Crítica de Filme: Feito Gente Grande
Giselle Costa Rosa
O filme Feito Gente Grande aborda de forma desnuda temas como a morte, o sexo e o divórcio nas famílias francesas de classe média baixa pelo ponto de vista de duas crianças. O roteiro, escrito pela também diretora Carine Tardieu, é uma obra que mistura drama e comédia. Conta a história de Rachel (Juliette Gombert), uma garotinha com poucos amigos. Seus pais, em pleno momento de crise matrimonial, lhe dão uma educação muito amorosa e ao mesmo tempo muito autoritária. Sua vida muda quando conhece Valérie (Anna Lemarchand), garota de sua idade, muito mais aberta às experiências da vida. As duas viverão juntas peripécias e descobertas ao longo da história, construindo uma bela amizade. Juliette Gombert e Anna Lemarchand são de uma naturalidade incrível em frente às câmeras, atuaram de forma competente e deram conta plenamente do desafio de seus personagens.
Em filmes franceses se costuma ver uma liberdade maior nesses assuntos, principalmente quando se fala sobre liberdade de escolhas do Ser Humano. O roteiro nesse ponto trava. E, de certa forma, faz o politicamente correto, fazendo escolha agradável que toda mulher classe média que trabalha fora e teve filho espera quando se encontra em grande crise matrimonial. Colette Gladstein (Agnès Jaoui) é a tal mãe/esposa, que enfrenta o corre-corre do dia a dia, dividindo seu tempo entre ser mãe, dona de casa e médica.
O perfil tradicionalista dessa família espelha os valores de uma parcela grande existente na França; assusta um pouco. Colette se perde no afã de dar conta de tudo. Não consegue atender às necessidades emocionais de sua filha ou de seus pacientes, muito menos atender às demandas de seu casamento. O relacionamento com o seu marido Michel Gladstein (Denis Podalydès) é polido, mas ineficaz quando se trata de sexo e cumplicidade. No meio disso tudo, Rachel sofre uma angústia constante por nunca ser ouvida ou ter espaço pra se colocar. Sua mãe então decide levá-la a psicóloga Madame Trebla, vivido pela atriz Isabella Rossellini. Fica claro que, além de sua filha, ela mesma necessita de apoio psicológico para enfrentar a situação no qual se colocou. Engraçado ver a mãe se apropriando do espaço da fala que seria de sua filha, aproveitando de um ouvido treinado para despejar seus problemas; sintomas de uma vivência pesada e sufocante. A situação é muito bem driblada pela Madame Trebla, que traça em dois minutos o problema da mãe e retoma o foco pra Rachel, que é quem mais sofre com angústias diárias por ainda não ter uma estrutura sólida constituída.
A questão é que ninguém está feliz nessa família, mas é certo que todos se amam. O Amor, nesse caso, não sustenta relações, sufoca desejos, tolhe liberdades de crescimento e escolhas. A opção do filme foi resolver o problema de forma tradicionalista. Meio decepcionante. Tinha um enorme potencial a ser explorado, mas o desfecho acabou sendo o mais fácil, ou melhor, o caminho do moralmente certinho. De qualquer forma, esse drama/comédia familiar conquistará o espectador de coração mole, pois apresenta de forma carinhosa os tropeços da vida real.
BEM NA FITA: ótimas atuações dos atores mirins, a forma natural como assuntos delicados foram tratados.
QUEIMOU O FILME: o roteiro não é tão consistente, pouca ousadia na direção.
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FICHA TÉCNICA:
NOME: Feito Gente Grande
NOME ORIGINAL: Du vent dans mes mollets
DIREÇÃO: Carine Tardieu
ROTEIRO: Carine Tardieu e Olivier Beer
ELENCO: Agnès Jaoui, Colette Gladstein, Denis Podalydès, Isabelle Carré, Isabella Rossellini, Juliette Gombert, Elsa Lepoivre, Judith Magre, Anna Lemarchand, Jean-Baptiste Tiemele, Hervé Pierre, Virgil Leclaire, Laura Genovino, Christian Hecq, Emma Ninucci, Emmanuelle Michelet, Guillaume Clemencin, Brice Fournier
EDIÇÃO: Reynald Bertrand, Nathalie Hubert, Sylvie Landra
FOTOGRAFIA: Antoine Monod
MÚSICA: Eric Slabiak
FIGURINO: Mélanie Gautier
PRODUÇÃO: Antoine Gandaubert, Fabrice Goldstein, Antoine Rein
ESTÚDIO: Karé Productions, Gaumont, Direct Cinéma
PAÍS DE ORIGEM: França
GÊNERO: Comédia
DURAÇÃO: 89 min
ANO: 2012