Crítica de Filme | Wakolda (O Médico Alemão)

Colaboração

*Tradução Anna Cecilia Fontoura

PORTUGUÊS

– Como se chama?

Wakolda.

Com este diálogo na desolada “Rota do Deserto” começa o filme de Lucía Puenzo, o terceiro de sua carreira (“XXY”, El niño Pez”), baseado em um romance também escrito por ela. A história, ambientada na Patagônia Argentina de 1960, é sobre um lider nazista que está ali refugiado com a aprovação do governo da época. Um médico alemão (sim, se trata de Mengele) se aproxima de uma família local, obcecado pela filha menor, Lilith, que segundo ele, “seria uma espécime perfeita se não fosse pelo problema de crescimento”. A menina que está quase entrando na puberdade aparenta menos idade do que realmente tem.  Lilith também sente curiosidade pelo estrangeiro e entre eles se estabelece uma estranha relação, sustentada pelo tratamento experimental de crescimento que o médico submete a garota com a aprovação da mãe dela (uma correta Natalia oreiro).

O filme, longe de retratar o estereotipo do criminoso nazista uniformizado e matando gente, é muito mais efetivo, pintando um Menguele comedido, quase oculto, inclusive amável. É mais um vizinho. Em troca, o povo local revela simpatia pela sua ideologia: se trata de uma comunidade de imigrantes alemães, com colégio em que é ensinado o idioma alemão (durante a Guerra, difundiam cruzes suásticas e sua biblioteca disponibilizava volumes de propaganda).  O longa nos revela que o preconceitos fascistas estão por toda parte inclusive em nós mesmos. Só o pai da menina (Diego Peretti) se mostra desconfiado.

Um filme bem feito, cuidado, sutil. O despertar sexual de Lilith é mostrado de forma muito terna, mas as cenas de provocação dos colegas de turma da menina devido a sua aparência infantil são duras. A reconstrução da época é muito bem feita. É marcada pelo impressionante cenário selvagem dos bosques, lagos e montanhas do sul, por momentos alegres e por outros ameaçadores. “Estou como em casa” – dirá o médico alemão.

O problema que encontro no filme é que Puenzo ao querer nos contar tudo o que acontece em seu livro (não o li por isso não posso falar a respeito), vai introduzindo linhas argumentativas paralelas que acabam não se aprofundando e que  nos distraem da trama principal. Por alguns momentos o tom intimista passa ao de thriller de espionagem. As referências metafóricas são abundantes, mas são de fácil assimilação (o nome do longa, só para não ir muito longe). Há quem tenha dito, acertadamente em minha opinião, que o melhor formato para “Wakolda” seria o de minissérie televisiva.

Apesar de tudo, “Wakolda” é um grande filme.

BEM NA FITA: A menina está muito bem interpretada por Florencia Bado. E bem dirigida. O que se pode agradecer porque o desempenho das crianças como atores no cinema argentino quase sempre deixa a desejar. O catalão  Àlex Brendemühl também construiu um Mengele antológico. A fotografia, paisagem e reconstrução de época são outros pontos a favor.

QUEIMOU O FILME: Imagino que este filme visto nos EUA reforçará sua ideia preconcebida de que a Argentina “não passa de um refúgio de nazistas e outras criminosos e delinquentes”. E nesse sentido, “Wakolda” é forte candidato ao Oscar.

Ficha técnica: Wakolda (Argentina-França-Espanha-Noruega/2013; idioma: espanhol e alemão) / Direção: Lucía Puenzo / Roteiro: Lucía Puenzo / Fotografía: Nicolás Puenzo / Edição: Hugo Primero / Música: Daniel Tarrab e Andrés Goldstein / Elenco: Àlex Brendemühl, Natalia Oreiro, Diego Peretti, Elena Roger, Florencia Bado, Guillermo Pfening, Anita Pauls e Alan Daicz / Distribuidora: Distribution Company / Duração: 94 minutos / Classificação: Maiores de 13 anos.

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>>> Confira também a crítica desse filme feita por uma crítica brasileira

ESPAÑOL

-¿Como se llama?

-Wakolda.

Con este simple diálogo en la desolada “Ruta del Desierto” comienza el film de Lucía Puenzo, el tercero en su haber (“XXY”, “El niño Pez”), basado en una novela escrita por ella misma. La historia, ambientada en La Patagonia argentina de 1960, trata el tema de los jerarcas nazis allí refugiados con el beneplácito del gobierno de turno. Un médico alemán (si, de Mengele se trata) se acerca a una familia lugareña, obsesionado con la hija menor, Lilith, que según él, “sería un espécimen perfecto si no fuera por su problema de crecimiento”. En efecto, la niña, entrando ya en la pubertad, aparenta menos edad de la que tiene realmente. Lilith también siente curiosidad por el forastero y entre ellos se entabla una extraña relación, sostenida por el tratamiento experimental de crecimiento al que el médico somete a la niña bajo el visto bueno de su madre (una correcta Natalia Oreiro).

El filme, lejos de retratar el estereotipo del criminal nazi uniformado y matando gente, resulta mucho mas efectivo pintando un Menguele mesurado, casi oculto, amable incluso. Es un vecino mas. En cambio, la gente del lugar revela simpatía por su ideología: se trata de una comunidad de inmigrantes alemanes, con su colegio en que se enseña a hablar alemán (durante la Guerra, enarbolaba cruces svásticas y su biblioteca disponía de volúmenes de propaganda). Nos revela que los prejuicios fascistoides están por doquier, en nosotros mismos incluso. Solo el padre de la niña (Diego Peretti) se muestra desconfiado. Una película bien hecha, cuidada, sutil. El despertar sexual de Lilith es mostrado de forma muy tierna, así como duras son las escenas de las burlas de sus compañeros de clase por su infantil aspecto.  La reconstrucción de la época muy bien lograda, enmarcada en el impresionante escenario salvaje de los bosques, lagos y montañas del sur, por momentos alegre y por otros amenazante, siempre gigantesco. “Estoy como en casa”, dirá el médico alemán.

El problema que encuentro en el filme, es que la Puenzo, al querer contarnos todo lo que ocurre en su libro (no lo he leído, así que no puedo hablar al respecto), va introduciendo líneas argumentales paralelas que no termina profundizando y que nos distraen de la trama principal. Por momentos el tono intimista pasa al de un thriller de espionaje. Las referencias metafóricas abundan pero son de fácil asimilación (el nombre de la película sin ir mas lejos). Hay quien opinó, acertadamente a mi parecer, que quizá el mejor formato para Wakolda hubiese sido el de miniserie televisiva.

Con todo, Wakolda es una gran película.

LO BUENO: La niña está muy bien interpretada por Florencia Bado. Y bien  dirigida. Lo cual se agradece, porque el desempeño de los niños como actores en el cine argentino casi siempre fue asignatura pendiente. El catalán Àlex Brendemühl también construye un Mengele antológico. La fotografía, paisajes y reconstrucción de la época son otros puntos a favor.

LO MALO: Imagino que esta película, vista en EEUU, reforzará su idea preconcebida de que la Argentina “no es mas que un refugio de nazis y demás criminales y delincuentes”. En ese sentido, Wakolda es muy “oscarizable”.

Colaboração

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NAN