Crítica de Filme: Reino Escondido
Alan Daniel Braga
Reino Escondido, o filme “dos mesmos criadores de ‘A Era do Gelo’ e ‘Rio’”, tem um título original mais pretensioso: Epic. Embora seja um gênero cinematográfico, e este seja totalmente condizente com a trama, o termo já virou adjetivo e tomou proporções maiores nos dias de hoje. Achei que nunca fosse dizer isso, mas, desta vez, quem traduziu o título para o Português foi mais feliz. O filme é muito bonito, diverte, tem uma trama ‘amarradinha’, mas não chega a ser um “épico”.
O longa-metragem de animação da Blue Sky Studios traz a história da jovem MK (Mary Katherine – Maria Catarina no Português – voz de Amanda Seyfried), filha do professor Bomba (Jason Sudeikis), um cientista que dedicou boa parte da vida às pesquisas a respeito de um povo de tamanho minúsculo, que vive na floresta e cujos movimentos são rápidos demais para serem registrados pelo olho humano. Apesar de ter encontrado indícios da existência desses seres, o professor é desacreditado no meio científico. A dedicação ao trabalho fez também com que seu casamento chegasse ao fim. Agora, M.K. volta para a casa do pai, na tentativa de reatarem os laços. Mas o pai, embora queira, não pode dar atenção à filha e esta decide ir embora novamente. Antes de deixar a casa, MK acaba acidentalmente envolvida no confronto entre os tais seres que seu pai procura. Diminuída de tamanho por Tara (Beyoncé Knowles), a rainha da floresta, ela agora precisa ajudar o valente Ronin (Colin Farrell), o jovem irresponsável Nod (Josh Hutcherson) e os demais Homens-Folha a levar um valioso botão de flor para Nim Galuu (Steven Tyler) e, assim, salvar a natureza da ameaça dos inimigos, os Boggans.
Ao ver o trailer, confesso que fiquei com um remoto receio de estar indo assistir a um misto de ‘Vida de Inseto’, ‘Formiguinhaz’, ‘Querida, encolhi as crianças’, com guerreiros e uma menina “valente”. Mas o filme consegue estabelecer uma mitologia própria e, embora siga o feijão-com-arroz, surpreende ao fugir um pouco dele em um ou outro momento.
O roteiro do filme não é de todo original. Mais uma jovem esperta e corajosa tem problemas de relacionamento com um atrapalhado pai. O processo de transformação se inicia quando ela é aproximada arbitrariamente da crença do pai. Assim, a jovem só vai dar o braço a torcer quando for levada para dentro do tal reino escondido. A partir dali, se torna heroína com a ajuda das figuras de praxe: o mentor irreverente, o guerreiro íntegro, o interesse romântico (que evoluirá junto com ela) e os guardiões que servem de alívio cômico. Paralelo a isso, a batalha entre o bem e o mal para manter o balanço da natureza. Resumindo: todos aqueles ingredientes feitos para dar a liga esperada ao gênero. Muitos roteiristas participaram do processo e, talvez por isso, sobre fórmula e falte um pouco mais de “alma”.
MK consegue segurar bem o posto de protagonista e nos leva por sua saga com alguma simpatia. O mesmo não dá para se dizer de Nod, o par romântico aventureiro e irresponsável, que não compromete, mas também não consegue conquistar o espectador. O Ronin de Colin Farrel é mais eficiente neste sentido. O caracol Grub e “o” lesma Mub, embora tenham motivações fracas e pouco exploradas, seguram o humor do filme. O vilão Mandrake (Christoph Waltz), chefe dos Boggans, também não empolga muito. É apenas uma ameaça, um chato que quer destruir por destruir, porque assim é sua natureza maléfica.
Mas deixemos a narrativa e os personagens de lado e falemos finalmente daquilo que realmente eleva o Reino Escondido a um tom um pouco maior: a Arte e o 3D. Texturas, cores e profundidades conduzem a história, que é dirigida por enquadramentos criativos e parece querer aproveitar a tridimensionalidade a cada plano, sem transformar o filme num vertiginoso carrossel de imagens. A impressão que fica é que primeiro surgiu a vontade de fazer um filme plástico, que explorasse aquele universo e desse vazão à criatividade visual, e só depois contrataram pessoas que pudessem construir ali um enredo e um sentido. Não que não haja, mas o resto acaba sendo o resto e o que fica mesmo no espectador é a qualidade da animação. É ela que garante a alma ao filme.
BEM NA FITA: Direção, Arte e 3D
QUEIMOU O FILME: Um ponto sem Nod (pra não perder a nova onda de trocadilhos do Blah) e uma história que até te prende, mas não chega a ser um “épico”.
FICHA TÉCNICA:
Elenco: Vozes no dublado de: Murilo Benicio e Daniel Boaventura.
Vozes no original de: Amanda Seyfried, Josh Hutcherson, Colin Farrell, Jason Sudeikis, Beyoncé Knowles, Aziz Ansari, Johnny Knoxville, Steven Tyler, Judah Friedlander, Pitbull.
Direção: Chris Wedge
Gênero: Animação
Duração: 102 min.
Distribuidora: Fox Film
Estreia: 17 de Maio de 2013
Alan Daniel Braga
Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)

















































