Crítica de Filme: Fruitvale Station – A Última Parada

Giselle Costa Rosa

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31 de janeiro de 2014

E lá se foram noventa minutos de ansiedade e apreensão. O diretor estreante Ryan Coogler, responsável também pelo roteiro, optou por iniciar o filme Fruitvale Station – A Última Parada pelo fim, de forma desfocada como uma gravação de celular com imagem meio tremida. De certo quem segurava o aparelho estava um tanto atordoado por testemunhar cenas de extrema brutalidade e violência.

O longa, premiado nos festivais de Sundance e Cannes (na seção Un Certain Regard), em 2013, traz uma abordagem político-social dos fatos verídicos que marcaram a noite de ano novo de 2008. Mostra que ser negro e desprovido de recursos materiais continua sendo bilhete certo para um mundo muitas vezes invisível aos olhos daquele que se recusa a perceber o cotidiano de pessoas como Oscar Grant, vivido pelo bom ator Michael B. Jordan, olhos expressivos e atuação bem natural. Tornou-se mais uma porta que se abre ao debate sobre a intervenção policial.

A história de Grant, baseada em fatos reais, vai sendo deflorada aos poucos. Pétala por pétala nos é apresentado quem é esse rapaz de 22 anos, pai de Tatiana (Ariana Neal) e namorado de Sophina (Melonie Diaz). Sua baixa qualificação profissional aliada às imprudências juvenis o levam ao crime. Na cadeia ele é só mais um negro que como tal o sistema o trata como animal. É nesse ambiente que vem à tona uma pequena mostra da truculência policial quando o detento é negro. A diferença de tratamento é gritante entre as etnias. Grant responde a uma provocação vinda de um branco, durante o horário de visita, e acaba sendo interpelado por quatro policiais. Com o outro preso nada acontece.

Suas passagens pela polícia não determinam o tipo de pai, namorado ou filho que ele é. Quando ele resolve se enquadrar ao sistema, o mesmo se fecha pra ele. A narrativa é bem crua, o texto é direto e traz um certo contorno manipulativo e sensacionalista. A mãe, interpretada por Octavia Spencer, consegue passar pro espectador como é ter um filho avesso às normas legais. Suas expressões de decepção e angústia são na medida e nos faz embarcar juntos.

Ao final, o que resta é o sentimento de tristeza e revolta que toma conta do ambiente e com ele as lembranças de diversos outros casos expostos na mídia de segregação, descriminação e despreparo das autoridades. Esse talvez seja o ponto chave da produção: o fato de todos estarem cientes de que esta realidade está institucionalizada pelo governo como tratamento padrão a negros e aos menos favorecidos.

BEM NA FITA: tornar uma morte anunciada num quase thriller ao acompanhar as últimas 24 horas de vida do rapaz negro.

QUEIMOU O FILME: uma forçação de barra ao descrever o personagem de Grant.

Trailer:

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FICHA TÉCNICA:
Nome: Fruitvale Station: A Última Parada
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Elenco: Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer, Kevin Durand, Chad Michael Murray, Ahna O’ReillyProdução: Forest Whitaker, Nina Yang Bongiovi, Ariana Neal.
Produção: Forest Whitaker, Nina Yang Bongiovi
Fotografia: Rachel Morrison
Montador: Claudia Castello, Michael P. Shawver
Trilha Sonora: Ludwig Goransson
País: Estados Unidos
Gênero: Drama
Duração: 90 min.
Ano: 2013
 
 

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
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