Crítica de Filme | Ela Vai

Bernardo Moura

Desde criança, sempre ouvi dizer que quando uma pessoa quer deixar tudo para trás, incluindo a família (esposa, marido, enfim…), basta falar a singela frase “Vou ali comprar cigarro” e nunca mais voltar. Ora, não sei os motivos de uma pessoa a querer abandonar a família e nunca mais vê-la pintada de ouro. Como também não sei por que o cigarro foi levado para esta história estranha. Por que não um whisky, uma melancia ou, vá lá, uma roupa?! Só sei que o cigarro sempre levou para mim a fama de vilão quando se quer abordar os assuntos: botar o pé na estrada, mudar de vida.

Mas isso tudo caiu por terra quando fui assistir nesta semana ao filme Ela Vai, dirigido por Emanuelle Bercot. A francesa Bettie, uma senhora na casa dos 60 anos, é dona de um restaurante de frutos do mar onde trabalha com sua mãe em uma pequena cidade francesa. A ex-miss Bretanha é uma viúva que ainda convive com os fantasmas do ex-marido morto num acidente e tem sua filha e seu neto longe da sua área de convivência, a quilômetros da cidadezinha onde ela vive. Fumante contumaz, ela percebe que está sem seu maço de cigarros e sai à caça de um novo maço para poder apreciar a paisagem ou pensar na vida, não importa. O que importa é que ela quer comprar os tais cigarros seja onde for. Por isso, o filme derruba esta ideia de que sempre ouvi desde criança. Bettie, cansada da sua vida pacata e rotineira, pega seu carro e vai caçando cigarros nas cidades próximas à sua. No caminho, ela vai conhecendo pessoas e tendo experiências com elas. Estas experiências acabam que mudando o seu jeito de viver, o seu olhar sobre a vida.

O filme possui uma linguagem de diário de bordo, pois te faz embarcar na viagem que a personagem-título enfrenta ao longo dos dias. E por se tratar de uma viagem, o roteiro do longa-metragem tem um fluxo de continuidade, de movimento. Afinal, você quer saber qual será o resultado final daquela história toda.

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Ao contrário do que muitos pensam, Catherine Deneuve nos mostra uma atuação fresca no vigor de seus 70 anos (a personagem). O mais interessante é que ela te deixa tão confortável na história que você pensa que ela é uma garotinha de 15 anos descobrindo a vida pela primeira vez.  Outro destaque também vai para Nemo Schiffman, o garoto que interpreta seu neto, Charly. Se fosse aqui no Brasil,  ele seria a Mel Maia de calças.

Bercot escorrega um pouco na edição das cenas dando um ar melodramático onde não tem, mas acerta em cheio na linguagem a ser definida na história. Como eu disse, ela dá uma sutileza  ao filme mesmo falando um assunto muito sério. Ela consegue nos fazer rir muito alto de situações muito bobas com Bettie que são impagáveis.

Além de Deneuve e Schiffman, Ela Vai conta ainda com Camille Dalmais, Hafsia Herzi, Valérie Lagrange. Portanto, este filme certamente entra para a lista dos bons filmes franceses: aqueles que mesmo depois de acabado, você não consegue se levantar da poltrona da sala de cinema.  Bom filme!

BEM NA FITA: Atuação impagável de Deneuve

QUEIMOU O FILME: Edição melodramática para a movimentação que é o filme

FICHA TÉCNICA

Direção: Emanuelle Bercot

Elenco: Catherine Deneuve, Nemo Schiffman, Camille Dalmais, Hafsia Herzi, Valérie Lagrange

Produção: Fidélité Films

Distribuidor brasileiro: Esfera Cultural

Gênero: Comédia Dramática

Duração: 93 min

País: França

Ano: 2012

Bernardo Moura

NAN