Crítica de Filme | A Grande Aposta [#2]

A Grande Recessão foi uma crise econômica global que ainda hoje se faz sentir após a crise financeira internacional de 2008, originária nos Estados Unidos da América, precipitada pela falência do tradicional banco de investimentos estadunidense Lehman Brothers, fundado em 1850. Em efeito dominó, outras grandes instituições financeiras quebraram, no processo também conhecido como crise dos subprimes.

A crise dos subprimes teve como causa, primeiramente, o estouro da Bolha da Internet, no ano de 2001, quando o índice Nasdaq (que mede a variação de preço das ações de empresas de informática e telecomunicações) despencou.

Além da do banco de investimentos, empresa seguradora American International Group (AIG) também não sobreviveu a crise, levando o banco brasileiro, Unibanco a ter que se fundir com o Itaú, criando aItaú Unibanco Holding S/A. O governo norte-americano, que se recusara a oferecer garantias para que o banco inglês Barclays adquirisse o controle do cambaleante Lehman Brothers, alarmado com o efeito sistêmico que a falência dessa tradicional e poderosa instituição financeira – abandonada às “soluções de mercado” – provocou nos mercados financeiros mundiais, resolveu, em vinte e quatro horas, injetar oitenta e cinco bilhões de dólares de dinheiro público na AIG para salvar, pelo menos, suas operações. Mas, em poucas semanas, a crise norte-americana já atravessava o Atlântico: a Islândia estatizou o segundo maior banco do país, que passava por sérias dificuldades.

As mais importantes instituições financeiras do mundo, Citigroup e Merrill Lynch, nos Estados Unidos; Northern Rock, no Reino Unido; Swiss Re e UBS, na Suíça; Société Générale, na França declararam ter tido perdas colossais em seus balanços, o que agravou ainda mais o clima de desconfiança, que se generalizou. No Brasil, as empresas Sadia foi vendida para a Perdigão, nascendo a Brasil Foods (hoje,BRF S.A) e outras como a Aracruz Celulose e Votorantim anunciaram perdas bilionárias. Os bancos permitiram que pessoas que não tinham recursos comprassem casas à crédito. Além da bolha que estourou a crise e deixou milhões de pessoas desempregadas e sem lugar para morar.

Possivelmente, candidato ao Oscar 2016 de Melhor Filme, estreia nesta quinta-feira (14/01), nos cinemas do Brasil, A Grande Aposta, é uma trama sobre swaps de crédito, dívidas colateralizadas e títulos hipotecários subprime que não vai deixar o espectador piscar os olhos diante da tela grande. O filme convoca gatas como a Margot Robbie e Selena Gomez, não para atuar no filme, mas para explicar questões complexas e jargões técnicos do universo do sistema financeiro.

Baseado no livro A Jogada do Século: The Big Short, seu autor, Michael Lewis, também foi responsável pelas obras que originaram as produções Um Sonho Possível (2009) e Moneyball: O Homem Que Mudou o Jogo (2011). Ou seja, o filme é baseado em fatos reais e não propriamente engraçados: a crise financeira de 2008 que começou nos Estados Unidos e abalou o mundo.

No filme, Michael Burry (Christian Bale) é o dono de uma empresa de médio porte, que decide investir muito dinheiro do fundo que coordena ao apostar que o sistema imobiliário nos Estados Unidos irá quebrar em breve. Tal decisão gera complicações junto aos investidores, já que nunca antes alguém havia apostado contra o sistema e levado vantagem. Ao saber destes investimentos, o corretor Jared Vennett (Ryan Gosling) percebe a oportunidade e passa a oferecê-la a seus clientes. Um deles é Mark Baum (Steve Carell), o dono de uma corretora que enfrenta problemas pessoais desde que seu irmão se suicidou. Paralelamente, dois iniciantes na Bolsa de Valores percebem que podem ganhar muito dinheiro ao apostar na crise imobiliária e, para tanto, pedem ajuda a um guru de Wall Street, Ben Rickert (Brad Pitt), que vive recluso.

Falar com propriedade da desastrosa grande “marola” mundial causado pela crise financeira nos Estados Unidos em 2008 para público leigo é, por si só, uma tarefa árdua. Tornar isso uma comédia, mostrando a seriedade dos fatos reais, é um trabalho, sem dúvida, ainda mais que surpreendente. Adam McKay, cineasta e roteirista do longa, consegue retratar com competência todo esse drama com complexidade, credibilidade e comédia na dose certa.