Crítica de Filme | Whiplash – Em Busca da Perfeição

Pedro Esteves

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7 de janeiro de 2015

Uma das produções mais esperadas do ano, ganhadora do prêmio de Melhor Filme pelo Júri e pelo público no Sundance Festival, Whiplash – Em Busca da Perfeição (Whiplash) conta a história de Andrew Neiman, um jovem e ambicioso baterista de jazz, cujo único objetivo na vida é se tornar o maior de todos. Estudante do melhor conservatório de música na costa leste dos EUA, ele sonha em fazer parte da melhor banda de Jazz do instituto. Esta é regida por Terence Fletcher, um professor reconhecido tanto por sua capacidade como instrutor quanto por seus métodos terríveis. A paixão de Andrew por atingir a perfeição rapidamente se converte em uma obsessão, enquanto seu professor implacável continua a pressioná-lo ao limite da sua capacidade, pois ele quer descobrir um novo Charlie Parker ou novo Mile Davis.

Whiplash – Em Busca da Perfeição estabelece, então, uma relação masoquista entre o baterista e seu professor, tudo em prol da perfeição (como o título em português já entrega). Contudo, o que é entendido por perfeição é a maestria técnica, ou – se preferir – a perfeição instrumental. Sendo assim, o filme reduz o Jazz, e podemos dizer a música, a somente seu nível técnico, interpretando os dois grandes músicos citados acima como só frutos de um apuro técnico. Se podemos olhar para Charlie Parker como, talvez, o maior saxofonista de todos os tempos, não podemos creditar esse fato somente a sua técnica fantástica, mas devemos também olhar a sua inteligência musical, criatividade, etc. Quanto a Mile Davis, um dos músicos mais influentes do século XX, apesar de um fantástico trompetista (há quem diga que ele não tinha técnica, um mito) nunca foi considerado tecnicamente exuberante. Só que ele era virtuoso, genial e principalmente musicalmente profundo.

A busca pela perfeição técnica musical

A busca pela perfeição técnica: relação masoquista entre aluno e professor

O que temos na tela é uma defesa ao sucesso e que o seu caminho se dá unicamente através da perseverança e obstinação doentia pela técnica. Assim, o filme não discute o Jazz (ou a música em geral) em toda sua amplitude, quer dizer, acaba por não discutir o gênero em si. Doravante, se podemos dizer que esse é um problema da película, por outro lado, também podemos colocar que maravilhosamente todos os aspectos do filme estão impregnados por essa busca por uma perfeição instrumental. O que, alcançado, torna Whiplash – Em Busca da Perfeição tecnicamente perfeito, dominando nossas emoções e expectativas, nos engolindo no desenrolar da história. A direção, a fotografia, a direção de arte, o som e, principalmente, a montagem estão impecáveis.

“Detalhe” é a característica que o diretor buscou como foco da narrativa. Os planos detalhes; a iluminação que recorta os instrumentos e os personagens principais da cena; a atuação do ator principal que muitas das vezes só expressa os sentimentos de seu personagem pelo minimalismo (a única lágrima que desce de seu rosto); a arte minimalista enaltece os atores e quase passa despercebida, a não ser pelos detalhes; a edição que busca cada virada da música e cada gesto dos personagens finaliza esse universo em que o detalhe é o que faz a diferença na busca pela perfeição.

Filme é tecnicamente impecável

Filme é tecnicamente impecável

Whiplash – Em Busca da Perfeição, então, é tecnicamente fantástico, inclusive no roteiro. O que, no entanto, atrapalha o filme, – SPOILER ALERT – pois o obriga a ser Hollywoodiano mais do que um filme independente precisaria, gerando uma cena final pra lá de piegas com momentos ridículos – FIM DO SPOILER.

Por fim, diria que é um filme muito bom, que vale a pena ser visto, desde que você leve em conta tudo que está escrito acima, sabendo que é uma produção com uma visão instrumentalista demais e, com isso, acaba reduzido o significado do que é música, arte e vida.

BEM NA FITA: Tecnicamente perfeito, controlando nossas emoções e expectativas. A direção, a fotografia, a direção de arte, o som e, principalmente, a montagem estão impecáveis.

QUEIMOU O FILME: Entende arte como pura questão técnica, reduzindo a discussão proposta e defendendo o instrumentalismo como a única forma de perfeição.

FICHA TÉCNICA:

Título original: Whiplash
Gênero: Drama
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Adrian Burks, April Grace, Austin Stowell, C.J. Vana, Charlie Ian, Damon Gupton, J.K. Simmons, Jayson Blair, Jocelyn Ayanna, Kavita Patil, Kofi Siriboe, Melissa Benoist, Michael D. Cohen, Miles Teller, Nate Lang, Paul Reiser, Rogelio Douglas Jr., Tarik Lowe, Tian Wang, Tony Baker
Produção: David Lancaster, Helen Estabrook, Jason Blum, Michel Litvak
Fotografia: Sharone Meir
Montador: Tom Cross
Trilha Sonora: Justin Hurwitz
Duração: 106 min.
Ano: 2014
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 08/01/2015 (Brasil)
Distribuidora: Sony Pictures
Estúdio: Blumhouse Productions / Bold Films / Right of Way Films
Classificação: 14 anos

Pedro Esteves

Cineasta, fotógrafo, pedagogo e enoconsultor. É curioso por natureza, chato por opção e otimista por realismo. Midiaeducador no ensino formal, expõe seus trabalhos artísticos em facebook.com/estevesarte e presta consultoria em vinhos a partir de www.primusvinho.com.br .
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