Crítica de Filme | Anomalisa

Bruno Giacobbo

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11 de outubro de 2015

Longe do cinema desde “Sinédoque, Nova Iorque” (2008), o diretor e roteirista Charlie Kaufman, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original por “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança” (2004) e dono de outras duas indicações, está de volta, para a alegria de seus fãs, com um trabalho um pouco diferente dos anteriores. Anomalisa é uma animação que retrata um final de semana na vida Michael Stone (David Thewlis), um palestrante de sucesso e autor do best seller ‘Como posso ajudar você a ajudar?’, um livro escrito para facilitar o trabalho de atendentes de telemarketing e vendedores. O que tinha tudo para ser apenas mais uma viagem de trabalho a Cincinnati, tomará outros rumos quando ele conhecer Lisa (Jennifer Jason Leigh), uma fã tímida, dotada de baixíssima estima, que está na cidade só para assistir sua apresentação. Stone, inicialmente, sem entender muito o porquê, se encantará por ela e a partir daí, já dá para imaginar, várias confusões acontecerão.

Considerado uma das personalidades mais influentes de Hollywood, mesmo com esta pausa sabática em sua carreira, Kaufman tem como característica, em seus trabalhos, explorar a psique dos personagens que cria. Foi assim, por exemplo, em “Quero Ser John Malkovich” (1998), longa-metragem onde Craig Schwartz (John Cusack) descobre uma maneira de entrar (literalmente) no cérebro de Malkovich. Ou em seu último filme, considerado uma obra complexa, que flerta com o surrealismo, em que seu personagem principal, Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman), foi batizado desta forma em alusão a uma desordem psiquiátrica rara. Desta vez não é diferente. Apesar de todo o seu imenso sucesso profissional e genialidade, Stone é um homem perturbado por uma história mal resolvida, que aconteceu há muitos anos, em Cincinnati. O retorno à cidade e Lisa despertarão fantasmas que estavam adormecidos em sua mente.

A pequena diferença entre Anomalisa e o restante da filmografia de Kaufman está na forma escolhida na hora de desenvolver este trabalho. Em vez de um filme tradicional com atores, uma animação em stop-motion. Nada que faça o fã mais empedernido estranhar, pois todas as marcas registradas do cineasta estão presentes: o aprofundamento psicológico dos personagens e um humor caustico. Destaque para uma engraçada (e irritante) conversa que ocorre dentro de um táxi, entre Stone e um motorista intrometido que se assemelha bastante aos que encontramos nas ruas do Rio de Janeiro. De resto, uma curiosidade interessante: excetuando o protagonista e Lisa, as demais vozes, inclusive as das mulheres, foram interpretadas por uma única pessoa, o ator Tom Noonan.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

(Filme assistido no 17º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro).

FICHA TÉCNICA:
Direção: Charlie Kaufman e Duke Johnson.
Roteiro: Charlie Kaufman.
Produção: Charlie Kaufman, Duke Johnson e Rosa Tran.
Elenco: Jennifer Jason Leigh, David Thewlis e Tom Noonan.
Direção de Fotografia: Joe Passarelli.
Montagem: Garret Elkins.
Direção de Arte: John Joyce e Huy Vu.
Figurinos: Susan Donym.
Música: Carter Burwell.
Duração: 90 minutos.
País: EUA.
Ano: 2015.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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