Crítica de Filme | Cássia Eller

Giselle Costa Rosa

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29 de janeiro de 2015

Cássia Eller vertia tesão e ternura à vida e às pessoas. O documentário sobre sua vida e obra Cássia Eller, realizado pelo diretor Paulo Henrique Fontenelle, percorre caminhos bem interessantes ao contar um pouco da intimidade desta cantora com um timbre de voz marcante, ampliando seu mundo para aqueles que não eram íntimos.

Fontenelle fez um filme bem estruturado, apesar de um início meio confuso. Ele nos permite adentrar ao universo dessa extraordinária intérprete que não se prendeu a nenhum estilo. Cantou blues, rock, música francesa, samba, baião, pop. Ousou e acabou caindo nas graças do público, após altos e baixos, cujo encontro profissional com Nando Reis foi essencial para dar rumo e consistência à carreira.

O longa é bem sucedido ao trazer surpresas para quem é fã e acompanhava a carreira e revelações para os simpatizantes. A narrativa muito bem estruturada, consegue nos arremessar para bem perto da vida da artista, de suas relações com amigos, esposa, filho e parentes. Talvez mais perto do que ela gostaria e menos do que o ideal para conhecê-la mais a fundo.

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Esse documentário com pegada jornalística não traz momentos sensacionalistas. No entanto, não faltam fatos intrigantes, engraçados e até mesmo surpreendentes. Destaque para o depoimento de Angela Rô Rô sobre a música composta por Cazuza, “Malandragem”, sucesso na voz de Cássia. É simplesmente hilário.

Cássia com seu pelo no sovaco e peitos de fora poderia ter lutado em várias frentes de batalha, mas preferiu viver e manter-se fiel consigo mesma. Sem levantar bandeiras, tornou-se ícone, abrindo precedentes, conquistando público fora do círculo LGBT com sua voz rasgada, imponente, certame e por que não viril?

Movida pela paixão de cantar, transpassar fronteiras nunca foi um problema para ela. No palco, a mesma menina tímida que odiava dar entrevistas, apresentava-se como uma força da natureza indomável. O belo trabalho do diretor Fontenelle expande Cássia para o público, por vezes uma meninoca fanfarrona, mas em geral recolhida e com pouco traquejo social para ofertar. Mas de tudo, pode-se dizer que não faltou coragem, agressividade, rebeldia, carisma, além de ternura em Cássia.

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O sorriso e as gargalhadas dela irão figurar ainda por um longo tempo no meio musical. Esse Ser ímpar, que viveu sem se preocupar com a opinião dos outros sobre seu modo de vida, transitou livremente entre as categorias da sexualidade impostas pela sociedade. Por isso, o documentário mostra que o legado deixado por ela é muito mais precioso e importante para nossa sociedade do que saber com quem ela dormia ou se morreu ou não em decorrência de uma overdose.

BEM NA FITA: o formato escolhido da narrativa sem apelações.
QUEIMOU O FILME: nada relevante.
TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
Título Original: Cássia Eller
Diretor: Paulo Henrique Fontenelle
Roteiro: Paulo Henrique Fontenelle
Elenco: pessoas convidadas – Nando Reis, Oswaldo Montenegro, Zélia Duncan, Angela Rô Rô.
Gênero: Biografia , Documentário
Duração: 120 min.
País: Brasil
Ano: 2015

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
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