Crítica de Filme | Tangerine

Larissa Bello

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21 de janeiro de 2016

O diretor Sean Baker merece o devido reconhecimento ao optar por fazer um filme transgressor. Isso porque ele transgride não só na forma técnica de fazê-lo, como na escolha dos atores para protagonizá-lo. A produção foi rodada usando aparelhos celulares de Iphone. E as protagonistas escolhidas são as transgênero Mya Taylor e Kiki Kitana Rodriguez, sendo uma negra e outra de origem latina e que nunca haviam atuado em um filme antes.

A história começa com um diálogo entre Alexandra (Mya Taylor) e Sin-Dee (Kiki Kitana Rodriguez), dentro de uma lanchonete de donuts. Sin-Dee acabou de sair da prisão e está atualizando a conversa com sua melhor amiga, que acaba deixando escapar a informação de que seu namorado, e também cafetão das duas, Chester (James Ransone), a está traindo com uma mulher cisgênero. Imediatamente, Sin-Dee sai do estabelecimento enfurecida à procura de Chester e da tal mulher. Em paralelo, acompanhamos a história do taxista armênio Razmik (Karren Karagulian), que pega passageiros dos mais diversos tipos durante sua jornada de trabalho. E no final do dia, Razmik, gosta de utilizar os serviços de prostituição de algum transgênero da região.

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Pelo fato da produção ter sido gravada com Iphones, o ritmo da filmagem e da montagem apresentam um tom mais dinâmico. O uso de aparelhos de celular ao invés de câmeras, acaba dando mais mobilidade para os planos e enquadramentos. Sem falar, que as filmagens conseguem ocorrer despercebidas pelas ruas, o que cria um clima de mais veracidade dentro da narrativa. É claro que foi preciso utilizar alguns aparatos e adaptadores, tais como lentes e recursos específicos para dimensionar e aprimorar o foco da imagem. A fotografia tem um forte colorido, com uma alta saturação e contraste, apresentando assim uma tonalidade alaranjada, sendo esse o motivo para o nome do filme. Como o próprio diretor disse em uma entrevista, ele não queria que a produção tivesse um título literal e sim que o nome remetesse a algo sensorial, como cheiro e cor.

Por todos esses fatores, Tangerine, se configura como um filme “independente”, tanto pelo fato de ter sido feito com um baixíssimo orçamento, quanto pela abordagem temática que, até então, sempre se apresentou de maneira rasa e à margem das histórias contadas nos filmes. E mesmo que o filme de Sean Baker possa parecer estereotipado e caricaturado, pelo menos ele assim o fez utilizando pessoas que realmente vivenciam a realidade que está ali ilustrada. Não é um ator homem, cisgênero e heterossexual que está interpretando um transgênero. Só em relação a isso, o filme já ganha muitos pontos na honestidade de como se contar uma história. Porque independente das “licenças artísticas”, infelizmente, e algumas vezes, elas podem acabar contribuindo para propagar um certo padrão estético que podem transformar as referências de conotação racial, sexual, cultural e social com um olhar carregado de um preconceito que está alojado no inconsciente de todos nós.

FICHA TÉCNICA

Diretor: Sean Baker

Roteiro: Sean Baker e Chris Bergoch

Elenco: Mya Taylor, Kitana Kiki Rodriguez, Karren Karagulian, Mickey O’Hagan, James Ransone

Produção: Duplass Brothers Productions, Through Films

Duração: 88 min

Ano: 2015

Larissa Bello

Graduada em Rádio & TV. Pós-graduada em Leitura e Produção Textual. Capixaba, residiu por 8 anos no Rio de Janeiro, onde atuou em diversas áreas do audiovisual. Atualmente reside em Fortaleza/CE, onde é afiliada da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) e é autora do blog Cine em Foco (https://cineemfoco.blogspot.com/).
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