Crítica de Filme | Glauco do Brasil

Adolfo Molina

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9 de março de 2016

O tropicalismo foi um movimento proporcionalmente musical, mas acima de tudo, fora artístico. Fora importante pro cenário de teatralidade contemporânea e crítica da sociedade brasileira nas décadas de 60/70. As décadas sujadas pela censura mas que também foram abrilhantadas pela explosão artísticas nacional. E dentro da arte, lá em Bagé, no extremo sudoeste rio-grandense, havia Glauco.

O documentário “Glauco do Brasil” relata e polariza o sujeito artista, o sujeito crítico e a notória aptidão de explicitar a cultura do brasileiro. Entrevistas com familiares, artistas de mesma ou similar onda, exposição de suas gravuras e pinturas e, em paralelo, uma linha histórica do país em alinhamento com a evolução e mudanças de Glauco denotam a vida do bom-gaúcho (expressão famigerada), sua interpretação do Brasil, seus processos criativos e claro, seu legado, que é mais valorizado internacionalmente do que em sua terra mãe.

glauco do brasil

Terra mãe esta que Glauco amava retratar. O documentário primeiramente analisa o olhar dele e sua relação com os lugares que crescia e frequentava. Desde a suavização abstrata paisagista do lugar que nasceu, a expansão para o cerne nacional, a criação dos clubes de gravuras bageense e porto-alegrense. Depois, seu reconhecimento internacional, frustrações pessoas/artísticas e consequentemente, as mudanças na visão artística, onde ele começa a flertar com o hiper-realismo, fase onde seus olhares críticos à sociedade brasileira se inicia de forma crível.

A partir deste fato, em entrevistas com historiadores de arte, poetas, escritores e outros artistas, se começa a ver a aliança das pinturas de Glauco, a partir dos anos 70 e 80, com o tropicalismo. O uso de cores predominantes da bandeira nacional – verde, amarelo, azul e branco -, a construção física dos personagens cariocas, principalmente; o uso consciente da religiosidade e da miscelânea cultural de nosso povo, que cada vez mais aderia às influências estrangeiras. E a combinação destes elementos fazia de Glauco um analítico.

Índio demente

Do meio para o fim do documentário é onde iremos perceber o renome do artista. Suas exposições, seus quadros e sua atemporalidade artística. No entanto, caminha-se uma tendência de que Glauco era muito mais reconhecido internacionalmente do que no Brasil. Muito se justifica dentro do documentário que é por conta da restrição que faziam do seu nome ao tropicalismo, onde era esquecido dentro do movimento que o caracterizava.

Retratista, pintor e saudosista nacional: Glauco fincava seu avivamento através destes gêneros artísticos. É nas realizações que percebia a cultura, a originalidade e preciosismo patriarca. Seu patriotismo não era político, apesar da correlação ao movimento progressista. Seu amor ao país e ao Rio Grande do Sul era nas telas, nos quadros, nos seres humanos representados. É onde o estabelecimento do homem cria laços fortes com a arte.

FICHA TÉCNICA:

Título: Glauco do Brasil
Gênero: Documentário
Direção: Zeca Brito
Roteiro: Zeca Brito
Duração: 90 Minutos
Fotografia: Bruno Polidoro
Montagem: Jardel Machado Hermes, Virginia Simone
Produção: Anti Filmes, Boulevard Filmes, Damaya
Classificação: Livre

Adolfo Molina

Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!
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