Crítica de Filme: Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida

Giselle Costa Rosa

Você sabe quando a intenção é boa, porém a proposta não sai como deveria. Essa foi a sensação ao assistir ao filme Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu tô Fazendo Com a Minha Vida. Matheus Souza, diretor e roteirista, visto como promessa de uma nova geração, que também assina o roteiro de “Confissões de Adolescente” previsto pra estrear em janeiro de 2014, tem talento, coragem, persistência e demonstra ser bem relacionado. Sua atual produção, custeada com recursos próprios, custou R$20.000,00, com a participação de vários atores e comediantes conhecidos; a anterior, “Apenas o Fim” (2008), R$8.000,00, com direito a Menção Honrosa do Júri Oficial do Festival do Rio.

Vale lembrar que ele também produziu a série quase desconhecida do Multishow chamada “Vendemos Cadeiras” (2010) com os também quase desconhecidos, na época, Gregório Duvivier – que nesse longa faz uma participação como nutricionista e Clarice Falcão, a protagonista.

O filme utiliza-se da cultura geek e pop para construção dos diálogos e como referencial. Esfrega na cara aquilo que todos já sabem: que juventude está perdida em tantas possibilidades e oportunidades. Imersa num loop de atualizações infinitas no facebook, instagram ou twitter. Potencialmente podemos ser o que bem entendermos e mudar de rumo quantas vezes forem necessárias ou quisermos. Com tanta coisa à frente, sendo oferecida de maneira tão fácil, sentir-se perdido vira regra. O que suscita um paradoxo. Jovem não combina com regra. Soltos, cheios de vida, com um mundo inteiro a ser conquistado, saber por onde começar se torna enlouquecedor; paralisa o sujeito na frente do seu computador, acorrenta-o ao smartphone ou abstrai o mundo ao redor jogando videogame. Mas, por vezes, até se divertir vira um fardo.

A repetição de cenas como do café da manhã, onde o enquadramento utilizado é sempre o mesmo ao filmar os familiares postos à mesa, demonstram que houve uma economia nos planos de filmagem. Bem, também não há muito dinamismo na história. Acompanhamos as indecisões de Clara (Clarice Falcão), estudante de medicina, por 90 minutos. Ela é o reflexo de uma geração desnorteada, perdida entre as perguntas/respostas sobre a vida e as possibilidades infinitas para as quais o mundo se abre. A atuação da Clarice não é crível. E, ao que parece, não evoluiu muito desde quando atuou no seriado “Vendemos Cadeiras”. Trabalho bom para a proposta na época. Com potencial pra ir mais longe, dessa vez ela decepciona.

Clara não se encontra enquanto médica, aliás, como nada. No primeiro dia do período letivo, mata aula e vai para um boliche onde conhece Guilherme (Rodrigo Pandolfo), contratado pelo pai para induzir clientes solitários a consumir mais. Ele logo se prontifica a ajuda-la na busca pela profissão ideal, entretanto, naturalmente se torna outra indecisão, porque para uma cabeça confusa meio ato basta. Vir de uma família toda composta de médicos é uma determinante. Assim como foi para ela, os demais também se viram impelidos a seguir por este caminho sem questionar. O humor que permeia durante todo o filme é raso. Piadas óbvias que não funcionam na maior parte do tempo, temos exemplos como o cardiologista com o coração partido, a confissão do neurologista de que todas as escolhas da sua vida foram erradas, ou mesmo o casal de obstetras totalmente desprovidos de traquejo na criação do filho que, sem limites, fora convidado a sair da escola por péssimo comportamento.

Acaba que a busca de Clara, regadas por canções indie e folk, trazendo em sua trilha sonora nomes como Nana, banda Hidrocor, Pélico, Silva e Tiê, trouxe sequências semelhantes às esquetes de humorísticos. E, definitivamente, nenhum dos personagens apresentado tinha a menor ideia do que estava fazendo de suas vidas a não ser mentir, principalmente pra si mesmos, que tudo estava indo bem.

BEM NA FITA: boa trilha sonora.

QUEIMOU O FILME: roteiro fraco, direção mediana, piadas prontas.

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FICHA TÉCNICA:
Nome: Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida
Direção: Matheus Souza (época de filmagem tinha 23 anos)
Roteiro: Matheus Souza
Elenco: Alexandre Nero, Augusto Madeira, Bel Garcia, Bianca Byington, Camila Amado, Clarice Falcão, Cristiana Peres, Daniel Filho, Gregório Duvivier, Kiko Mascarenhas, Leandro Hassum, Nelson Freitas, Rodrigo Pandolfo, Wagner Santisteban
Gênero: Comédia Dramática
Produção: Matheus Souza
Fotografia: Luísa Mello
País de Origem: Brasil
Ano: 2012

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN