Crítica de Filme | Guardiões da Galáxia

Pedro Lauria

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30 de julho de 2014

Há seis anos atrás um filme despretensioso sobre o Homem de Ferro (até então personagem “B” da Marvel”) foi lançado. O seu sucesso inesperado, muito devido ao carisma de Robert Downey Jr., fizeram com que uma pequena cena pós-créditos, na qual Tony Stark encontra com Nick Fury (Samuel L. Jackson) em uma lanchonete, se tornasse o início de uma das maiores séries de filmes e crossovers da história do cinema.

Seis anos depois, após encabeçar filmes com seus maiores personagens (lembrando que ela não detém a licença para cinema de Quarteto Fantástico, X-Men e O Homem Aranha), a Marvel se viu com um desafio: privilegiar a continuação de franquias já consagradas ou dar visibilidade a novos (e menos conhecidos) personagens? Com Capitão América 2 e Guardiões da Galáxia sendo lançados no mesmo ano – a opção ficou bem clara: fazer os dois. E se o primeiro filme confirmou o sucesso desses heróis já estabelecidos, cabia ao segundo provar se a empresa poderia ir além. Afinal, aceitar árvores indestrutíveis e guaxinins psicopatas no cinema poderia ser um pouco demais para o grande público.

Poderia. Se a Marvel estivesse levando uma premissa tão imbecil como a dos Guardiões da Galáxia a sério. Mas ela não levou. E por conta disso, ela não só fez o seu melhor filme como conseguiu transformar personagens dos quais o grande público nunca ouviu falar como Groot (Vin Diesel), Rocket Raccon (Bradley Cooper), Drax (Dave Bautista), Gamora (Zoe Saldana) e Star Lord (Chris Pratt) em figuras que certamente serão citadas entusiasticamente nos próximos anos.

O design dos personagens é fantástico.

O design dos personagens é fantástico.

Isso porque maior virtude de Guardiões da Galáxia é não ser um fruto do cinema de heróis do século XXI. Se utilizando do argumento de um garoto raptado por alienígenas (alguém lembra de O Último Guerreiro das Estrelas?) na década de 80 e que viria se tornar um saqueador interestelar (Star Lord) – o filme se permite a usar uma trilha composta inteiramente de “feel good musics” oitentistas e encher a obra com uma personalidade única. Unindo isso a uma veia cômica que impregna o filme em sua totalidade, temos uma obra que vai diretamente de encontro a estabelecida como padrão por O Cavaleiro das Trevas.

Falando nessa veia cômica, é preciso parabenizar a coragem dos produtores, roteiristas e do diretor de James Gunn em fazerem piadas extremamente non sense em momento de clímax da obra. Por várias vezes a obra chega ao limite do “ir longe demais” – mas nunca ultrapassa essa barreira – algo que não ocorreu com o terceiro filme da franquia do Homem de Ferro, por exemplo. Sejam os diálogos expositivos de Drax (genialmente explicados por um traço de sua personalidade), o humor negro de Rocket Raccon ou o humor canastrão de Star Lord, sempre estamos sendo bombardeados por eficientes gags que ajudam a não deixar o ritmo cair em nenhum momento. Isso sem falar de Groot, que rouba praticamente todas as cenas, com sua mistura de poder destruidor a mentalidade de uma criança de quatro anos.

É uma pena que alguns personagens, como O Colecionador, sejam pouco explorados.

É uma pena que alguns personagens, como O Colecionador, sejam pouco explorados.

Normalmente ao falarmos de filmes de heróis com tons bem humorados, um revés que se apresenta é o frágil vínculo emocional que criamos com os personagens. Porém, não é isso que vemos na obra de James Gunn: dos 5 personagens que compões os guardiões, quatro tem seus backgrounds razoavelmente estabelecidos e ganham pelo menos uma cena de desenvolvimento de suas tragédias pessoais (a exceção é Groot, mas isso se equilibra com a natureza quase animal do personagem), permitindo que no final da obra, nos importemos com todos eles. Muito diferente do que ocorre com personagens de maior escalão mas sem tanto carisma, como Thor ou o Gavião Arqueiro.

Voltando a falar das referências aos anos 80, elas não se restringem somente a trilha sonora e a narrativa, mas também ao fantástico design visual. Por se tratar de uma ópera espacial, no melhor molde Star Wars, a obra passa por uma série de diferentes locais – todos muito distintos e característicos. Seja o aspecto underground das minas de Knowhere (que lembram muito Marte de O Vingador do Futuro) ou minimalista da loja do personagem conhecido como O Corretor – em nenhum momento parece que estamos vendo um espaço sideral homogêneo – o que ajuda a dar um constante ar de descoberta as mais de duas horas de filme.

Quase a mesma coisa pode ser falada dos fascinantes personagens secundários, destacando Yondu e sua trupe de saqueadores engraçados, porém igualmente ameaçadores. Porém, o mesmo não pode se falar do vilão Ronan (Lee Pace) – genérico e pouco carismático (principalmente ao comparado com Drax, com quem compartilha algumas características) – apagado pela figura quase divina de Thanos, e do peculiar do Colecionador (Benício Del Toro) que apesar de interessante, aparece muito rapidamente, e provavelmente apenas foi jogado aqui para ser melhor desenvolvido na vindoura sequência. Entretanto, tal problema é minimizado pela presença diluída desses personagens em meio a tantos outros.

Esqueçam Os Vingadores. Conheçam a nova grande equipe de Super Heróis.

Esqueçam Os Vingadores. Conheçam a nova grande equipe de Super Heróis.

No fim das contas, o saldo é quase perfeito. E quando digo isso, não falo apenas que se trata do melhor filme da Marvel.

Falo também que se trata da melhor ópera espacial já feita desde O Império Contra-Ataca.

BEM NA FITA: Ótimos diálogos; Extremamente divertido; Personagens Carismáticos; Design inventivo; Repleto de pequenas referências para os fãs dos quadrinhos; A tecnologia 3D está ótima

QUEIMOU O FILME: Vilão genérico; Diversas cenas com pouca profundidade de campo fazem com que o 3D seja subutilizado

FICHA TÉCNICA:

Título original: Guardians of the Galaxy
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn e Nicole Perlman
Elenco:
Chris Pratt, Zoe Saldana, Vin Diesel, Bradley Cooper, Dave Bautista, Lee Pace, Benicio Del Toro, Glenn Close, John C. Reilly, Michael Rooker e Djimon Hounsou
Produção:
Kevin Feige, David J. Grant e Jonathan Schwartz
Fotografia: Ben Davis
Gênero:
Ópera Espacial; Comédia; Ação; Aventura
País:
EUA
Ano:
2014
Tempo:
121 min.

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
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