Crítica de Filme | My Name is Now, Elza Soares

Bruno Cavalcante

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16 de novembro de 2015

No último dia 14 de novembro estive presente no Festival Mimo, que desta vez aterrissou na Cidade Maravilhosa, e com isso tive a oportunidade de conferir o documentário My Name Is Now, Elza Soares, dirigido por Elizabeth Martins Campos.

O filme traz uma abordagem única e diferenciada de tudo o que já poderíamos ter visto desta diva do black-samba-soul brasileiro. Elza Soares está no centro dos holofotes, totalmente nua e desprovida de qualquer pudor ao falar sobre tudo o que passou em sua vida. O projeto põe Elza de frente para um espelho, falando para ele, mas ao mesmo tempo discursando e fazendo um desabafo literal, se desfazendo de todo e qualquer sentimento de culpa e hipocrisia que lhe impuseram ao longo de sua trajetória.

Elza sempre foi conhecida por ser uma mulher de fibra, forte, guerreira, que passou por poucas e boas nessa vida, mas que nunca se deixou abalar por conta disso. O documentário aborda muito esse lado, a força desta grande cantora, que mesmo tendo sofrido preconceito por ser mulher, negra e pobre, nunca deixou de correr atrás de seus objetivos e hoje tem orgulho de ser quem é.

Com um plano totalmente fechado, iluminando somente o rosto de Elza, característica da videoarte, muito usado no cinema mineiro, a artista encara a realidade de forma bastante altiva, parafraseando a sabedoria de uma mulher que chegou aos 78 anos de idade, tendo a perfeita clareza do lugar que lhe foi garantido. No entanto, ao mesmo tempo que este espelho nos faz enxergar uma Elza determinada e segura de si, ele também nos mostra o lado sofrido da artista, que carrega consigo uma profunda tristeza, principalmente em relação a morte de seus três filhos. Ela confessa que quando seu primeiro filho se foi, devido a um acidente automobilístico que ocorreu no ano de 1986, um grande vazio e sentimento de impotência lhe pairou sobre a cabeça. Sua vida a partir de então nunca mais fora a mesma.

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O documentário faz menções a grandes acontecimentos da vida da diva, como seu romance com o jogador Garrincha, seu envolvimento com as drogas depois da notícia da morte de seu filho, que resultou em um uso abusivo de cocaína e uma vontade louca de querer morrer. Em relação à música, vemos uma Elza mais madura, com uma voz menos potente e habilidosa em relação a seus tempos áureos, mas ainda sim característica. No vídeo, a cantora abusa da técnica do “scat singing”, uma prática que consiste no uso de palavras sem sentindo como meio de improviso, muito popular também com astros como Ella Fitzgerald e Louis Armstrong.

A verdade é que My Name Is Now, Elza Soares não é um documentário do tipo informativo, ele na verdade segue por um caminho mais reflexivo do que qualquer outra coisa, sem traçar uma linha narrativa cronológica, aliás uma coisa que me incomodou bastante, não o fato de não ter seguido uma ordem, mas a maneira como tudo foi trabalhado. As vezes sentia uma sensação de desconforto e de que aquilo nunca mais fosse acabar. O uso repetitivo de imagens aleatórias, que fizessem uma certa ligação com o tom obscuro e enigmático do filme poderia ter sido usado de uma maneira um pouco mais ponderada e mais agradável aos olhos do público. De fato quem não é muito fã desse tipo de pegada não consegue assistir até o final. Não foi à toa que muitas pessoas deixaram a sessão antes do término.

No mais, acredito que o filme de Elizabeth Campos tenha cumprido o seu papel. Trouxe uma Elza Soares bastante segura, sem medo de ter se tornado uma caricatura de si mesma, dizendo e fazendo coisas que certamente não seriam exibidas no horário nobre da TV da “família tradicional”. Esta é a Elza do “now”, pois como ela mesma diz:  “eu nasci agora, parece que estou começando agora, que é a minha primeira música”. Com certeza vale uma espiada.

FICHA TÉCNICA

Título original: My Name Is Now, Elza Soares

Gênero: Documentário

Direção: Elizabeth Martins Campos

Roteiro: Elizabeth Martins Campos e Ricardo Alves Jr.

Elenco: Elza Soares

Produção: Elizabeth Martins Campos

Fotografia: Paulo Giron

Música: Elza Soares

País: Brasil

Duração: 71min

Ano: 2014

Distribuição: IT Filmes

Bruno Cavalcante

Meu nome é Bruno Cavalcante, sou formado em publicidade e propaganda, carioca, escorpiano, apaixonado pela vida e por cinema também. Meu gênero preferido é o terror, mas gosto e vejo de tudo um pouco.
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