Crítica de Filme | A Vida Secreta de Walter Mitty

Bruno Giacobbo

Durante toda a minha infância, um dos meus desenhos favoritos era “Muppet Babies”. Nele, Caco, Miss Piggy, Gonzo e seus amigos viviam mil e uma aventuras sem sair do quarto onde moravam. Tudo na base da imaginação. Quando ia brincar com os meus amigos, gostava de pensar que podia fazer a mesma coisa. Como a imaginação no mundo real não era tão fantástica quanto na televisão, eu me sentia terrivelmente frustrado.

Responsável pelo banco de imagens da revista Life, Walter Mitty (Ben Stiller) não sofre dos mesmos problemas que eu sofria. Sua imaginação é tão fértil que beira o devaneio. E, assim, ele leva uma vida mais emocionante do que qualquer homem poderia sonhar. Contudo, no fundo, esta situação não o satisfaz. De longe, ama Cheryl Melhoff (Kristen Wigg), uma colega de trabalho a quem mal consegue dirigir a palavra. Mudar esta situação não será fácil, mas Mitty sabe que precisa parar de sonhar e começar a viver.

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Baseado em um conto publicado pela revista “The New Yorker”, em 1939, dirigido e estrelado por Ben Stiller, no melhor trabalho de sua carreira, A Vida Secreta de Walter Mitty é um filme mágico que mistura comédia, drama e romance. O desabrochar do personagem é o foco da história. O impulso de que ele tanto precisava vem de uma situação fortuita. Responsável por revelar a fotografia de capa da última edição impressa da Life, Mitty descobre que o negativo enviado pelo famoso fotografo Sean O’Connell (Sean Penn) sumiu. Desesperado, só lhe resta uma opção: viajar mundo afora atrás da foto desaparecida.

O filme conta com atuações convincentes. Mesmo tendo pouquíssimas cenas juntos, nota-se, logo de cara, que rola uma química legal entre os personagens de Stiller e Wigg. Eles são fofos. A participação do astro Sean Penn é pequena, mas marcante. Há, ainda, divertidas homenagens a clássicos do quilate de “O Curioso Caso de Benjamim Button” e “Forrest Gump – O Contador de Histórias”; e de pipocas como “O Senhor dos Anéis” e “Harry Porter”. No entanto, nada disto explica sua magia.

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O segredo de A Vida Secreta de Walter Mitty, que o tornará inesquecível para muitos cinéfilos, é a sua maravilhosa fotografia. Com tomadas feitas nos Estados Unidos, Groelândia, Islândia e Afeganistão, é um longa-metragem para ser degustado com os olhos. Tanto as cenas que representam os devaneios do personagem, quanto as que marcam o seu desabrochar, são extraordinárias. Lá pelas tantas, escuta-se a seguinte premissa: “A beleza não clama por atenção”. Respeitosamente, eu discordo. No novo filme de Stiller, ela não só clama como merece toda a atenção do público.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: A fotografia. A linda fotografia. A extraordinária fotografia. As cenas parecem tiradas de um documentário da “National Geographic”. A interpretação e a direção de Stiller.

QUEIMOU O FILME: Nada que seja realmente importante.

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FICHA TÉCNICA:

Nome: A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty)
Diretor: Ben Stiller.
Elenco: Ben Stiller, Kristen Wigg, Shirley MacLaine, Adam Scott, Sean Penn, Kathryn Hann, Patton Oswalt, Ólafur Darri Ólafsson, Jon Daly, Terence Bernie Hines, Adrian Fernandez, Paul Fitzgerald, Grace Rex e Marcus Antturi.
Produção: Ben Stiller, Stuart Cornfield, Samuel Goldwyn Jr. e John Goldwyn.
Roteiro: Steve Conrad.
Fotografia: Stuart Dryburgh.
Direção de Arte: David Swayze.
Trilha Sonora: Theodore Shapiro.
Duração: 114 min.
Ano: 2013.
País: Estados Unidos.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN