Crítica de Filme: Marina

Bruno Giacobbo

Eu cresci em uma casa onde sempre se ouviu música italiana. Meus avós, pais e familiares sempre valorizaram a cultura da velha bota. Nomes como Peppino di Capri e músicas como “Champagne” me trazem ótimas recordações. Entretanto, jamais tinha ouvido falar no cantor Rocco Granata. Isto, até receber a missão de escrever sobre Marina, em cartaz nos cinemas brasileiros a partir da próxima quinta-feira, dia 17 de abril.

Dirigido por Stijn Coninx e produzido pelo próprio músico, o filme mostra a trajetória do artista desde a infância pobre na região da Calábria, na Itália, até estourar nas paradas de sucesso com a canção que batiza a película. Filho de um ferreiro, com apenas oito anos, ele se mudou para a Bélgica quando o pai, Salvatore (Luigi Lo Cascio), assim como centenas de compatriotas, foi trabalhar em uma mina de carvão em busca de uma vida mais digna.

MARINA_Meio

Esnobado pelos garotos belgas, forçado a conviver basicamente com outros italianos, em um bairro que mais se assemelhava a um gueto, o pequeno Rocco tinha muitas chances de se tornar um delinquente ou, na melhor das hipóteses, seguir os passos do pai. Contudo, a seu favor, havia um diferencial: o dom para a música.

Uma produção belco-italiana, Marina chega ao Brasil na esteira do sucesso de Alabama Monroe (2013), o ótimo drama belga, capaz de levar os espectadores às lágrimas, que foi indicado ao Oscar deste ano. Em comum, os dois filmes têm a música como elemento central no desenvolvimento da trama. Todavia, as semelhanças terminam aí.

A história de Coninx é como tantas outras. Tem romance, pitadas de drama e um desfecho redentor com o objetivo de mostrar que as pessoas não devem desistir de seus sonhos. Além disto, é inegavelmente bem feita. Procure um grande defeito e não achará. Está tudo encaixadinho. Roteiro, montagem, fotografia e etc. E o que deveria ser bom acaba sendo ruim, pois reforça a incômoda sensação de mais do mesmo. MARINA_Lateral

Em contra-partida ao sentimento de que já vimos este filme antes, existem as atuações dos atores principais. Intérpretes do cantor em diferentes fases da vida deste, Matteo Simoni e Cristian Campagna ‘defendem’ seus papéis com maestria. Eles conseguem ser carismáticos e cativantes. A cena em que Granata faz amor com a personagem de Evelien Bosmans, é ao mesmo tempo delicada e muito divertida. Dá gosto de assistir.

Marina oscila com equilíbrio entre momentos leves, descontraídos e cenas mais dramáticas, em que acompanhamos os percalços vividos pelo protagonista, mas não é uma obra inesquecível. Excetuando-se pela música tema e outras belas canções que ressoarão na cabeça por alguns dias, logo entrará no rol daqueles filmes que temos dificuldade em lembrar do nome.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: As atuações de Matteo Simoni e Cristian Campagna. Trilha sonora. A bela cena de amor entre Simoni e Evelien Bosmans.

QUEIMOU O FILME: A incômoda sensação de que já vimos este filme antes. E, na verdade, já vimos. Ele é igual a tantos outros.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Stijn Coninx.
Elenco: Matteo Simoni, Cristian Campagna, Luigi Lo Cascio, Donatella Finocchiaro, Evelien Bosmans, Warre Borgmans, Jelle Florizoone, Chris Van den Durpel, Wim Willaert e Rocco Granata.
Roteiro: Rik D’Hiet e Stijn Coninx.
Produção: Peter Bouckaert, Rocco Granata, Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne.
Fotografia: Lou Berghmans.
Montagem: Philippe Ravoet.
Trilha Sonora: Michelino Bisceglia.
Duração: 100 min.
Ano: 2013.
País: Bélgica e Itália.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN