Crítica de Filme | Minutos Atrás
Anna Cecilia Fontoura
Minutos Atrás é um filme que ou você ama ou odeia! O longa apresenta elementos visuais que o faz parecer uma peça baseada em Literatura de Cordel devido ao clima de Realismo Mágico. E como não há mágica sem ilusão… A produção engana o espectador, por diversas vezes, a começar pelo fato de ser aparentemente despretensiosa, porém na realidade ser audaciosa. E essa “desonestidade” é justificada inclusive no texto quando o personagem Alonso (Vladimir Brichta) responde a Nildo (Otávio Muller) o porquê de passar maquiagem no rosto. “Eu tenho que disfarçar, né…. De cara limpa é perigoso a gente ser fiel ao que o resto do rosto da gente está contando para os outros. Ás vezes eu estou sorrindo, assim ó, de tristeza, e às vezes eu tô chorando é de pura felicidade. ”. E com aspecto (só aspecto!) de comédia non sense o filme acaba fazendo quem está assistindo rir dos defeitos humanos e da fragilidade do homem diante do tempo, da fome e da morte...
A simplicidade das falas de Alonso, porém com mensagens profundas foi o que mais me encantou em Minutos Atrás, apesar de eu ter curtido o conjunto da obra. “Afeto é aceitar o defeito do outro sem se afetar”. Essa frase (entre tantas outras que gostaria de ter anotado) é um dos exemplos que aparenta sabedoria popular, mas analisa relações humanas, emoções de forma tão efetiva.
O filme, que é atemporal, conta a história de três personagens que caminham numa estrada. Não se sabe de onde eles partiram e muito menos aonde eles chegarão (do próximo passo, nem eles mesmo sabem, para falar a verdade… Só sabem onde estiveram). Alonso é um cara extremamente racional e frio (que tem consciência que não deixou nada de útil ou precioso para trás) que só deseja seguir em frente. Já Nildo é completamente guiado pelas emoções e sentimentos. Impulsivo ao extremo (daí ser retratado como um idiota) por puro medo do desconhecido quer se apegar ao passado (mesmo não sendo esse dos melhores…). E o personagem de Paulinho Moska? Você deve estar se perguntando… Ele dá vida ao cavalo Ruminante (ora aparece um equino, ora aparece o músico) que puxa a carroça dos companheiros de estrada. Parece estranho, mas o personagem é uma espécie de ponto de equilibro nessa relação, até mesmo aquele que une. Além disso, ao longo da produção Moska faz uso de diversos instrumentos para enfatizar a trilha sonora. (É ou não é audácia pura? Hahaha). Cada personagem tem os seus conflitos internos e integram conflitos interpessoais. Dualidades são mostradas o tempo todo como Morte/Vida, Beleza/Feiura, Deus/Homem, entre muitas outras… O roteiro e o elenco são ótimos!
Devo confessar que as atuações me surpreenderam positivamente. Diante de uma produção cinematográfica que tem ares de teatro, cordel ou até circo, os atores não erraram no tom das interpretações. Lógico que foi necessário exagerar em olhares, caras e bocas (principalmente Vladimir Brichta fez isso!), mas foi essencial para haver uma harmonia com toda atmosfera criada …
“O lugar não chega em nós. Nós é que chegamos no lugar”. Essa frase norteia simplesmente toda a fotografia do filme. As paisagens são sempre em tons brancos e pasteis. Só quando há demonstração de tempo cronológico é que os raios do sol brilham e o céu e a cor se fazem. Os figurinos também acompanham essa ideia, exceto a carroça que tem até um tecido vermelho…
Apesar de tantos pontos legais, sacadas inteligentes e falas profundas, Minutos Atrás peca quando resolve adentrar no humor pastelão/físico. Desnecessário já que não é uma produção que vai conquistar o grande público… O humor é fundamental e está presente o tempo todo na trama (quebra inclusive momentos dramáticos), mas não precisava apelar. Além disso, durante o filme me questionei se não seria mais adequado esse texto sido uma montagem de teatro…
BEM NA FITA: Sacadas inteligentes , falas profundas, ótimo roteiro, ideia do filme é audaciosa, ótimo elenco e atuações. Enfim, parece Teatro!
QUEIMOU O FILME: Humor pastelão físico desnecessário… Se o filme foi praticamente uma excelente peça de teatro, porque está nas telonas e não nos palcos?
FICHA TÉCNICA: Título: MINUTOS ATRÁS Gênero: Ficção Duração aproximada: 100 minutos Roteiro: Caio Sóh Direção: Caio Sóh Elenco: Vladimir Brichta Otávio Muller Paulinho Moska Produzido por: Luana Lobo Produtores executivos: Luana Lobo e Caio Sóh Produtores associados: Vladimir Brichta, Otávio Muller, Paulinho Moska, André Abujamrra, Hamsa Wood, Fernanda Martins, Marcos Nisti e Estela Renner Realização: Sinceramente Cínicos e Maria Farinha Filmes Distribuição no Brasil: H2O Films Codistribuição: RioFilme