Crítica de Filme | Tudo Que Aprendemos Juntos

Laura Udokay

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2 de dezembro de 2015

Tudo Que Aprendemos Juntos tem uma sincera trama, que conta a história de Laerte (Lázaro Ramos), um violinista formidável que, após fracassar em uma audição para integrar a OSESP, se vê obrigado a dar aulas de música na comunidade de Heliópolis. O ponto de partida do roteiro é a peça ‘Acorda Brasil’, escrita por Antonio Ermírio de Moraes sobre a experiência do Instituto Baccarelli e a criação da Orquestra Sinfônica Heliópolis. O protagonista, como elucida o título, aprende muito com seus alunos, na verdade, se humaniza.

O elenco também tem Kaique Jesus (“Linha de Passe”), Elzio Vieira, Sandra Corveloni, Thogun Teixeira, Fernanda de Freitas, Hermes Baroli e Criolo. Conta, inclusive, com participações especiais da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e de sua regente titular, Marin Alsop, além de Rappin’ Hood.

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Com a atuação onvincente de Lázaro Ramos, o filme já vale pelo tema. Falar de arte e seus tortuosos caminhos é algo que muitos fizeram, mas Sérgio Machado mostrou o que é possível adquirir quando pessoas humildes e talentosas recebem oportunidade com dignidade.

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Favela e gente violenta estarão na tela, porque esses igredientes parecem ser a trufa de nosso cinema. E quando não é isso, são casas situadas em bairros opulentos e personagens que arrotam notas de cem, ou algo bem próximo disso. Mas tudo bem, Tudo Que Aprendemos Juntos fala de pobreza com um bom propósito, afinal, somos um país de extremos.

Os jovens e talentosos atores, Kaique Jesus e Elzio Vieira estão em sincronia. Ótimas atuações dos atores que interpretam os alunos de Laerte e, também, daqueles que cruzam seus caminhos, aliás, emocionante são.

Não poderia ser mais verossímil a performance do elenco adolescente da favela de Heliópolis, visto que muitos são residentes ali. A comunidade é mostrada de forma superficial, na verdade, em uma medida bem dosada. As dependências da Sala São Paulo também aparecem discretamente, e poderiam ter sido mais exploradas pelas câmeras.

Vielas da favela vão entontecer o espectador em uma das cenas mais desafiadoras para a equipe de filmagem, segundo conta o próprio diretor. Trata-se de uma perseguição entre a polícia e Kaique Jesus e Elzio Vieira, vivendo seus personagens. A missão foi deixar muito claro que era um cena de cinema, para não causar agitação na comunidade. Do contrário, poderia virar uma tragédia.

Rodar externas exige um empenho cuidadoso para convecer o público, e o longa se sai muito bem nesse quesito. Sensíveis closes de instrumentos musicais vão acelerar o coração dos músicos de plantão, e a fotografia das singularidades de Heliópolis remetem à reflexão de quem vive em um planeta chamado “São Paulo”.

FICHA TÉCNICA

Gênero: Drama
Direção: Sergio Machado
Roteiro: Marcelo Gomes, Maria Adelaide Amaral, Marta Nehring, Sergio Machado
Elenco: Elzio Vieira, Fernanda de Freitas, Graça de Andrade, Hermes Baroli, Kayque Santos, Lázaro Ramos, Sandra Corveloni, Taís Araújo, Thogun Teixeira
Produção: Caio Gullane, Débora Ivanov, Fabiano Gullane, Gabriel Lacerda
Fotografia: Marcelo Durst
Montador: Lívia Serpa, Marcio Hashimoto
Trilha Sonora: Alexandre Guerra, Felipe de Souza, InputSom Arte Sonora

Laura Udokay

Laura Udokay é dessas garotas que tiveram uma infância de “garoto”. Skate, fliperama e rock. Cresceu no universo dos desenhos e livros. Hoje, faz as duas coisas: desenha e escreve. É autora de “Martini, o Pequeno Demônio”, trilogia que terá o segundo volume publicado em breve
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