Crítica de Filme | Bata Antes de Entrar

Bruno Giacobbo

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26 de setembro de 2015

Violência e sensualidade são dois dos elementos fílmicos mais utilizados no cinema moderno e que costumam exercer grande fascínio sobre a parcela mais jovem do público, arrastando multidões às salas de projeção do mundo todo. Não são mais importantes do que a historia, mas empregados com sabedoria e parcimônia tornam qualquer trama mais interessante. Quentin Tarantino, por exemplo, se tornou um ícone da cultura pop ao abusar de cenas violentas, com muito sangue farsesco, sem aviltar seus fãs. Antes dele, nos anos 80, o cultuado David Lynch ganhou notoriedade ao rodar instigantes tramas de suspense onde a sensualidade de suas atrizes é apenas mais um fator apimentador da tensão que naturalmente permeia os seus filmes. Assim, eles costumam servir de referência para os novos cineastas que desejam capturar corações e mentes desta multidão de aficionados.

Aos 43 anos, Eli Roth não é tão novo e menos ainda chega a ser um novato. Sua filmografia é composta, até aqui, de cinco longas-metragens. Contudo, independentemente do tempo de carreira, ele é alguém que, com certeza, começou neste meio tendo Tarantino e Lynch como exemplos. O primeiro é uma espécie de padrinho. E dos mais orgulhosos, pois costuma se referir ao afilhado como o futuro do terror nos Estados Unidos. Já com o segundo há uma ligação profissional prévia. Durante seis anos, Roth foi assistente de direção de Lynch. Deste jeito, e não poderia ser diferente, a influência de ambos perpassa a obra do diretor, incluindo aí seu ultimo trabalho, o suspense Bata Antes de Entrar, com estreia marcada para a próxima quinta-feira (01/10) nos cinemas brasileiros.

Knock Meio 1

Tudo o que o arquiteto Evan Webber (Keanu Reeves) queria era passar o dia dos pais com sua esposa Karen (Ignacia Allemand) e os dois filhos em uma casa de praia. No entanto, um projeto de última hora o obriga a ficar, sozinho, em Los Angeles. Sua única companhia é o cachorro Monkey. Tarde da noite, em meio a uma chuva torrencial, a campainha toca. Ele reluta a atender, afinal quem poderia ser àquela hora? Só que a curiosidade fala mais alto e, do lado de fora, duas belas jovens, Gênesis (Lorenza Izzo) e Bel (Ana de Armas), metidas em shorts minúsculos, imploram por ajuda. Indo a uma festa, erraram o caminho e estão perdidas. Com o celular encharcado, elas pedem para usar a internet e descobrir, via Facebook, o endereço correto. De novo, Webber reluta, mas acaba cedendo ao concluir que não há mal algum em permitir que duas lindas estranhas usem seu IPad.

A partir daí, o que se desenrola é uma trama de sedução, violência e sensualidade. O problema é que esta violência, em muitos momentos, chega a ser risível e a sensualidade se sobrepõe totalmente a importância da história. Roth, que co-assina o roteiro com Guillermo Amoedo e Nicolás López, transporta o público para um jogo de gato e rato onde as beldades desamparadas se revelarão, na verdade, autênticas predadoras sexuais que não sossegarão até comerem o outrora comportado pai de família. Por que motivo? Fetiche ou senso de oportunidade, já que estão a sós os três? Nada disto, o que torna tudo ainda mais problemático. Em sua reta final, o longa-metragem até apresenta uma explicação, mas esta acaba soando batida e pouco convincente. Antes fosse apenas um fetiche.

Knock Meio 2

Com uma atuação vexatória de seu protagonista, o que nos faz sentir saudades de quando Reeves paquerava Sandra Bullock, perseguia Dennis Hopper e negociava com o Al Pacino, Bata Antes de Entrar é uma releitura de “Death Game”, uma obscura película de 1977, estrelada pela ex-amante de Clint Eastwood, Sondra Locke, em que duas mulheres judiam de um homem. A julgar pelo resultado desta nova obra, aquela velha discussão sobre se clássicos podem ou não ser refilmados, deveria ser estendida a filmes que fracassaram e, em sua época, não chamaram a atenção de ninguém. Nesse caso, fazendo um trocadilho com o título do filme de Roth, a criatividade nem quis bater à porta, passou longe.

Desliguem os celulares.

FICHA TÉCNICA:
Direção e produção: Eli Roth
Co-produção: Miguel Asensio, Colleen Camp, John T. Degraye, Cassian Elwes e Nicolás López
Roteiro: Eli Roth, Guillermo Amoedo e Nicolás López
Elenco: Keanu Reeves, Lorenza Izzo, Ana de Armas, Ignacia Allamand, Aaron Burns e Colleen Camp
Direção de Fotografia: Antonio Quercia
Edição: Diego Macho
Música: Manuel Riveiro
Duração: 99 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2015

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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