Crítica de Filme: A Grande Beleza (visões antagônicas)
Colaboração
A Grande Beleza, filme vencedor do European Film Awards e indicado italiano para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, gerou bastante discussão entre nossos críticos.
O longa parece ser daqueles, ou ame, ou odeie. Por isso, vamos aqui publicar duas críticas em uma, com opiniões completamente antagônicas.
Confira as opiniões de Bruno Giacobbo (que adorou) e Bernardo Moura (que achou péssimo) e chegue à sua própria conclusão.
“Eu indico”, por Bruno Giacobbo – A vida é uma eterna festa. Uma bela festa, diga-se de passagem. Regada a whisky, champanhe e Cohibas. É assim que Jep Gambardella (Toni Servillo) leva sua vida. Ele não trabalha. Para não dizer que nunca fez nada, uma vez, há quarenta anos, Jep escreveu um livro chamado “O Aparato Humano”. Um enorme sucesso. De lá para cá, ele se dedica única e exclusivamente a viver como um príncipe renascentista, em plena Roma do século XXI.
Sétimo longa-metragem da carreira do italiano Paolo Sorrentino, A Grande Beleza retrata o estilo de vida da alta sociedade romana, os mundanos como são chamados no filme. Os cenários são as inúmeras festas no apartamento do protagonista, uma suntuosa cobertura de frente para o Coliseu, e outros lugares não menos abastados ou belos. Já os personagens são Jep e seus amigos, uma excêntrica trupe formada por tipos tão diversos quanto uma jornalista anã, entre outras figuras exóticas.
O uso do verbo retratar para definir a forma como Sorrentino mostra este mundo de luxúria é perfeito. Algumas pessoas podem até argumentar que a intenção era criticar, contudo, em apenas um momento, durante todo a película, se vislumbra uma crítica: quando um falido casal de condes é mostrado cobrando dinheiro para ir a um jantar. De resto, a forma como as lentes do cineasta captam o glamoroso e colorido universo da high society italiana está mais próximo da contemplação do que da censura. Periga o espectador deixar o cinema desejando ir a uma daquelas muitas festas.
Para despertar esta vontade no público, o diretor tem como trunfos a excepcional fotografia de Luca Bigazzi, sem dúvida nenhuma, uma das mais bonitas de todos os tempos, diálogos afiadíssimos, escritos pelo próprio Sorrentino (em parceria com Umberto Contarello), ótima trilha sonora e uma interpretação soberba de Toni Servillo. Em seu quinto trabalho com o cineasta, o ator recebeu, da Academia de Cinema Europeu, o prêmio de melhor intérprete de 2013. Com todos estes predicados, A Grande Beleza tem um único problema: seus 142 minutos.
Assistindo a esta obra de arte, me lembrei do escritor francês Charles Baudelaire. Em seu livro “Sobre a Modernidade”, um clássico do século retrasado lido até hoje em muitas universidades, ele discorre sobre o dândi. O dândi é um perfeito cavalheiro, um homem que vive de maneira leviana e superficial. Um pensador frívolo que ocupa seu tempo com lazer, atividades lúdicas, ociosas e tem obsessão pela classe. A descrição perfeita de Jep Gambardella. Tenho certeza que Baudelaire amaria deste filme, assim como tenho certeza que muita gente também amará.
Desliguem os celulares e boa diversão.
BEM NA FITA: A fotografia esplendorosa, o roteiro com diálogos afiadíssimos, a ótima trilha sonora e a atuação de Toni Servillo. A Grande Beleza já nasceu com cara de clássico.
QUEIMOU O FILME: Apenas a sua longa duração. Um corte de 20 minutos seria o ideal. No entanto, nem isto me fez amar menos o filme ou diminuiu a minha vontade de ter a mesma vida de Jep Gambardella.
“Eu não indico”, por Bernardo Moura – O filme A Grande Beleza é o “Páginas da Vida” italiano. E o diretor Paolo Sorrentino é o Manoel Carlos italiano. O filme indicado ao Globo de Ouro a filme estrangeiro expressa sem tirar nem por o jeito italiano de ser.
Jep é um jornalista, talvez escritor, que faz boas reportagens e que conhece as pessoas influentes de Roma inteira. O filme começa na comemoração dos seus 65 anos numa cobertura fantástica com muita champanhe e comida da boa. Ah, claro os homens e as mulheres gostosos da Itália (justamente estas pessoas que o jornalista entrevistou/conheceu ao longo de sua carreira). Jep chegou à Roma na casa dos 20 e nunca mais saiu.
O problema é que A Grande Beleza se torna A Grande Feiúra. Parece que o filme não tem um propósito em si, como a mulher que perdeu tudo de uma hora para outra e foi morar na casa da irmã de favor; ou o homem que vê sua mulher assassinada e vai em busca do matador. Ele apenas conta a história de vida de Jep. Um senhor de 65 anos que namora umas aqui e outras ali; dá festas em sua própria casa para os amigos; revê os amigos sumidos vez ou outra e acabou. Como disse lá em cima, o cotidiano singular.
Só que neste cotidiano, o espectador fica confuso, pois, a cada meia dúzia de cenas recomeça uma nova história dentro da história mãe (a vida do cara). Sem contar os elementos teatrais presentes que mais parecem coisas de outro planeta.
No mais, o filme possui atuações medianas e com uma trilha sonora espetacular (que te faz dançar na cadeira).
Deixem seus celulares ligados!
BEM NA FITA: Trilha sonora.
QUEIMOU O FILME: Sinopse fraca.
FICHA TÉCNICA:
Diretor: Paolo Sorrentino.
Elenco: Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli, Carlo Buccirosso, Iaia Forte, Giovanna Vignola, Pamela Villoresi, Galatea Ranzi, Franco Graziosi, Giorgio Pasotti, Massimo Popolizio, Sonia Gessner, Vernon Dobtcheff, Luca Marinelli, Dario Cantarelli, Pasquale Petrolo, Luciano Virgilio, Aldo Ralli, Giusi Merli, Isabella Ferrari e Anna Della Rosa.
Roteiro: Paolo Sorrentino e Umberto Contarello.
Fotografia: Luca Bigazzi.
Direção de Arte: Ludovica Ferrario.
Trilha Sonora: Lele Marchitelli.
Duração: 142 min.
Ano: 2013.
País: Itália e França.