Crítica de Filme: Os Suspeitos

Bruno Giacobbo

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18 de outubro de 2013

Havia uma grande expectativa em torno de Os Suspeitos, o primeiro filme do diretor canadense Denis Villeneuve, em Hollywood. Algumas resenhas iniciais o compararam ao maravilhoso “Seven”, de David Fincher, que assombrou o mundo no distante ano de 1995. Por isso, o receio de que os comentários fossem exagerados, e daí viesse à decepção, era grande. No entanto, a expectativa se justificou. O longa-metragem estrelado por Hugh Jackman e Jake Gyllenhal é, até agora, o melhor suspense policial de 2013.

No Dia de Ação de Graças, duas famílias, os Rover e os Birch, se reúnem para passar o feriado juntas. Tudo transcorre bem até as meninas Anna Dover (Erin Gerasimovich) e Joy Birch (Kyla Drew Simmons) irem brincar sozinhas na rua. Como em um passe de mágica, elas desaparecem sem deixar pistas. Keller (Jackman) e Grace (Maria Bello), Franklin (Terrence Howard)  e Nancy (Viola Davis), respectivamente, pais de Anna e Joy, recorrem à polícia que envia o detetive Loki (Gyllenhaal) para investigar o desaparecimento. Com o passar do tempo, cada vez mais desesperado, Keller decide agir por conta própria sequestrando Alex Jones (Paul Dano), o único suspeito.

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Fundamentalmente, a força de Os Suspeitos se deve a dois fatores: ao excelente roteiro de Aaron Guzikowski e as interpretações, a começar por seu protagonista, Hugh Jackman. Após de ser indicado ao Oscar por “Os Miseráveis” (2012), era normal esperar que ele não emplacasse um trabalho do mesmo nível logo em seguida. E não emplacou. Na verdade, ele se superou. A dor vivida por Keller Dover é real. Não parece apenas fruto de uma interpretação convincente. O lado escuro do personagem, capaz de qualquer coisa para encontrar a filha viva, aflora de um jeito assustador. Seu nome entre os indicados para a cerimônia do próximo ano é de uma obviedade a toda prova.

Já a atuação de Gyllenhaal começou um tanto quanto claudicante. Ou, pelo menos para mim, assim pareceu. Em uma de suas cenas, ao escutar o relato da personagem de Maria Bello, o detetive Loki mexe no celular completamente alheio ao que ela está dizendo. Achei desnecessário. Só depois entendi que aquele detalhe era importante para a composição do personagem. De pouco interessado a tão ou mais obcecado do que Keller pelo caso. Em relação ao restante do elenco, destaque para Viola Davis e Paul Dano. Todos estão muitíssimo bem, mas estes se sobressaem.

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O roteiro de Guzikowski merece um parágrafo à parte. Em histórias com estas precisa-se ter bastante cuidado. Pistas são espalhadas e a graça é desafiar o público a juntá-las. Ou ser surpreendido no final. Para que o objetivo seja alcançado, nem um furo pode existir. Tudo tem que ser explicado e fazer sentido. Um quebra-cabeça dos mais difíceis. E o autor conseguiu de um jeito impressionante: iniciar com a oração do “Pai Nosso”, proferida por um Jackman solene, mas em uma situação banal, que é ensinar o filho a matar seu primeiro cervo, foi de grande ousadia para um quase novato. Esta é apenas a segunda trama de sua autoria. Ali, ele começou a me ganhar.

Não dá para sentir as 2h30 do longa. Fica um gostinho de quero mais na boca. Daqui para frente, não será possível passar os olhos de forma indiferente pelos nomes de Villeneuve e Guzikowski. Seus próximos trabalhos serão aguardados com um misto de expectativa e ansiedade, assim como aconteceu com Os Suspeitos devido à comparação com “Seven”.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: Tudo. O roteiro, as interpretações, a direção de Denis Villeneuve, difícil apontar apenas uma qualidade.

QUEIMOU O FILME: O contrário de tudo.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Denis Villeneuve.
Elenco: Hugh Jackman, Jake Gyllenhaal, Maria Bello, Terrence Howard, Viola Davis, Paul Dano, Melissa Leo, Erin Gerasimovich, Kyla Drew Simmons, Dylan Minette, Zoe Borde, Wayne Duvall, Len Cariou e David Dastmalchian.   
Roteiro: Aaron Guzikowski.
Produção: Kyra Davis, Broderick Johnson, Adam Kolbrenner e Andrew Kosove.
Fotografia: Roger Deakins.
Montagem: Joel Cox e Gary Roach.
Direção de Arte: Paul D. Kelly.
Duração: 153 min.
Ano: 2013.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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