Crítica de Filme | O Clube

Larissa Bello

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19 de junho de 2015

O Clube que dá título ao filme diz respeito a uma casa que abriga sacerdotes que estão banidos de suas funções devido a graves crimes que cometeram. Crimes estes que ferem não só os preceitos católicos-religiosos, como também os preceitos éticos-morais-humanos. A casa funciona como uma espécie de isolamento e penitência para que esses padres sejam impedidos de exercerem suas funções sacramentais perante qualquer comunidade.

Almodóvar havia feito algo parecido quando lançou “Maus Hábitos” (Entre Tinieblas, 1983), que abordou, só que de maneira extremamente irônica e sarcástica, a vida de um grupo de freiras que tinham um passado nebuloso e que se autointitulavam-se com nomes feios para reforçarem suas penitências.

Enquanto o filme de Almodóvar usa a igreja católica como pano de fundo para exalar o seu humor ácido e divertido, Larraín prefere carregar no tom sério e dramático para mergulhar em uma áspera e dura crítica a hipocrisia contida no catolicismo.

No dia seguinte da exibição do filme, houve um debate com o ator Alejandro Goic, que interpreta um dos padres residentes da casa-clube em questão. Alejandro é conhecido por filmes como “A Criada” (La Nana, 2009) e “Glória” (idem, 2013).

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Ao falar de seu personagem, o ator lembra de um caso ocorrido no Chile a respeito do padre Joignant. Ele foi um sacerdote que era procurado por jovens chilenas ricas que estavam grávidas e, por algum motivo não podiam, ou não queriam ter seus filhos. O padre então dopava essas jovens e fazia seus partos. Depois dizia que a criança havia nascido morta e entregava o bebê para uma outra família. Até hoje após o conhecimento do procedimento criminoso do padre, várias mães ainda estão à procura de seus filhos. O ator ficou emocionado ao lembrar dessa história, mas disse que o diretor pediu que ele não usasse tal caso como referência para compor o seu personagem, no entanto, a referência é inevitável.

Por esses e outros tantos motivos o filme do Larraín é extremamente pertinente em sua abordagem. Como o ator diz é um filme que critica a Igreja Católica de uma maneira mais abrangente e profunda, para fazer refletir a relação de poder que está atrelada a força representativa dela quanto uma instituição que, assim como qualquer outra, não está imune as corrupções que ocorrem nos mais variados níveis hierárquicos nela contidos. Porém, as violações que se cometem não estão vinculadas somente as questões materiais, mas de caráter e de essência daquilo que é mais profundo no ser humano.

FICHA TÉCNICA

NOME ORIGINAL: El Club
PAÍS DE ORIGEM: Chile
DURAÇÃO: 98 min
GÊNERO: Drama
ANO: 2015
DIREÇÃO: Pablo Larrain
ROTEIRO: Daniel Villalobos, Guillermo Calderón
EDIÇÃO: Sebastián Sepúlveda
FIGURINO: Estefanía Larraín
PRODUÇÃO: Juan de Dios Larraín

Larissa Bello

Graduada em Rádio & TV. Pós-graduada em Leitura e Produção Textual. Capixaba, residiu por 8 anos no Rio de Janeiro, onde atuou em diversas áreas do audiovisual. Atualmente reside em Fortaleza/CE, onde é afiliada da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) e é autora do blog Cine em Foco (https://cineemfoco.blogspot.com/).
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