Crítica de Filme | Para Sempre Alice

Bruno Giacobbo

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11 de março de 2015

Você, mulher na casa dos 40, 50 anos, com excelentes trabalhos reconhecidos pela crítica e pelo público, ainda não ganhou um Oscar de melhor atriz? Quer ganhá-lo urgentemente? Então peça ao seu agente para lhe arranjar um papel ao lado de Alec Baldwin. Esta receita é infalível. Pode apostar que, em breve, a estatueta dourada estará na estante da sua casa. Brincadeiras à parte, Cate Blanchet, ganhadora do Oscar em 2014, e Julianne Moore, vencedora do prêmio este ano, tiveram os melhores desempenhos de suas respectivas carreiras “casadas” com Baldwin. No entanto, as semelhanças param por aí. Se, em “Blue Jasmine” (2013), Blanchet dá vida a Jeanette Francis, uma dondoca maquiavélica, que não sabia o que era trabalhar até ficar pobre, em Para Sempre Alice, Moore interpreta a doutora Alice Howland, uma linguista e professora universitária brilhante, que, aos 50 anos, descobre sofrer de um tipo raríssimo de Alzheimer. Assim, de uma hora para outra, ela se vê ameaçada de perder aquele que, por questões profissionais e afetivas, é seu bem mais precioso: sua memória.

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Dirigido com uma delicadeza ímpar pelos cineastas Richard Glatzer e Wash Westmoreland, o longa-metragem acompanha a trajetória de Alice desde a descoberta dos primeiros sintomas até o estágio mais grave da doença. Desta forma, o público tem a chance de se identificar com seu drama. Neste ínterim, somos apresentados também aos demais membros da família Howland: o marido John (Alec Baldwin), os filhos Anna (Kate Bosworth), Tom (Hunter Partish) e Lydia (Kristen Stewart). Tudo em menos de duas horas. O pouco tempo de duração do filme poderia criar um problema de identificação com estas pessoas. Se isto não ocorre é muito em função das atuações de Moore e Stewart. A primeira está excepcional. A composição de sua personagem é minimalista, sem excessos, mesmo na hora que chora inconformada com seu destino. Aos poucos, observamos ela definhar diante de nossos olhos. Entrar na pele da protagonista deve ter sido angustiante. Por outro lado, se não chega a ser brilhante, a ex-vampira está muito bem como a filha afastada que se reconcilia com a mãe ao descobrir a doença desta. E o que é melhor: há uma intensa comunhão entre estas mulheres. Perfeito, pois, apesar do restante da família, é o relacionamento delas que sustenta a trama.

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Não há nenhum defeito em Para Sempre Alice? Há, sim. Só que ele não é aparente e, na verdade, muitos não o considerarão um problema: seu conservadorismo. Na hora de dirigir, na narrativa, na escolha da trilha sonora e em sua fotografia. A impressão é que os diretores agiram assim com medo de errar. Não erraram, mas, ao não errarem, deixaram de ousar e perderam a chance de realizar um filme ainda melhor. Para efeito de comparação, se pegarmos “Acima das Nuvens” (2014), filme que está em cartaz neste momento, no Brasil, e que também baseia sua trama no relacionamento entre duas mulheres de idades diferentes (uma delas a própria Kristen Stewart), estas diferenças serão facilmente percebidas.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: As atuações de Julianne Moore e Kristen Stewart. A delicadeza com que o tema é abordado.

QUEIMOU O FILME: O conservadorismo que engessa o filme.

FICHA TÉCNICA:
Direção e roteiro: Richard Glatzer e Wash Westmoreland.
Produção: James Brown, Pamela Koffler e Lex Lutzus.
Elenco: Julianne Moore, Kristen Stewart, Alec Baldwin, Kate Bosworth, Hunter Parrish, Shane McRae, Stephen Kunken, Victoria Cartagena, Cali T. Rossen e Erin Darke.
Fotografia: Denis Lenoir.
Montagem: Nicolas Chaudeurge.
Duração: 101 minutos.
Ano: 2014.
País: Estados Unidos.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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