Crítica de Filme: Trapaça

Bruno Giacobbo

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6 de fevereiro de 2014

Ainda não vi ninguém escrever sobre o fato, mas Martin Scorsese estará duplamente representado na festa do Oscar 2014. Além de concorrer ao prêmio de melhor diretor por “O Lobo de Wall Street“, ele terá todo o direito de se sentir vencedor caso, no próximo dia 2 de março, assista a coroação do colega David O. Russell. Trapaça, o novo filme do cineasta de “O Lado Bom da Vida” (2012), indicado em dez categorias, é uma escancarada e belíssima homenagem ao cinema do velho mestre que aprendemos a admirar.

Baseado em fatos reais, uma operação policial que resultou na prisão de políticos no final dos anos 70, a trama conta a história de dois vigaristas, Irvin Rosenfeld (Christian Bale) e Sidney Prosser (Amy Adams), obrigados a cooperar com a lei depois de serem presos por um agente do FBI de temperamento irascível, Richard DiMaso (Bradley Cooper). O federal enxerga nos dons da dupla uma ótima oportunidade de capturar peixes maiores: corruptos e mafiosos. Assim, o trio vai atrás de Carmine Polito (Jeremy Renner), o populista prefeito de Camden, New Jersey. O problema é que uma vez trapaceiros, sempre trapaceiros. DiMaso pode confirmar neles? Ele está de fato no controle da situação? Para complicar ainda mais, a desequilibrada esposa de Irvin, Rosalyn Rosenfeld (Jennifer Lawrence), acaba se envolvendo na confusão.

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Ter o título em mente, Trapaça ou American Hustle (algo como trapaça americana), é importante para o perfeito entendimento da trama. No bem costurado roteiro, escrito por Eric Singer em parceria com o próprio diretor, os personagens estão o tempo todo trapaceando. Aos poucos, vamos conhecendo um a um e percebemos que ninguém inspira muita confiança. É um jogo constante de esconder as reais intenções visando sempre uma vantagem futura. Desta forma, o espectador deve ficar bem atento e, de preferência, não se esquecer da advertência feita, lá pelas tantas, por um dos protagonistas: “As pessoas acreditam no que querem acreditar”.

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Ganhador do prêmio de melhor elenco do ultimo SAG Awards, cerimônia organizada pelo sindicato dos atores, o filme de Russell tem como sua maior qualidade a seleção de astros que desfila na tela. Comumente associado ao atlético Bruce Wayne, Bale engordou 18 quilos para este papel. Está irreconhecível. Após brilhar em “O Lado Bom da Vida” (2012) e “O Lugar Onde Tudo Termina” (2012), Cooper nos fornece mais uma prova de seu surpreendente talento. Contudo, quem realmente rouba o show são as mulheres. Adams e Lawrence nos brindam como uma atuação maravilhosa e um beijo de tirar o fôlego! Emocionalmente instáveis, elas disputam, cena a cena, a atenção de Irvin e do público. E se não bastasse tudo isso, há, no ápice da película, uma maravilhosa ponta de Robert De Niro.

Com todas aquelas roupas coloridas e berrantes dos anos 70, o figurino é outro aspecto sensacional. Junto com a trilha sonora, ajuda a criar a embalagem perfeita para que Trapaça não seja lembrada somente pelas grandes atuações. Os acordes do jazz de Duke Ellington e Thelonious Monk, entre outros, embalam o público durante as mais de duas horas de projeção que passam sem sentirmos. Não dá para desassociar o longa das músicas, principalmente, quando há diversas cenas de danças e cantoria. Em uma delas, Lawrence arrasa cantando “Live and Let Die”, de Paul McCartney. Poderia ser “Viva La Vida”, da banda Codplay, que também combina com a trajetória da personagem, mas o que importa é o desempenho da moça.

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Com uma narrativa semelhante à de “Os Bons Companheiros” (1990), Russell, conhecido por afirmar que a matéria prima de suas obras são os atores e pela forma como os dirige, conseguiu realizar um longa-metragem notável por diversos motivos. Além dos já citados, poderia escrever, demoradamente, sobre a direção de arte e a fotografia. No entanto, para ser perfeito faltou algo: uma certa dose de brilhantismo nos diálogos. Neste ponto, Trapaça fica a dever quando comparado aos filmes do velho mestre.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: O elenco, atuações de um modo geral. A trilha sonora. O figurino. A direção de arte e a fotografia. Trama bem amarrada.

QUEIMOU O FILME: Quase tudo é perfeito, mas falta brilhantismo aos diálogos. Há cenas memoráveis, mas não há nenhum diálogo inesquecível. Isto fica claro se o compararmos “O Lobo de Wall Street”.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: David O. Russell.
Elenco: Christian Bale, Bradley Cooper, Amy Adams, Jeremy Renner, Jennifer Lawrence, Louis C.K., Jack Huston, Saïd Taghmaoui, Michael Peña, Shea Whigham, Erica McDermott, Alessandro Nivola, Elisabeth Rohm, Colleen, Paul Herman, Anthony Zerbe e Robert De Niro.
Produção: Charles Roven, Richard Suckle e Megan Ellison.
Roteiro: Eric Singer e David O. Russell.
Trilha Sonora: Danny Elfman.
Figurino: Michael Wilkinson.
Direção de Arte: Jesse Rosenthal.
Fotografia: Linus Sandgren.
Duração: 138 min.
Ano: 2013.
País: Estados Unidos.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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