando Jon se mete num assassinato com demais rapazes do local. Tudo o que se sabe é que um menino foi morto com uma facada e que ele está em coma por ter batido a cabeça numa pedra. Daí em diante as investigações começam pra saber quem é o assassino e esclarecer como Jon bateu a cabeça. Max e Margo repensam o modo de viver e de agir enquanto espera o rapaz recobrar a consciência.

Também se encontra metido na confusão Toni (Boris Cucalón), menino de mesma idade, contratado pelo seu avô pra dar aulas de reforço a Jon. Toni sofre bullying constante pelo fato de frequentar aulas de piano, por não se meter em problemas e ter um jeito menos intempestivo. Muros e paredes estão pichados com a palavra maricon (gay). Em nenhum momento da película a sexualidade do rapaz é exposta. A suspeita basta para os demais. Jon aparentemente não parece se importar com tal fato.

O filme apresenta como suspeitos do assassinato: os meninos “delinquentes”, Jon – o  assassino de cachorro – e o certinho Toni. Bem que a professora de piano poderia figurar nessa lista; mas não. Temos aqui vítimas e agressores no mesmo lado da moeda. Apesar de ter rolado uma ou outra cena mais apelativa – nada que comprometesse a história, o tema abordado e os acontecimentos, nada banais, foram tratados de maneira leve no roteiro.

BEM NA FITA: o roteiro e a direção de Gracia Querejeta.

QUEIMOU O FILME: a atuação mediana do elenco, o fato de não explorarem mais o desfecho final e a trilha sonora que poderia ter dado gás em algumas cenas.

TRAILER

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Gracia Querejeta
Elenco: Maribel Verdú, Boris Cucalón, Bernat Grau, Belén López, Arón Piper, Pau Poch, Susi Sánchez, Fernando Valverde
Roteiro: Gracia Querejeta e Antonio Santos Mercero
Produção: Gerardo Herrero e Mariela Besuievsky
Fotografia: Juan Carlos Gómez
Montagem: Nacho Ruíz Capillas
Direção de Arte: Laura Musso
Figurinista: Maiki Marín
Músicas: Pablo Salinas
Duração: 96 min
Ano: 2013

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN