Crítica de Filme: A Menina Que Roubava Livros
Pedro Esteves
O que acontece quando juntam uma história que busca uma moral de livro de autoajuda com Hollywood? Resposta: A Menina Que Roubava Livros (adaptação de “best-seller” homônimo). A história se passa durante a segunda guerra mundial, em que uma jovem garota chamada Liesel Meminger, afastada de seus pais, sobrevive fora de Munique em uma nova casa com novos pais. Ajudada por seu pai adotivo, ela aprende a ler e através dos livros que rouba sobrevive e ajuda os outros em um tempo de morte e terror.
A história que tem um belo mote (não exatamente novo em um universo cheio de livros e filmes sobre crianças em determinados períodos históricos, como O menino do pijama listrado, A culpa é de Fidel, O ano que meus pais saíram de férias, etc.), com algumas cenas de bela humanidade, mas que é destruída pela mensagem, até certo ponto rasa, que se quer construir, pelos personagens também rasos e previsíveis e pelo excesso de “truques” hollywoodnescos.
A direção, feita por Brian Percival, diretor de episódios de “Downton abbey”, optou por uma paleta de cor com tons quentes desgastados e escurecidos e pitadas de preto e cinza (estes últimos tons são mais visto no cenário da cidade), muito comum em filmes de Hollywood que se passam nas décadas de 40 a 60, e uma fotografia burocrática. Os livros roubados pela menina, tão importantes na história contada, não trazem nada de novo para a imagem, tornam-se meros apetrechos na tela. A adaptação não trouxe para a linguagem cinematográfica a linguagem escrita, não explorando esta através daquela. Um grande problema acaba sendo o excesso de conservadorismo, que em muitos momentos levam o filme a parecer uma série de T.V., principalmente, na perda de ritmo. A adaptação acabou sendo meramente burocrática.
O roteiro em si é cheio de pegadinhas para o espectador, tentam enganar este com quebras repentinas de momentos dos personagens, por exemplo (spoilers): a cena que a mãe adotiva chega à escola e vai chamar a menina, todos sabemos que ela vai lá para dar uma notícia que pode ser boa ou má, mas quando ela entra na sala da menina ela faz uma cena de que está brigando com a menina, já sabemos que a notícia é boa e, alguns segundos depois, a boa nova se confirma. É tudo previsível, o que destrói as mais belas cenas do filme.
Outro ponto negativo do roteiro é que, apesar da inteligência da menina, os males da guerra ficam atenuados, como se ela fosse incapaz de viver todo o mal que estava acontecendo. Não que seja leve a história, estamos na segunda guerra mundial em uma família pobre, mas o mundo da garota parece mais encantado do que a inteligência dela permitiria. Talvez aqui esteja o ponto que transforma os livros roubados em mero coadjuvantes da trama, eles quase não trazem um encanto a um mundo devastado, com exceção de duas citações (spoilers): na cena em que ela lê para o amigo moribundo, mas só pela história contada, sem nenhuma força da linguagem cinematográfica, e quando a menina está no abrigo antibombas e conta uma história para acalmar as pessoas, desta vez a linguagem ajuda a construir a história.
Os personagens deste roteiro são tão rasos que só quem nunca leu um livro, ou nunca viu um filme, viu iguais. No entanto, vale nota a excelente atuação de Geoffrey Rush como Hans Hubermann, o pai adotivo, que mesmo com seu personagem bobalhão consegue impregnar alguma humanidade, transparecendo seus subtextos no olhar e na expressão. Também marca presença, não com tanta maestria, mas com qualidade, Emily Watson, como Rosa Hubermann, a mãe adotiva.
A mensagem final, que incentiva a leitura, acaba se transfigurando em uma moral de livro de autoajuda, ou de filme da seção da tarde. O filme acaba por se tornar um conto de fadas que poderia estar passando na sua T.V. sem problema algum.
BEM NA FITA: A excelente atuação de Geoffrey Rush e boa atuação Emily Watson.
QUEIMOU O FILME: A direção burocrática, o roteiro previsível de cheio de truques de segundo escalão, personagens rasos, a falta de importância dos livros na construção imagética e a moral de livro de autoajuda.
[embedvideo id=”tJ4ja3_r9pU” website=”youtube”]
FICHA TÉCNICA:
Nome: A Menina Que Roubava Livros (The Book Thief)
Gênero: Drama
Direção: Brian Percival
Roteiro: Michael Petroni
Elenco:Geoffrey Rush, Emily Watson, Sophie Nélisse, Nico Liersch
Produção: Ken Blancato
Fotografia:Florian Ballhaus
Montador: John Wilson
Trilha Sonora: John Williams
Duração: 131 min.
Ano: 2013
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 31/01/2014 (Brasil)