Crítica de Filme: Pais e Filhos

Bruno Giacobbo

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9 de janeiro de 2014

A película é japonesa, mas a sua história universal. De fácil empatia. Troca de filhos na maternidade é um assunto que, infelizmente, se vê (quase) a qualquer hora na imprensa ou nas novelas. Desta forma, Pais e Filhos, de Hirokazu Koreeda, que estreia nesta sexta-feira, dia 10 de janeiro, bem que poderia ser mais um melodrama retratando o mundo cão. Contudo, ao longo das suas duas horas, ele se revela um filme belo e tocante.

Escrita pelo próprio cineasta, a trama mostra duas famílias que tiveram bebês no mesmo dia, os Nonomiya e os Saiki. Tudo seguiria seu curso normal se, seis anos depois, o hospital não descobrisse a tal troca das crianças. O que fazer agora: continuar como está ou desfazer a confusão? Deste ponto em diante, com enorme sensibilidade e delicadeza, o filme passa a girar em torno de uma velha questão: Pais são aqueles que geram ou são aqueles que criam?

Pais&Filhos_2013

De cara dá para perceber que há diferenças gritantes entre os Nonomiya e os Saiki: os primeiros são ricos, podem proporcionar estudo e comprar brinquedos melhores. Os segundos levam uma vida um pouco mais modesta como donos de um pequeno comércio. Em compensação, quando se trata do amor, do carinho e da atenção dedicados aos filhos, existe uma clara inversão de valores.

Intercalando cenas que mostram o cotidiano das duas famílias, Koreeda manipula com maestria o sentimento do público. Em diversos momentos me flagrei torcendo por um dos lados. Em seguida, lá estava eu vibrando pelo outro. No fim, envergonhado, percebi que apenas um lado é digno de torcida e este nada tem a ver com sobrenomes: o das crianças, absolutamente desprovidas de culpa e completamente inocentes.

Com uma fotografia belíssima, Pais e Filhos é realmente elogiável, mas sua verdadeira força repousa no elenco. Sem nenhum ator famoso, todos se destacam. No entanto, é impossível não se encantar com os meninos Keita Ninomiya e Shogen Hwang. As cenas envolvendo eles e os pais são tocantes. Em uma delas, possivelmente a mais bonita, o diretor usa o espaço geográfico como metáfora para dizer que, quando existe amor, nenhuma distância, não no sentido físico, entre pais e filhos é incontornável.

Pais&Filhos_2_2013

Com prêmios conquistados no Festival de Cannes e na Mostra Internacional de São Paulo, em 2013, o novo trabalho de Hirokazu Koreeda é uma daquelas experiências que ficarão gravadas no coração e na retina por muito tempo, capaz de fazer chorar o mais empedernido dos homens. Sem dúvida alguma, uma verdadeira ode ao amor incondicional.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: A história, a fotografia e o trabalho de todo o elenco. Tudo.

QUEIMOU O FILME: Nada.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Hirokazu Koreeda.
Elenco: Masaharu Fukuyama, Machiko Ono, Yôko Maki, Riri Furanki, Keita Ninomiya, Shogen Hwang, Jun Fubuki, Kirin Kiki, Jun Kunimura, Megumi Morisaki, Isao Natsuyagi e Hiroshi Ohkôchi.
Produção: Kaoru Matsuzaki e Hijiri Taguchi.
Roteiro: Hirokazu Koreeda.
Fotografia: Mikiya Takimoto.
Trilha Sonora: Shin Yasui.
Duração: 120 min.
Ano: 2013.
País: Japão.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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