Crítica de Filme | Sniper Americano

Leandro Stenlånd

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18 de fevereiro de 2015

Não é nada fácil carregar nas costas a responsabilidade de criticar um filme cujo qual concorre ao Oscar 2015. É muito mais simples falar dos conflitos armados e suas corporações.

As corporações armadas e seus objetivos de premiação são coisas tais como a quantidade de vítimas feitas pelo premiado, a capacidade destrutiva, a habilidade em bombardeios e incêndios, e outros atos de similar sordidez.  Sniper Americano conta a história do franco-atirador Chris Kyle, morto em 2013 (isso mesmo, em nosso século) e considerado o mais letal que já passou pelas forças armadas americanas. Nascido no estado do Texas, teve quatro missões durante a guerra de Iraque e ganhou alguns dos mais prezados prêmios à barbárie.

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Recriar uma história calcada em possíveis insanidades da mente humana, gerar uma cinebiografia e ter, consequentemente, diversas atuações impressionantes dos protagonistas nesta película são coisas bem mais complicadas do que se imagina. Bradley Cooper é um excelente ator num geral e tem aqui uma das melhores atuações de sua carreira, afinal, carregar nas costas um histórico militar de 160 mortes confirmadas de maneira tão incrível e ser indicado ao Oscar teria alguma lógica?

Bom, premiar os ataques aos direitos humanos é tão velho como a sociedade de classes, que sempre foram nada mais que sociedades teológicas organizadas. Já os colonizadores europeus nas Américas davam prêmios aos que matavam índios em geral e negros fugitivos. Assim, para induzir as turvas alienadas a reverenciar estas ações de barbárie e seus trevosos autores, os prêmios são designados com nomes pomposos como “mérito”, “heroísmo”, “bravura”, “patriotismo”, “honra”, e outros conceitos metafísicos e desumanizados que corroem a lógica de um verdadeiro militar. No Oscar não é muito diferente. Por cada designação mencionada, o intrépido atirador americano se gaba de ter executado 255 inimigos, mas o Pentágono confirma ‘apenas’ 160. Discrepância nada significativa ou os Gols do Pelé e Romário estariam corretos? Vai saber! Talvez o único erro de um assassino profissional seria confiar em sua nação. Talvez se apegar ao passado não seja a melhor condição.

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Caso você não saiba, Sniper é um termo cunhado no século 18 na Índia, usado como apelido para alguns atiradores tão rápidos e precisos que conseguiam matar um snipe (nome genérico para uma família de pequenos pássaros enormemente velozes) em pleno voo. Atualmente, é sinônimo de atirador que usa arma de grande precisão, atira desde distâncias que podem exceder 1 km, permanece camuflado numa posição escondida, utiliza mira telescópica e alveja pessoas consideradas inimigas (civis ou militares) em cenários bélicos como cidades ou florestas, mas não (ou geralmente não) em grandes campos de batalha onde se usa fogo convencional.

Mas eu estou falando de agora e, Chris Kyle chegou a ser uma ameaça para qualquer um que se colocasse em seu caminho, provavelmente até mesmo à segurança global. Não me compreendam mal. Eu pensava de uma forma diferente há algum tempo atrás, mas lembre-se que dizíamos o mesmo dos soviéticos. Aliás, o inimigo nunca é tão mal quanto imaginamos. Nada é tão ruim que não possa piorar e para chegar a criticar a alma de um cidadão americano que se colocou à disposição de sua nação, precisamos pensar bem que talvez não sejamos tão bonzinhos como nos imaginamos.  Não sou o maior fã do gênero de filmes de guerra, mas quem sabe, sob tais circunstâncias, a intenção de Kyle pudesse ter sido a melhor dentre muitos alistados. Provavelmente as ameaças que rondaram as circunstâncias para o uso de Chris fossem muito maiores que os russos. Mas depois de tudo que o mesmo atirador fez, o que eles conseguiram? A guerra continua, alguns viraram burocratas e no fim de que adiantou 160 serem mortos? Se um dos lados perde terreno e o outro ganha, não é trégua, é rendição. Mas não houve nem um nem outro e o impasse permanece até hoje. Tudo o que se percebe no longa é que é um mundo diferente e temos que aprender a viver nele.

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Por vezes, é notoriamente muito bem explorado – e de forma mais competente que o cotidiano – o “herói” de guerra que simplesmente não conseguiu se desconectar dos tiros e das explosões. Não conseguia encontrar tanta graça na vida familiar, com mulher e dois filhos, quanto no calor da batalha em que ele tinha altas doses de adrenalina todos os dias, onde ele era considerado “uma lenda”, o melhor. E assim viraria sua paixão mais capciosa, lúgubre e, por que não, funesta.

Numa lógica onde seu alter ego é filho de um diácono que atendia uma Escola Dominical em Odessa no Texas, o que teria incentivado tanto alguém a se tornar uma pessoa tão frígida? Além da direção firme e intempestiva de Clint Eastwood, Sniper Americano tem pelo menos mais uma qualidade: a entrega de Bradley Cooper. Pela primeira vez, ele parece ter amadurecido como ator. Esqueça comédias bobocas e filmes em que ele é o galã. Aqui ele tomou corpo – para valer – em todos os sentidos.

Sniper Americano é um filme impar e demonstra uma total empáfia a ponto de realmente ter merecido a indicação ao Oscar. Sinceramente, hoje, com “Interestelar” fora da briga, eu digo que este, ao lado de “O Grande Hotel Budapeste”, é um dos favoritos para ganhar a estatueta.

BEM NA FITA: A atuação de Bradley é magnífica e a direção de Clint ficou estupenda.

QUEIMOU O FILME: O roteiro, por vezes lento, é meio confuso em certos detalhes da história!

FICHA TÉCNICA:

Título original: American Sniper
Gênero: Drama
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Jason Dean Hall
Elenco: Amie Farrell, Anthony Jennings, Assaf Cohen, Ben Reed, Billy Miller, Bradley Cooper, Brando Eaton, Brett Edwards, Brian Hallisay, Chance Kelly, Cory Hardrict, Darius Cottrell, Emerson Brooks, Eric Close, Eric Ladin, Erik Aude, Evan Gamble, Greg Duke, Jake McDorman, James Ryen, Jet Jurgensmeyer, Joel Lambert, Jonathan Kowalsky, Keir O’Donnell, Kyle Gallner, Leonard Roberts, Luke Grimes, Marnette Patterson, Max Charles, Mido Hamada, Navid Negahban, Owain Yeoman, Reynaldo Gallegos, Robert Clotworthy, Sam Jaeger, Sammy Sheik, Sienna Miller, Tim Griffin, Zack Duhame
Produção: Andrew Lazar, Bradley Cooper, Clint Eastwood, Peter Morgan, Robert Lorenz
Fotografia: Tom Stern
Montador: Gary Roach, Joel Cox
Ano: 2014
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 19/02/2015 (Brasil)
Distribuidora: Warner Bros
Estúdio: Warner Bros.
Informação complementar: Baseado no livro American Sniper de Chris Kyle.

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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