Crítica de Filme: Clube de Compras Dallas

Bruno Giacobbo

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21 de fevereiro de 2014

Em uma disputa repleta de histórias reais, onde cinco dos nove indicados ao Oscar são baseados em fatos verídicos, é natural que cada um se identifique com pelo menos uma delas. Particularmente, duas mexeram muito comigo: o drama vivido pelo capitão sequestrado em alto mar por piratas somalis e o sofrimento do escravo que não era escravo, mas foi escravizado, ficando 12 anos longe da família. Ambas são angustiantes. No entanto, a que mais me marcou foi a do cowboy que descobre ser portador do vírus da AIDS, em 1985, contada no cativante e redentor Clube de Compras Dallas, com estréia marcada para esta sexta-feira, dia 21 de fevereiro.

Dirigido pelo canadense Jean-Marc Vallée, o filme narra a saga de Ron Woodrof (Matthew McConaughey), um eletricista homofóbico, que, nas horas vagas, dava uma de cowboy em rodeios e tinha um fraco por belas mulheres. Culpá-lo por suas características é complicado, afinal, ele era fruto da sociedade em que vivia. Na cena inicial, Woodrof aparece discutindo com amigos a vida sexual de Rock Hudson, um antigo galã de Hollywood que acabara de assumir sua homossexualidade.

Até aí Clube de Compras Dallas seria uma história comum. Transportada para os nossos dias, encararíamos, no máximo, como o relato sobre um indivíduo preconceituoso. Entretanto, por se passar no meio dos anos 80 ela ganha outra dimensão. Naquela época, a maioria das pessoas acreditava que a AIDS era uma doença restrita aos homossexuais. Ou seja: Woodrof passa ser vítima da mesma discriminação que direcionava aos outros.

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Isolado, sem amigos, não podendo aproveitar seus dois maiores prezeres, ele cambaleia, tropeça e tenta negar a doença. Escuta da boca dos médicos que tem apenas 30 dias de vida. Que é melhor começar a se despedir de todo mundo, mas diz para si mesmo que não é possível, já que nunca se relacionou com outro homem. E, assim, vai levando e negando.

Até aí Clube de Compras Dallas seria uma história dramática. A virada do filme, o fato que o torna diferente, acontece quando Woodrof se convence do seu real estado de saúde. Ao pesquisar sobre o assunto, ele percebe o quanto estava errado e inicia uma luta desesperada pela vida. Deste momento em diante, assistimos a uma transformação gradual do protagonista.

Aos poucos, o indivíduo preconceituoso sai de cena para dar lugar ao homem generoso. Os remédios eram raros. O AZT, droga criada inicialmente para o combate ao câncer, ainda estava sendo testado. Com a ajuda do travesti Rayon (Jared Leto), Woodrof corre o mundo atrás de qualquer coisa que pudesse aumentar sua expectativa de vida. A busca é bem sucedida e juntos criam o clube que batiza o filme. Por uma anuidade de US$ 400, eles passam a fornecer medicamentos para outros aidéticos.

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Além da improvável amizade com Rayon, o relacionamento com outro personagem também é importante para mudança sofrida por Woodrof. Na primeira vez que vai ao hospital e tem a doença diagnosticada, ele conhece a médica Eve Saks (Jennifer Garner). Com o tempo, os três passam a viver um inesperado triângulo amoroso. Não há beijos ou sexo, os abraços são econômicos, mas fica no ar um sincero clima de amizade, solidariedade e companheirismo nascido nas horas difíceis.

Escrever sobre Clube de Compras Dallas é falar, obrigatoriamente, sobre Matthew McConaughey. Ao longo do último ano, este texano de 44 anos conseguiu se desgrudar do rótulo de protagonista de comédias românticas. Suas atuações em “Killer Joe”, “Amor Bandido”, “Obsessão” e “O Lobo de Wall Street” provam que, hoje, ele é um astro do primeiro time de Hollywood. Amplo favorito ao Oscar, uma derrota na cerimônia do próximo dia 2 de março só se compararia a de Denzel Washington, em 2000. Já a vitória poderá ser considerada um pouquinho nossa, uma vez que o próprio ator credita a esposa, a modelo baiana Camila Alves, o segredo de seu recente sucesso.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: O apelo da história. Matthew McConaughey. As lindas cenas protagonizadas por McConaughey, Leto e Garner.

QUEIMOU O FILME: Nada de relevante.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Jean-Marc Vallée.
Elenco: Matthew McConaughey, Jennifer Garner, Jared Leto, Denis O’Hare, Steve Zahn, Michael O’Neill, Richard Barkley, Dallas Roberts, Griffin Dunne, Kevin Rankin, Donna Duplantier, Deneen Tyler, J.D. Evermore, Ian Casselberry, Hispanic Orderly, Noelle Wilcox e Bradford Cox.
Produção: Robbie Brenner, Nathan Ross e Rachel Rothman.
Roteiro: Craig Borten e Melisa Wallack.
Duração: 117 min.
Ano: 2013.
País: Estados Unidos.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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