Crítica de Filme | Beasts Of No Nation

Pedro Somini

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18 de outubro de 2015

“A guerra está acabando com tudo. Todos que eu conheço estão morrendo, e então eu penso: se essa guerra acabar um dia, não posso voltar a fazer coisas de criança.”

Cary Joji Fukunaga já havia encantado a TV com sua espetacular direção na primeira temporada de True Detective, não satisfeito, o cineasta decidiu mudar os moldes do cinema contemporâneo ao dirigir e escrever esse Beasts Of No Nation, primeiro filme produzido pelo serviço de streaming Netflix, o que causou revolta nas grandes redes de cinema. Para o bem ou para o mal, o filme de Fukunaga é um verdadeiro soco no estômago.

Escrito pelo próprio Fukunaga, baseado no livro de Uzodinma Iweala, a história segue a jornada de Agu (Abraham Attah), um garoto que vive com sua família em um país africano tomado pela guerra. Após a morte de seu pai e irmão, Agu é adotado na tropa do Comandante (Idris Elba), um líder rebelde que decide ensinar ao menino como se tornar um soldado.

Não é fácil assistir ao longa. Com uma temática que remete ao exemplar Cidade de Deus, Beasts Of No Nation mostra uma realidade terrível na qual não só africanos, mas povos de várias partes do mundo (como não se lembrar dos sírios?) vivem diariamente. O roteiro acerta ao mostrar em seu primeiro ato a vida do jovem protagonista, que apesar de viver no meio de uma guerra, é feliz e possui uma família que o ama, por maior que sejam as dificuldades que passam. A morte de seu pai e irmão, não só abala Agu mas também  o espectador, que já se encontra envolvido com aquelas pessoas mesmo que por tão pouco tempo.

Abraham Attah mostra grande competência em sua estreia no cinema, seu Agu é carismático e ver sua transformação de uma criança boa e alegre em um soldado capaz de matar é terrivelmente cruel. Aliás, o filme procura ressaltar em diversas vezes em cenas como das crianças da tropa do Comandante brincando, que todos ali envolvidos não passam de vítimas das circunstâncias, afinal se Agu foi obrigado a se tronar um assassino, com certeza não foi diferente com os outros soldados.

E se Attah é uma bela surpresa, o que falar de Idris Elba? O ator britânico encarna o temível e carniceiro Comandante (seu nome não é revelado), um líder que consegue levantar moral de seu exército e que causa um grande sentimento de ambiguidade ao espectador (até determinada cena que de forma implícita mostra outra faceta do personagem).  Mas mesmo sentindo certa repulsa a sua figura, assim como Agu, ele também é uma vítima de toda a situação, um monstro criado pela guerra.

Com uma direção que alterna de momentos sensíveis aos mais brutais, Fukunaga nos presenteia um filme que não busca outra coisa além de mostrar uma fria e crua realidade. Beasts Of No Nation é um filme extremamente relevante, mostrando que apesar de ser capaz de estrangular e apertar um gatilho, uma criança continua sendo uma criança.

FICHA TÉCNICA

Título original: Beasts Of No Nation

Gênero: Drama, Guerra

Direção: Cary Joji Fukunaga

Roteiro: Cary Joji Fukunaga

Elenco: Abraham Attah, Idris Elba, Ama K. Abebrese, Gracy Nortey, David Dontoh, Opeyemi Fagbohungbe

Produção: Amy Kaufman, Riva Marker, Daniela Taplin Lundberg

Ano: 2015

País: Estados Unidos

Pedro Somini

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