Crítica de Filme | Viva a Liberdade

Bruno Giacobbo

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12 de julho de 2014

Pressionado por obrigações profissionais, estressado, quem nunca teve vontade de jogar tudo para o alto e dizer um bom e sonoro dane-se para o mundo? Candidamente, eu confesso que já tive este impulso algumas vezes. Queria poder me desapegar das necessidades materiais e do medo do que os outros irão pensar. Contudo, na hora agá, estas coisas e aquele senso de responsabilidade, que fica escondido lá dentro da gente, falam mais alto. Acredito que com a maioria das pessoas funcione deste jeito e é por isto que não vemos muitas histórias assim na imprensa.

Agora, imagine o seguinte: você é um importante político no seu país. Um senador e líder do principal partido de oposição. Um dia, pressionado, estressado (exatamente como escrevi acima), você decide mandar tudo as favas e sumir. Nada importa. Nem mesmo o fato de ser o último colocado nas pesquisas para a próxima eleição. Deixa um bilhete avisando que precisa de uns dias para refletir, pensar na vida e simplesmente some. Esta é a história de Enrico Olivieri (Toni Servillo), em Viva a Liberdade, excepcional longa-metragem de Roberto Andó, em cartaz desde o dia 10 de julho.

Vivalaliberta_2No entanto, o senador tem um irmão gêmeo. Um professor de filosofia excêntrico, Giovanni Ernani (interpretado pelo mesmo ator), que passou os últimos anos internado em uma clínica psiquiátrica. Desesperado, Andrea Bottini (Valerio Mastandrea), braço direito de Olivieri, tem uma idéia absurda: fazer Ernani se passar pelo desaparecido. E o que parecia ser uma loucura sem tamanho se revela um golpe de mestre. Inteligentíssimo, naturalmente sedutor, íntegro, o filósofo torna-se um sopro de esperança na carcomida política local. Seus discursos inflamados reacendem as esperanças dos mais jovens e sacodem a corrida eleitoral. Só que uma farsa desta proporção não pode durar muito tempo. Ou será que pode?

Ganhador do David Di Donatello, prêmio distribuído pela Academia de Cinema Italiana, de melhor roteiro (Andó e Angelo Pasquini, a partir de ‘O Trono Vazio’, livro de autoria do próprio cineasta) e melhor ator coadjuvante (Mastandrea), Viva a Liberdade é uma extraordinária critica aos péssimos costumes políticos que assolam à Itália. Entretanto, pode perfeitamente ser aplicada ao Brasil. É bastante fácil identificar os Olivieiris, Bottinis e De Bellis tupiniquins. Eles existem aos montes na nossa triste realidade.

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O filme se vale do ótimo texto e da atuação soberba de seu ator principal para seduzir o público. Servillo dá um show à medida que seus personagens se revezam na telona e vamos percebendo as nítidas diferenças entre eles. Além disto, apesar desta não ser a primeira vez que o ‘Darín italiano’ interpreta um político graúdo, seu Enrico Olivieri em nada se parece com o primeiro-ministro Giulio Andreotti, em Il Divo (2008). Já o discurso para uma multidão, citando Bertolt Brecht, tem o mesmo tom visceral e impacto de Barbara Sukowa ao falar, para uma pequena platéia, sobre a banalidade do mal, em Hannah Arendt (2012), outra obra-prima recente e digna de registro.

Desliguem seus celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: Tudo, mas principalmente o roteiro e as atuações de Toni Servillo e Valerio Mastandrea.

QUEIMOU O FILME: Nada que importe.

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Roberto Andó.
Elenco: Toni Servillo, Valerio Mastandrea, Valeria Bruni Tedeschi, Michela Cescon, Anna Bonaiuto, Eric Nguyen, Judith Davis, Andrea Renzi, Massimo De Francovich, Renato Scarpa, Lucia Mascino, Giulia Andò, Stella Kent, Brice Fournier, Olivier Martinaud, Federico Torre e Gianrico Tedeschi.
Produção: Angelo Barbagallo e Gaetano Daniele.
Roteiro: Roberto Andó e Angelo Pasquini.
Fotografia: Maurizio Calvesi.
Trilha Sonora: Marco Betta.
Duração: 94 min.
Ano: 2013.
País: Itália.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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