Crítica de Filme | Astrágalo

Adolfo Molina

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8 de março de 2016

A Nouvelle Vague foi um dos principais movimentos cinematográficos da história do cinema mundial. Não obstante, teria dezenas de amantes, apaixonados e seguidores do estilo dentro do próprio nicho atuante. 

Baseado na autobiografia homônima de Albertine Sarrazin, “Astrágalo“, o primeiro longa-metragem de Brigitte Sy traz à vida as décadas parisienses de 50 e 60, onde a própria Albertine (Leïla Bekhti) em uma tentativa de fuga da prisão feminina, se acidenta e fratura o astrágalo, osso localizado na parte do calcanhar, responsável pela capacitação estrutural do pé. Após o acidente, ela é resgatada por Julien (Reda Kateb), um ladrão e falsário. Por conta de estar sob ordem de fugitiva, ela tem que se esconder, mas sem deixar de lado a vida clandestina e marginal aos conceitos sociais adequados da época.

astragalo1_1 O primeiro ato é longo e descompassado, o que também determina a falta de ritmo e identidade do filme, pois logo no começo, o uso das referências à nouvelle toma quase que total corpo das cenas e há uma quase abrupta transposição dos atos. Após o fato, o longa começa a tomar forma e seguir em sua linha narrativa e coesa.

O roteiro é qualitativo e interessante, adentrando-se bem às introspecções sentimentais da protagonista, além de suscitar os adversos elementos que a rodeiam, como sua relação com Julien, que mescla uma paixão e resguardo com sentimento de abandono e solidão. Notável também é o estilo suave e até mesmo satirizado ao mostrar o momento em que Albertine vira prostituta. Ela é forte, dissimulada e completamente independente da situação de posicionamento acima do gênero masculino , caracterizando um contraponto a sua fragilidade emocional com o seu par.astragalo2

O filme ganha mais sobrevida e fortalecimento com a entrada de Marié (Esther Garrel – a verossimilhança com o irmão é notável – ), a antiga parceira de crime e também de amor de Albertine. A relação das duas é afetuosa, segura e estabelecida em respeito às liberdades alheias, sem arremeter em uma paranoica objetivação ou glorificação de sentimentos antigos. Fotografia em preto e branco, mas sem saturação ou contrastes fortes. Os meio tons são suaves e limpos e se alinham a um ótimo uso de luz e sombra.

Apesar de entrar no incansável e numeroso rol de cinebiografias – neste caso, auto cinebiografia -, o filme se estabelece bem e de forma mais simples e acessível dentro de suas próprias limitações, o que permeia bons personagens e uma corrente história.


FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama/Romance
Direção: Brigitte Sy
Roteiro: Serge Lé Perron, Albertine Sarrazin, Brigitte Sy
Elenco: Leïla Bekhti, Reda Kateb, Esther Garrel, Jocelyne Desverchère, India Hair, Jean-Charles Dumay, Jean-Benoît Ugeux, Delphine Chuillot, Zimsky, Billie Blain
Produção:  Paulo Branco
Fotografia: Frédéric Serve
Duração: 96 min
Ano: 2016 (Brasil)
País: França
Cor: Preto e Branco
Estreia: 10/03/2016
Distribuidora: Imovision
Estúdio: Alfama Films
Classificação: Não definido

Adolfo Molina

Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!
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