Crítica de filme: As Sessões
Colaboração
*****Colaboração de Pedro Lauria*****
Alguns diretores têm uma habilidade pouquíssimo admirada dentre os cinéfilos: a sutileza. Geralmente fascinados pelo cinema de autor, não é incomum nos pegarmos avaliando o trabalho do diretor de acordo com o peso dramático de suas cenas e/ou a presença de seu estilo único assinando a narrativa.
Dito isto, basta olharmos a sinopse de As Sessões para vermos que se trata de um prato cheio para qualquer diretor que quisesse mostrar o seu potencial nessa linha. Mark O’Brien (John Hawkes, indicado ao Oscar por O Inverno da Alma) é um homem de 40 anos, que por ter sofrido de pólio na infância, passou a vida inteira em cima de uma cama hospitalar, saindo dela apenas para poder dormir dentro de um pulmão de aço. Agora ele quer experimentar pela primeira vez o sexo, e para isso recorre a Cheryl – uma espécie de garota de programa de luxo que só trabalha com deficientes. Típico roteiro para um dramalhão intimista nos melhores moldes europeus, correto?
Errado. Apesar de polonês, o diretor e roteirista Ben Lewin, entrega no lugar um filme leve e gostoso de assistir. Onde outros diretores veriam uma oportunidade para mostrar a degradação física do protagonista, que passa o filme inteiro deitado, aqui, em nenhum momento chegamos a sentir pena do personagem pela sua condição, mas simpatia. Méritos também a atuação inteligente de John Hawkes que em nenhum momento busca as lágrimas do espectador, mas risadas e um desconforto divertido com seu tato social peculiar.
Logo na primeira cena somos apresentados ao verdadeiro Mark O’Brien, poeta e escritor do artigo que deu origem ao filme, na qual ele conta como foram essas experiências sexuais e o seu relacionamento com Cheryl (Helen Hunt, indicada ao Oscar pelo papel). Nesse ponto, é importante chamar a atenção pela falta de conservadorismo de Hunt que se despe sem constrangimento, auxiliando na construção naturalista de seu personagem.
Personagem esse, que se apresenta de forma interessantíssima, no início do segundo ato, tratando o sexo com de forma orgânica, mas sem nunca o banalizar. Entretanto, quando vemos um pouco de sua vida pessoal, é uma pena constatar que o roteiro recaí pro clichê do marido ausente e filho “aborrecente” – obrigando-a a preencher suas lacunas emocionais no trabalho. Ainda sim, essa característica de sua personagem é motivo para o melhor paralelismo da obra, quando a montagem contrasta a solidão de Cheryl, que fala com um gravador, com O’Brien que, apesar de suas condições, tem outros seres humanos para dialogar.
E ao falar desses seres humanos, é impossível não destacar Brendan, vivido por William H. Macy (Fargo), um padre pouco convencional que se apresenta como conselheiro de Mark durante toda a obra. Inclusive, é surpreendente que seja nas conversas entre ambos que o filme tem seus momentos mais divertidos. Porém, a falta de um maior peso dramático nessas cenas em específico, diminuem o que poderia ser uma relevante discussão entre a necessidade sexual do homem e o conservadorismo da Igreja. Dessa forma, os questionamentos de fé em nenhum momento parecem um obstáculo ao protagonista, apesar da religiosidade intrínseca do mesmo (evidenciado por detalhes da direção de arte, como o santinho preso em seu pulmão de aço).
Surpreendentemente, o componente do filme que mais se destaca, é a montagem, que apesar de simples, opta por fazer eficientes flash forwards durante algumas cenas. Dessa forma, não é raro que um acontecimento, seja interrompido por um instante, para que possamos ver uma conversa, que acontece posteriormente, sobre o mesmo.
As Sessões é um filme que se destaca pelas boas atuações e a leveza com que trata um tema extremamente complicado. Uma obra otimista que mostra que mesmo o pior dos problemas pode ser enfrentado, se o encararmos com a perspectiva certa.
BEM NA FITA: Boas Atuações; Sutileza da direção; Roteiro otimista; Montagem inteligente; Tema complexo discutido com leveza
QUEIMOU O FILME: Falta de peso na discussão entre sexo e religião; Clichês na construção da personagem de Cheryl
FICHA TÉCNICA:
Direção: Ben Lewin
Elenco: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Adam Arkin, Annika Marks, Blake Lindsley, James Martinez, Jarrod Bailey, Jennifer Kumiyama, Ming Lo, Moon Bloodgood, Robin Weigert.
Roteiro: Ben Lewin, Mark O’Brien
Gênero: Drama
Duração: 98 min.