Crítica de Filme | Lucy (Visões Antagônicas)

Blah Cultural

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27 de agosto de 2014

Esperado com grande expectativa por fãs de super-heróis, Scarlett Johansson ou, simplesmente, por amantes de um bom filme de ação, Lucy chega ao Brasil nesta quinta-feira (28). Dirigido por Luc Besson (O Profissional, O Quinto Elemento), o filme gerou opiniões diferentes entre nossos críticos. Ainda que as notas não estejam tão distantes, a visão dos profissionais foi bem diferente, o que valeu essa crítica dupla.

Confira as opiniões de Talita Quinto (que se decepcionou) e Bruno Giacobbo (que adorou) e chegue à sua própria conclusão.

“ABAIXO DAS EXPECTATIVAS”, por Talita Quinto

O que aconteceria se fossemos capazes de utilizar mais que 10% da nossa capacidade cerebral? O que seria possível realizar com sua percepção ampliada em 30%, 60%, 100%?

É nessa premissa que o roteiro de Lucy se desenvolve e Luc Besson (O Quinto Elemento, 1997 e O Profissional, 1994) entrega para o público seu mais novo thriller de ação com uma pitada de ficção científica.

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E você pode questionar: Mas essa teoria já não foi revista e comprovada como um mito? Cientificamente sim, mas a proposta do diretor é interessante e levanta questões filosóficas para os espectadores mais atentos (ou otimistas, como eu, que tentam ver além e pensar qual era o objetivo do diretor) que vão além do plot principal do filme.

Scarlett Johansson encarna a heroína título, uma estudante americana em Taipei, China, que involuntariamente se torna mula de uma droga experimental para a máfia chinesa e recebe a missão de entregar essa “encomenda” na Europa.

Os planos da máfia saem do controle quando Lucy é atacada por um de seus capangas, o pacote recém implantado no corpo da bela se rompe e despejando o conteúdo em seu organismo, que é rapidamente absorvido, aumentando quase que imediatamente as funções cerebrais de Lucy, o que lhe garante total controle de seu corpo e mente. Isso a leva em uma busca desenfreada atrás de respostas, vingança e de uma solução para eliminar a droga de seu sangue.

A primeira metade do filme é repleta de metáforas visuais. Besson compara a captura de Lucy pela máfia á uma inocente presa de uma onça selvagem.

Destacando a delicadeza e ingenuidade inicial da protagonista. Mostra uma jovem, bonita, preocupada com seu dia a dia normal; brincos baratos, vestido de animal print, salto alto e a ressaca da noite anterior. Nada de excepcional, uma garota comum em meio a tantas outras.

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Essa percepção do mundo muda, quando sua memória é ampliada e ela pode ter acesso a lembranças de quando era apenas um bebê, ela pode conectar-se com o mundo, sentir e ouvir as pessoas a sua volta, manipular objetos e ler o pensamento de quem a interessa. Isso a transforma a ponto de questionar o que estamos fazendo com a vida que nos é dada, o que criamos e qual o legado que deixaremos quando não estivermos mais aqui. A mudança na personagem vai além da força física e inteligência, a consciência muda e consequentemente o rumo da história.

Como estamos falando de uma obra de Besson, não poderiam faltar muitas cenas de luta, tiroteios e efeitos especiais, que aliás, são elementos que encobriram o principal ponto do filme. O diretor mostra de uma forma superficial a evolução interna, psicológica de Lucy, ele não aprofunda a transformação sofrida por sua heroína, um caminho que talvez fosse mais interessante do que mostrar o poder de fogo dos chineses e a resposta destrutiva de Lucy.

Na segunda metade da história, somos apresentados a Morgan Freeman, que faz o papel de um professor de neurociência, que é procurado por Lucy com um pedido de ajuda. Freeman por sua vez, serve para o filme apenas para apresentar a teoria que sustenta o plot do longa, ele não entra efetivamente na história e assiste os acontecimentos de longe, sem interferir propriamente em nenhum deles.  Entretanto o ator é um deleite em seu personagem e cumpre sua função respeitavelmente.

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Neste ponto da história estamos na Europa, a cada estágio que o cérebro de Lucy amplia-se, o filme ganha um ritmo mais frenético, embalado por sua incrível trilha sonora, que guia os acontecimentos da história. Por outro lado, não conhecemos mais nenhum conceito sobre a ciência que envolve a trama, apenas os poderes que Lucy vai adquirindo enquanto atravessa a França em um derramamento de sangue. O longa levanta o dilema se Lucy ainda é humana a cada momento que ela continua a “evoluir”, novamente, pouco explorado.

O final possui um “Q” de inesperado para alguns, mas se você gosta e acompanha filmes sci-fi, provavelmente não será pego de surpresa. O filme não impressiona e usa fórmulas já conhecidas do grande público. Besson faz bom uso de sua atriz principal, não é a grande atuação da carreira de Scarlett, mas como a atriz versátil que é, entrega o que sabe fazer muito bem sem decepcionar.

Lucy entretém, mas prova que um personagem que possui muito poder não é necessariamente marcante. Desaponta quem tem expectativas muito altas, é um filme pipoca e passa longe dos grandes lançamentos do cinema em 2014.

BEM NA FITA: Trilha sonora e efeitos especiais.

QUEIMOU O FILME: Roteiro com desenvolvimento superficial, sem profundidade.

“REPLETO DE CONTEÚDO”, por Bruno Giacobbo

O filósofo alemão Georg Hegel escreveu que o encontro de duas ideias (tese + antítese) leva a formulação de outra mais elaborada (síntese). Sempre gostei desta teoria filosófica, pois ela nada mais é do que uma teoria historicista. Afinal, se pensarmos pelo viés histórico, foi desta forma que a humanidade evoluiu. O que eu não tinha imaginado, até agora pelo menos, era sua aplicação prática e clara no cinema. Disse bem, não tinha, já que é exatamente isto que o cineasta francês Luc Besson fez em seu último filme, Lucy, com lançamento nesta quinta-feira, dia 28 de agosto.

Ao contar a história de uma jovem americana, Lucy (Scarlett Johansson), que capturada pela máfia chinesa se vê obrigada a servir de “mula” para uma nova droga sintética, o diretor mistura elementos de alguns de seus trabalhos anteriores. É impossível classificar este longa-metragem em um único gênero. Ele é policial, drama, ação e ficção cientifica simultaneamente. Ele é um pipocão de qualidade que agradará ao público que busca, exclusivamente, entretenimento de primeira. E ele é, também, uma reflexão consciente sobre o homem e os seus limites.

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Quem quer perseguição de carros pelas ruas de Paris, como em Taxi (1998) e suas sequências, encontrará. Para quem gosta de filmes de tirar o fôlego e balas disparadas a esmo, como Nikita (1990) ou na duologia Busca Implacável (de 2008 e 2012, onde ele ataca somente de roteirista e produtor), estes características também estão presentes. Já para os fãs de O Quinto Elemento (1997), a melhor obra de Besson em relação aos efeitos visuais até aqui, Lucy é um fantástico tributo. Há ainda links visíveis com o trabalho mais recente do diretor, A Família (2013), e algumas de suas películas tidas como cults.

Esta mistura inusitada poderia ter descambado em uma salada russa de sabor ocre, mas não foi isto que aconteceu. Magistralmente, o cineasta conseguiu fugir do pastiche ao arquitetar uma trama que se não é crível (afinal, desde quando alguém se tornaria um super-homem, usando muito mais de 10% do cérebro, graças a tal droga sintética?), é desculpável devido ao seu viés científico e prende o espectador na cadeira do início ao fim.

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Vários são os fatores que mantém o público atado ao assento e despertam um encantamento quase que hipnótico. O primeiro deles é a fotografia deslumbrante que combina cenas de ação e imagens que mais parecem saídas de um documentário. Inicialmente parecem deslocadas, mas não estão. Já a montagem afiada, ágil, é fundamental para o ritmo do filme. Por último, a atuação magnética da protagonista Scarlett Johansson, uma espécie de versão feminina 2014 de Matthew McConaughey. Tudo o que ela toca vira ouro reluzente: Ela, Sob a Pele e por aí vai.

Se nos anos 70 a geração de cineastas americanos intitulada “Nova Hollywood” se inspirou na francesa “Nouvelle Vague” para criar uma nova forma de fazer cinema, a partir dos anos 80, Luc Besson se tornou o mais americano dos realizadores franceses sem, no entanto, jamais se esquecer de suas raízes. Por isto que seus filmes, muitas vezes, são espetáculos repletos de conteúdo. Este é o caso de Lucy.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: A inusitada combinação de diversos gêneros em um só. A fotografia deslumbrante casada com a montagem afiada, ágil e a magnética presença de Scarlett Johansson.

QUEIMOU O FILME: Nada.

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Ação
Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco: Amr Waked, Analeigh Tipton, Cédric Chevalme, Christophe Tek, Claire Tran, Frédéric Chau, Jan Oliver Schroeder, Mason Lee, Min-sik Choi, Morgan Freeman, Paul Chan, Pilou Asbæk, Scarlett Johansson, Yvonne Gradelet
Produção: Christophe Lambert, Luc Besson, Virginie Silla
Fotografia: Thierry Arbogast
Trilha Sonora: Eric Serra
Duração: 89 min.
Ano: 2014
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 28/08/2014 (Brasil)
Distribuidora: Universal Pictures
Estúdio: Universal Pictures

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