Crítica de Filme | Carol

Leandro Stenlånd

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13 de janeiro de 2016

Baseado no romance The Price of Salt, de Patricia Highsmith (publicado originalmente em 1952), Carol se passa nos Estados Unidos da década de 50 e acompanha a trajetória de Carol Aird, uma mulher da alta sociedade nova-iorquina, que vive um casamento de aparências com Harge Aird, um rico e influente banqueiro local. A situação entra em colapso quando ela decide consumar o divórcio, embarcando em um relacionamento com Therese Belivet, uma jovem aspirante a fotógrafa com quem viverá uma intensa história de amor.

O amor e seus segredos! Há sempre aquela fronteira a ser quebrada que, para alguns, incomoda muito. Não é fácil abordar um romance, alias uma relação contundente e amorosa, entre mulheres e com um final feliz. Um dos primeiros grandes filmes do ano e claro, esta obra, dirigida por Todd Haynes, tem tudo para agradar a quem procura um romance legítimo, sem abdicar de uma discussão densa e extremamente relevante para o momento.

Sem dúvida, um assunto muito polêmico, principalmente dentro das igrejas e dos grupos de jovens hoje em dia. Expressar uma opinião segundo os preceitos de DEUS, para quem acredita, mas SEMPRE deixando bem claro que apesar de não concordarem biblicamente com tais práticas, respeitam a todos, homossexuais e lésbicas. Será tão fácil assim ou a hipocrisia não tem fronteiras?

17405465 Se, atualmente, tudo continua tão falso, o romance vivido por Cate Blanchett e Rooney Mara, tendo como pano de fundo os anos 1950, acaba sendo mais conturbado de um certo modo. O filme em si tenta, suavemente, mostrar como é possível haver respeito, carinho, doçura e muito mais quando realmente se gosta de alguém. A cidade de Nova York daquela época, com todos os preconceitos e ignorâncias em relação ao universo homossexual, visto como uma imoralidade absoluta e torpe, é o cenário perfeito para esta história, ainda mais levando-se em conta que Carol tem uma filha.

O romance que se desenvolve na trama é construído aos poucos, entre olhares sugestivos, diálogos ambíguos e, finalmente, uma viagem estonteante. Não há como não se apaixonar por este filme, aliás, não é por acaso que a cumplicidade é a primeira relação que elas estabelecem, ambas fugitivas de uma sociedade machista e homofóbica da qual não se sentem parte. É uma realidade atualíssima, apesar do longa se passar seis décadas atrás, e muitos dos questionamentos passados não perduram após tantos anos. A homossexualidade, nesta época, era considerada tabu, crime e de desvio mental. A “doença” gerou situações catastróficas para os envolvidos. É um filme de ator, já que, mais de uma vez, Cate Blanchett rouba a cena e se entrega sem pudores ou limites interpretativos, contracenando com uma Rooney Mara tão impecável quanto.

O elo entre Mara e Blanchet é ‘colorido’, bem natural e a interpretação das protagonistas divina. As duas começam a se relacionar e quando tudo está dando certo, os preconceitos da época e o ciúme do ex-marido, aliados ao fato de Carol ter sua amada filha, começam, então, a dificultar a relação entre as duas. Como se não bastasse isto tudo, para deixar o espectador ainda mais envolvido, Haynes constrói um mundo repleto de sutilezas onde qualquer passo diz muita coisa.

A película é ousada e intrépida. Enquanto muitos por ai se retraem num mundo coercitivo, fugindo de sua realidade, estampando uma  realidade paralela dentro de seus mundos, Cate e Rooney jogam na tela a maior e mais ardente forma de amor já vista até então. Todd Haynes torna-se o rei da delicadeza ao mostrar como o amor é o amor, independentemente da situação parece absurda hoje.filme-carol1Haynes é abusado e, particularmente, bem que tenta-se buscar explicações em relação a isso,  mas não é tão simples completar um raciocínio a respeito, aliás, muitos ainda vão ficar sem entender como o diretor foi capaz de tamanha proeza. Quando apenas uma mulher consegue despertar o desejo lésbico em todas outras mulheres, é como dizer que Carol, de certa forma, é o mais próximo de ‘Cinquenta Tons de Colorido’ (termalização vulgar), ou na forma mais afável – Cinquenta Tons do Real Amor. Parece bizarro e incoerente ou até mesmo desrespeitoso, mas se por um lado, quase todas as mulheres héteros gostariam que tudo que aconteceu em Cinquenta Tons de Cinza acontecessem com elas, quanto às lésbicas, é em Carol que habita a mais singela forma real de amor sem precedentes e que, certamente, qualquer pessoa se identificaria. O que faz a diferença neste drama é o fato de suas protagonistas não se deixarem abalar. O charme vai operar entre Carol e Therese, logo na primeira troca intensa de olhares, na loja onde a aspirante à fotografa trabalha. A atração mútua é revigorante até para aquele que assiste! Não há como não se envolver, pois estamos falando de um filme de Haynes.

Como se já não bastasse a atuação e a direção, a direção de arte transporta o público para época da história em uma perfeita combinação com os ótimos figurinos. A trilha sonora, igualmente linda e maravilhosa, sublima os momentos em que temos as duas protagonistas presentes. Este ar colorido e cheio de amor que respiramos precisava de uma trilha sonora bela, orquestral, original e muito intensa, justamente o que nos é fornecido com a intensa participação de piano e violinos.

Com toda sua força, e embora Carol tenha sido esnobada no Globo de Ouro, ainda que recordista em menções (Cinco, incluindo atrizes e diretor) é sim, de longe, o melhor filme de romance já visto em todos os tempos e o Filme é uma das maiores apostas para o Oscar 2016 e pode fazer com que Blanchett ganhe sua sexta indicação e a segunda de Rooney Mara.

FICHA TÉCNICA

Título original: Carol
Distribuição: Mares Filmes
Data de estreia: qui, 14/01/16
País: Estados Unidos, Reino Unido
Gênero: romance
Ano de produção: 2014
Duração: 118 minutos

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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