Crítica de Filme | Cinquenta Tons de Cinza

Bernardo Moura

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11 de fevereiro de 2015

Imagine uma situação qualquer que você fica “pisando em ovos” e fica preocupado (a) com as reações de seu interlocutor após ter dito alguma coisa. Ou então, sabe quando você pega uma bala e chupa por engano o papel que a cobre sem querer? Pois é. Estas situações definem bem o filme Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey) esperado por fãs e haters, e que chega às telas do Brasil e do mundo a partir da próxima quinta, 12.

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Se você gosta de um bom filme de sexo, vá ver qualquer coisa menos este.  Dirigido pela diretora pouco conhecida do grande público, Sam-Taylor Johnson, aquela que fez “O Garoto de Liverpool” (2009), o filme inspirado no livro de astronômico sucesso de mesmo nome da autora E. L. James, conta a história de amor pegação e ódio entre Anastasia Steele e Christian Grey.  O longa possui uma boa trilha sonora. Afinal, um time de peso gravou ou cedeu músicas para o “filme mais badalado do ano” (#sqn). Tem Sia, Beyoncé, The Weeknd, Ellie Goulding, tem até música brasileira. Olha que beleza! Dê o play aí abaixo e continue lendo o texto:

Para quem leu a trilogia lançada em 2013, Anastasia é uma jovem pacata e virgem que frequenta a universidade fazendo seu curso de literatura inglesa. Por ter sido criada pelo padrasto, ela é uma moça muito problemática cheia de conflitos e mimimis. Chamamos de discípula de Maysa (“Ai, como eu sofro!”). Já Christian Grey é um jovem bilionário, com apenas 27 aninhos mas que parece ter vivido  40. Altamente reservado, confundido até como gay, ele já sofreu muito nesta vida, sozinho e calado. Como quase nunca teve ninguém para desabafar, o rapaz se fecha e quando encontra uma jovem morena de olhos claros fica sem saber o que fazer. Chamamos de discípulo de Coração Gelado (“Cala a boca, idiota”).

Então, se o filme era digno de esperança que fosse um pouco parecido com o livro e com todos os mimimis e risadas malignas do casal protagonista, esqueça! Cinquenta Tons de Cinza não é nada disso.  A começar pela escolha dos atores. James Dorman (aspira do Coração Gelado) me aparece com atuação mediana. Dakota Johnson (aspira da Maysa) simplesmente não convence como a mini-Maysa dos nossos imaginários (sim, estou aqui confessando que li o livro naquela época). Poderia ter sido qualquer outra atriz, até Emma Watson como havia sido cogitado.

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O segundo ponto é o roteiro. Simplesmente, ele não te permite embarcar na história. Creio que por ser um conteúdo “muito hard” nas 326 páginas do livro, a diretora deixou que fizessem gato e sapato do coitadinho do texto. Eu dividi-o em três partes: meio comédia pastelão, meio drama e 100% pornô soft.   No tom de comédia pastelão, o público dava gargalhadas de tão bobo que era. Incluem-se aqui as falas bem robóticas e prontas, dignas de cigano Igor (novela “Explode Coração”, da TV Globo, de 92). Acho que até as falas dos vídeos eróticos de um site qualquer são melhores. No drama, Maysinha chora rios e Gelado diz que ele não é normal. Quanto ao pornô soft, explicarei logo abaixo.

Portanto, o roteiro não sabe para onde vai. Logo, dificulta a imersão do espectador. Ah, e sem contar também que o mesmo tesoura cenas fantásticas do livro que simplesmente são citadas no filme ou nem dão o ar de sua graça. Por exemplo: a cena do jantar da família Grey, no qual Mia (Rita Ora) chega de viagem e Ana vai sem calcinha para a casa dos “sogros”. Como também a cena do sexo hard do banheiro, dentro da banheira. É tanto corte que o filme não provoca o efeito esperado.

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O terceiro ponto é, finalmente, a parte sexual.  Se você contar as cenas de sexo que têm no filme não somam nem 20 minutos. A primeira transa da garota é muito romântica (coisa que não acontece no livro). Nestas cenas, ela, claro, fica mais sem roupa do que ele.  Gelado só aparece de costas (desculpem, pessoal) em algumas partes. A melhor cena dos dois é quando eles vão para o tal Quarto dos Jogos (ou Quarto Vermelho da Dor), ao som de Beyoncé, que você escuta aí em cima. Aliás, uma observação muito relevante aqui: o tal Quarto dos Jogos é exatamente igual ao que a gente imaginou. Mas é pouco explorado. Gostaríamos de ter tido mais cenas, com mais closes. Mas só ficamos limitados a um certo campo visual. Uma pena!

Por isso eu volto ao que foi dito aqui no começo deste texto. A verdade nua e crua é que o filme de Cinquenta Tons de Cinza poderia render e ser bem melhor do que o livro, mas a diretora – e talvez o estúdio – ficaram preocupados com a opinião da sociedade. Ora, nós queremos choque! Queremos amarras! Queremos chicotadas! Queremos gemidos! Não uns meros gritos parecendo que estamos assistindo às pornochanchadas dos anos 60. Será que a diretora se inspirou neles para fazer este longa? Boa diversão!

BEM NA FITA: Trilha sonora.

QUEIMOU O FILME: Quase tudo.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: Fifty Shades of Grey
Gênero: Drama
Direção: Sam Taylor-Johnson
Roteiro: E.L. James, Kelly Marcel
Elenco: Andrew Airlie, Ann Wu-Lai Parry, Anna Louise Sargeant, Anne Marie DeLuise, Anthony Konechny, Brent McLaren, Callum Keith Rennie, Chad Fortin, Dakota Johnson, Dylan Neal, Eloise Mumford, Emily Fonda, Jamie Dornan, Jason Cermak, Jason Verner, Jennifer Ehle, Jo Wilson, John Specogna, Jordan Gardiner, Julia Dominczak, Kirt Purdy, Luke Grimes, Marcia Gay Harden, Matthew Hoglie, Max Martini, Megan Danso, Peter Dwerryhouse, Rachel Skarsten, Raj Lal, Reese Alexander, Rita Ora, Steven Cree Molison, Tom Butler, Victor Rasuk
Produção: Dana Brunetti, E.L. James, Michael De Luca
Fotografia: Seamus McGarvey
Montador: Lisa Gunning
Trilha Sonora: Danny Elfman
Duração: 125 min.
Ano: 2015
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 12/02/2015 (Brasil)
Distribuidora: Universal Pictures
Estúdio: Focus Features / Michael De Luca Productions / Trigger Street Productions
Classificação: 16 anos
Informação complementar: Baseado na obra de E.L. James.

Bernardo Moura

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