Crítica de Filme: Muita Calma Nessa Hora 2

Bruno Giacobbo

Há um pouco de tudo. Um fã do grupo “Chiclete com Banana”, uma dupla de mafiosos (ou seriam traficantes, sinceramente, não sei) que arranha um portunhol incompreensível e dezenas de outros tipos caricatos. Ah, como esquecer o saudoso Paulo Cintura, da finada “Escolinha do Professor Raimundo”? Não, é impossível não lembrar de tão relevante personagem da dramaturgia nacional. Em resumo, Muita Calma Nesta Hora 2, com estreia marcada para esta sexta-feira, dia 17 de janeiro, é uma salada russa, uma reunião de tipos e estereótipos perdidos em um filme bastante confuso.

Incentivado pelo sucesso do primeiro longa-metragem, que arrastou mais de um milhão de espectadores para os cinemas, em 2010, o diretor Felipe Joffily decidiu levar para a tela a continuação da saga de Tita (Andréia Horta), Estrela (Débora Lamm), Aninha (Fernanda Souza) e Mari (Gianne Albertoni). Contudo, a avidez por robustas bilheterias deve ter impedido todos os envolvidos no projeto de perceberem que a história só faria sentido se houvesse uma trama minimamente plausível. muita calma nessa hora cartazSe no primeiro filme elas decidem ir para Búzios com a intenção de relaxar, deixar um pouco de lado os problemas do dia a dia, neste não há absolutamente nada que as conecte.

Desempregada, Tita acabou de voltar de Londres onde fez cursos de fotografia e trabalhou como garçonete. Com a intenção de se divertir, resolve ir a um festival de música. Estrela também estava viajando, mas não para estudar ou trabalhar. Foi ao enterro da avó recém falecida. De volta ao Rio, decide passar um tempo na pousada de seu pai, Pablo (Nelson Freitas). Logo no início do filme, Aninha está em Búzios. Confusa quanto ao que fazer da vida, consulta uma cartomante picareta. Como por um golpe de sorte, recebe uma proposta de emprego ao ligar para a amiga Mari, uma das organizadoras do “Som do Rio” – o tal festival onde Tita decidiu se divertir. E perto de onde fica a pousada do pai de Estrela? Claro, do local em que acontecerão os shows.

Após o “mágico” reencontro das protagonistas, uma sucessão infindável de personagens entra e sai de cena, na maioria das vezes, sem propósito algum. Este é o caso, por exemplo, do tal fã do Chiclete com Banana (Lucio Mauro Filho). Que diferença ele faz para a história? Nenhuma. Já outros até influenciam no rumo do filme, mas são ruins demais. Vivido pelo humorista carioca Marcelo Adnet, o paulistano Augusto Henrique incomoda com um simples abrir de boca. Seu sotaque é irritante e estereotipado.

muita calma nessa hora 2

A rocambolesca, confusa e improvável trama chama ainda mais atenção por ter sido escrita por Bruno Mazzeo. Não estamos falando de um roteirista qualquer e, sim, de um dos grandes expoentes da nova comédia nacional. É complicado acreditar que alguém tão talentoso tenha escrito algo assim.

No meio do caos reinante em Muita Calma Nesta Hora 2, algumas poucas coisas se salvam. As atuações de Maria Clara Gueiros, Daniel Filho e Raphael Infante; uma óbvia e divertida paródia do grupo “Los Hermanos” e uma cena que homenageia o clássico dos clássicos, “O Poderoso Chefão” (1972). Contudo, nada disto é capaz de salvar o filme do desastre. Se na próxima sexta-feira vocês não tiverem nada para fazer, peçam uma pizza e fiquem em casa.

Desliguem os celulares.

BEM NA FITA: Pouquíssimas coisas.

QUEIMOU O FILME: Praticamente tudo.

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FICHA TÉCNICA:

Diretor: Felipe Joffily
Elenco: Andréia Horta, Fernanda Souza, Gianne Albertoni, Débora Lamm, Raphael Infante, Nelson Freitas, Marcelo Adnet, Bruno Mazzeo, Heloísa Périssé, Alexandre Nero, Maria Clara Gueiros, Daniel Filho, Nizo Neto, Lucio Mauro Filho, Alexandra Richter, Paulo Silvino, Marcelo Tas, Marco Luque, Hélio de LaPeña e Luis Lobianco e Marcelo D2
Produção: Bruno Mazzeo
Roteiro: Bruno Mazzeo e Lusa Silvestre
Montagem: Marcelo Moraes
Duração: 90 min.
Ano: 2013
País: Brasil

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN