Crítica de Filme: Eles Voltam

Anna Cecilia Fontoura

Uma menina de 12 anos e seu irmão mais velho são abandonados pelos pais, no meio do nada, em uma estrada no interior de Pernambuco. É dessa forma impactante que começa o longa nacional “Eles Voltam”. Para fazer o espectador sentir os medos, angústias e as necessidades básicas que essa garota passa sozinha (não tarda para o irmão também a deixar para trás), o filme usa e abusa de uma variedade de planos. Essa foi a sacada genial dessa produção. Algumas vezes o público é transportado para o ponto de vista da personagem (o que certamente sensibilizou e automaticamente gerou empatia), outras vezes eram utilizados determinados planos que faziam com que a plateia tivesse a dimensão do tamanho das situações passadas pela menina (diga-se de passagem, ela não era muito de falar com os outros não…) . E assim, de forma estratégica, variavam-se os planos de acordo com a necessidade da mensagem que o roteiro queria passar… (isso acontece em qualquer filme, nem sempre de forma tão bem-sucedida quanto neste, é claro…). O resultado: A história flui de forma super natural. Mas, o que desejo mesmo enfatizar é que esse filme parece ser o resultado positivo de um trabalho dedicado, cuidadoso e harmônico de toda a equipe envolvida a julgar pela qualidade do conjunto da obra (esse lance dos planos variados é só a ponta do iceberg).

 Foto: Larissa Pinho Alves Ribeiro/ Divulgação

Foto: Larissa Pinho Alves Ribeiro/ Divulgação

Logo nos primeiros minutos o filme já me chamou a atenção. Achei interessante que até aparecer o título do filme, a produção flui de forma muito similar a um curta-metragem (se acabasse ali já seria um excelente curta!). Além disso, a proposta da trama, que é mostrar um determinado período na vida daquela garota e da maneira mais verossímil possível, é contada de uma forma muito sagaz e cheia de entrelinhas… Como foi mencionado acima, Cris é caladona, então utilizou-se uma variedade de recursos não verbais para ajudar a contar e enriquecer essa história. Além da ótima atuação de Maria Luiza Tavares, destacam-se trilha sonora que foi escolhida a dedo (muitas vezes falava mais pela personagem do que os próprios lábios dela), o mesmo se aplica a fotografia, que além de linda é milimetricamente relevante para narrar a história …

Não posso deixar de elogiar também o tocante roteiro de Marcelo Lordello (que também é o diretor) e as ótimas atuações, não só da protagonista, mas do elenco como um todo… A única ressalva que preciso fazer é a questão do sotaque nordestino, que foi primordial para garantir o realismo da trama, mas que vez ou outra dificultou só um pouquinho o meu entendimento (ok! falha minha, não vou descontar estrelas… hahaha).

Foto: Larissa Pinho Alves Ribeiro/ Divulgação

Foto: Larissa Pinho Alves Ribeiro/ Divulgação

“Eles Voltam” merece realmente todos os prêmios recebidos (deu até orgulho de ser brasileira hahaha). O longa foi vencedor do Festival de Brasília, em 2012, nas categorias Melhor Filme e Melhor Atriz (Maria Luiza Tavares). No 6º Festival de Triunfo, em 2013, conquistou Melhor Filme e Melhor Produção. Além de faturar também o Melhor Filme – Júri da Crítica da Abraccine.

O filme pode ser conferido nas telonas a partir de 7 de março.

BEM NA FITA: Ótimo roteiro, ótima fotografia, ótimas atuações com destaque para Maria Luiza Tavares, ótima trilha sonora… Filme de excelente qualidade!

QUEIMOU O FILME: Não é culpa do elenco, mas às vezes o sotaque pode dificultar o entendimento… Mas, o sotaque precisava ser usado para a verossimilhança do filme.


FICHA TÉCNICA:
Direção: Marcelo Lordello
Roteiro: Marcelo Lordello
Elenco: Clara Oliveira, Elayne de Moura, Georgio Kokkosi, Germano Haiut, Teresa Costa Rêgo, Irma Brown, Jéssica Silva, Maria Luiza Tavares, Mauricéia Conceição
Produção: Mannuela Costa
Fotografia: Ivo Lopes Araújo
Trilha Sonora: Caçapa
Duração: 95 minutos
Gênero: Drama

Anna Cecilia Fontoura

Jornalista graduada pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduada pela Universidade Cândido Mendes. Além de jornalista cultural, é redatora freelancer. Escrever é sua verdadeira paixão! Se considera uma pessoa determinada e criativa, porém um pouquinho sonhadora...
NAN