Crítica de Filme: Tese Sobre um Homicídio

Bruno Giacobbo

O novo filme estrelado pelo premiado e competente ator argentino, Ricardo Darín, é como aquela partida de futebol que seu time do coração faz quase tudo certo, mas aos 45 minutos do segundo tempo leva o gol que não poderia levar e acaba cedendo o empate. Foi com essa sensação que deixei a sala de cinema, após assistir “Tese Sobre Um Homicídio“, com estréia prevista para o Brasil, dia 26 de julho, coincidentemente ou não, a data que o papa Francisco desembarcará no país para a Jornada Mundial da Juventude.

Dirigido e escrito por Hernán Goldfrid, “Tese Sobre um Homicídio” conta a história de Roberto Bermudez (Darín), um advogado especializado em direito criminal que desistiu dos tribunais e leciona na Faculdade de Direito de Buenos Aires. Uma noite, durante uma aula em que ele falava sobre a importância dos detalhes na resolução de um crime, um corpo é encontrado no estacionamento do campus. A curiosidade fala mais alto e Bermudez vai até o local acompanhar a investigação policial. Quando se dá conta, ele já está completamente obcecado pelo caso.

A trama é bastante envolvente e prende a atenção dos espectadores até o fim. Os detalhes citados por Bermudez, em sala de aula, são importantes para o entendimento da história. Nem tudo é dito e, sinceramente, nem é necessário. Eles estão lá para quem quiser ver. Guarda grandes semelhanças com o excelente “Nove Rainhas“, também protagonizado por Darín. No entanto, a diferença crucial está no desfecho. Falta a “Tese Sobre Um Homicídio” o esmero e a competência que sobrou em “Nove Rainhas” na hora de amarrar todas as pontas soltas. Acredito que a intenção de Goldfrid tenha sido deixar o final aberto, de forma que cada um tire suas próprias conclusões. Respeito e aprecio este tipo de desfecho, mas, neste caso específico, não funcionou.

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É possível ainda traçar um paralelo entre “Tese Sobre Um Homicídio” e “O Segredo de Seus Olhos“: ambos são thrillers policiais com um mistério complicado, em que parte da ação transcorre na esfera judicial. Contudo, tal comparação é injusta com o primeiro, já que a obra de Juan José Campanella é o maior filme argentino de todos os tempos.

A atuação de Ricardo Darín é, mais uma vez e sempre, soberba. Dando continuidade às analogias futebolísticas, vê-lo encenar é o equivalente a testemunhar uma bela exibição de seu compatriota Lionel Messi com a camisa do Barcelona. Seu personagem é complexo. Apesar de toda a inteligência, do encanto e da paixão que desperta nos alunos (e alunas), Bermudez não tem o lado emocional bem resolvido, leva uma vida que transita entre os traumas do passado e o presente sem um norte. Resolver o crime passa a ser sua tábua de salvação. Mas, ele não é o único a se destacar. Alberto Ammann, que interpreta Gonzalo Ruiz, aluno número um e eventual suspeito do crime em questão, é igualmente digno de aplausos. Ao longo de toda a película, maestro (em bom espanhol) e discípulo travam um estimulante duelo psicológico. É como se Sherlock Holmes e Professor Moriarty tivessem encarnados em terras platinas.

Se não pecasse no final da partida, “Tese Sobre Um Homicídio” levaria uma nota muito mais alta, mas alguns pecados são difíceis de serem perdoados e esquecidos. Assim mesmo, penso que o filme de Goldfrid merece ser visto tanto pelos fãs de Darín, como por aqueles que conhecem apenas de fama o cinema dos nossos hermanos, sem dúvida nenhuma, neste momento, o melhor da América Latina.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: O modo como a trama foi engendrada. Ela te envolve no clima de mistério, prendendo a atenção até o fim. Adoro filmes em que nem tudo é dito com palavras. Muita coisa pode ser dita por meio da observação do que está na tela. As atuações de Darín e Ammann.

QUEIMOU O FILME: O desfecho, subjetivo e interpretativo demais. Não amarrou todas as pontas soltas. Esse é um risco que se corre ao realizar este tipo de película.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Hernán Goldfrid
Elenco: Ricardo Darín, Alberto Ammann, Calu Rivero, Arturo Puig, Fabián Arenillas, Mara Bestelli, Mateo Chiarino, Antonio Ugo, Natalia Santiago e Cecília Atán, José Luis Mazza e Ezequiel de Almeida
Produção: Diego Dubcovsky, Daniel Burman e Daniela Alvarado
Roteiro: Hernán Goldfrid
Fotografia: Rolo Pulpeiro
Trilha Sonora: Sergio Moure
Duração: 106 min.
Ano: 2013
País: Argentina

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN