Crítica de Filme | A Floresta de Jonathas

Giselle Costa Rosa

A Floresta de Jonathas é um filme que tem algo a oferecer. Sai da mesmice. Consegue retratar e delinear a história de um adolescente, com suas crises existenciais, dividido entre a floresta e a influência do urbano, o novo. Os pais de Jonathas (Begê Muniz) tem que lidar com a inaptidão dele – exemplificada numa das primeiras cenas, em que o vemos se machucando numa planta ao dar uns passos para trás enquanto seu pai derrubava frutos de uma árvore espinhosa – e a gaiatice de seu irmão Juliano (Italo Castro) que só quer saber de se aventurar com os turistas que visitam o lugar.

Jonathas é tímido, calado, em geral, obrigado ajudar seu pai na coleta de frutos dentro da floresta e a ficar sozinho na barraca de frutas à beira da estrada. Sentimos que sua forma de estar no mundo lhe traz desconforto. O diretor, que também assina o roteiro, Sergio Andrade, demonstra isso de algumas formas. O rapaz não se encaixa nas duas referências a sua frente. Assim, nem a forma aventureira e exploradora de seu irmão, nem o tipo de vida tradicional do seu pai (Francisco Mendes) o seduzem. Gosta mesmo é de tocar seu violão num canto calmo do sitio onde mora (na área rural do Amazonas) e quando tenta fazê-lo na barraca de frutas é interpelado pela movimentação dos carros na estrada à frente. Desiste. Nesse momento, vemos que é tomada a decisão de buscar e mergulhar no novo.

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Jonathas resolve ir acampar com Juliano. Junto com eles vão a ucraniana Milly (Viktoryia Vinyarska) e um indígena. Há um enlaçamento entre ele e estrangeira. A paixão dele por ela o faz adentrar a floresta em busca de um fruto sagrado e de difícil acesso, o maracujá do mato.

A partir desse movimento, vislumbra-se o que foi plantado anteriormente pela trama; ele se perde na floresta. São alguns dias de espera por um resgate, sobrevivendo apenas do pequeno suprimento de frutas e água levado na mochila. Temos agora Jonathas contra a floresta, que o amedronta especialmente à noite, com seus inúmeros barulhos vindos de todas as partes. Sem poder contar com seu pai, suas tentativas de se virar sozinho fracassam. Agora só lhe restam alucinações, fome, sede, frio e dor. Definitivamente ele não estava pronto para a transição.

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A produção cinematográfica amazonense de Sergio Andrade conseguiu trazer pra tela do cinema a questão da pós-modernidade versus os costumes e rituais locais, dos quais as novas gerações, muitas vezes, se recusam aprender e seguir. Esse conflito interno dentro de cada jovem expõe a fragilidade humana perante os perigos, até mesmo de um simples enlace romântico. Constata-se que a floresta pode vir a proporcionar coisas boas ou ruins e que isso depende da forma com que se lida com ela. E que a única coisa certeira é o fato de não serem poupados àqueles que vierem a vacilar ou não detiverem conhecimento suficiente sobre o potencial aniquilador de sua natureza.

BEM NA FITA: a reconfiguração da imagem da floresta Amazônica, o modo como foi tratado à busca da plenitude pelo personagem principal e a ousadia do diretor na construção de um longa que foi concebido para ser de arte.

QUEIMOU O FILME: o áudio, como sempre nessas pequenas produções, deixa a desejar.

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FICHA TÉCNICA:

 Nome: A Floresta de Jonathas
Direção: Sérgio Andrade
Roteiro: Sérgio Andrade
Elenco: Begê Muniz, Francisco Mendes, Viktoryia Vinyarska, Chico Diaz, Ítalo Castro, Socorro Papoula, Alex Lima, João Tavares, David Almeida, Maria Maciel
Edição: Fábio Baldo
Fotografia: Yure César
Música: Ian dos Anjos, Begê Muniz
Produção: Warly Bentes Jr., Sandro Fiorin, Sérgio Andrade, Sidney Medina
Estúdio: Figa Films, Rio Tarumã Films e Vitrine Filmes
País: Brasil
Gênero: Drama
Duração: 98 min
Ano: 2012

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN