Crítica de Série | Orange is the New Black (3ª Temporada)

Leandro Stenlånd

|

14 de junho de 2015

Aviso: Para quem ainda não assistiu ao final da segunda temporada, essa crítica contém spoilers.

Finalmente, depois de um ano, uma das séries mais aguardadas do canal Netflix, disponibilizou, horas antes do dia prometido, a tão esperada temporada de Orange is the new black (oitnb, para os mais íntimos). Depois de inúmeros teasers, boatos, anúncios de quem faria participações nesta temporada, finalmente pudemos nos postar à frente de nossas tvs (ou computadores), para acompanhar o desenvolver do dia a dia da Prisão Federal de Litchfield.

Muitas das pessoas que já acompanhavam a série (e seus fãs são bem fiéis), esperavam o desenrolar dos acontecimentos do último episódio da segunda temporada. Duas detentas, Rosa e Vee, escapam da prisão, Rosa, numa triunfante fuga no próprio furgão da prisão para passar seus últimos dias de vida em liberdade e Vee, saiu escondida pelo túnel da estufa e teve um fim trágico: foi atropelada sem dó por Rosa.

Após estes acontecimentos, era de se esperar de que a vida em Litchfield tivesse se tornado muito mais difícil para as que ficaram, duas presas escapam, uma é assassinada e… nada acontece. A única punição foi que Morello passou a integrar o grupo de limpeza e Pennsatucky assumiu a van.Não houve uma transição bem feita e sutil entre as duas temporadas porque, um dos maiores destaques dramáticos desta temporada – explorado nos teasers que a série disponibilizou à exaustão – foi o retorno de Alex Vause à Litchfield e uma nova fase de sua relação com Piper Chapmann.
oitnbruby

A situação financeira de Litchfield

Depois da denúncia e da dispensa de Figueroa quando foi provado que ela desviava verbas que deveriam ser destinadas a prisão, Joe Caputo fica, temporariamente encarregado de lidar com tudo o que diz respeito à Litchfield. Após um surto de percevejos, ele se dá conta de como é difícil administrar uma penitenciária tendo em mente que, para seus superiores, Litchfield deveria

dar menos custos possíveis. Nenhum, seria ainda melhor, embora impossível. É anunciado que a prisão vai fechar e, embora Caputo tenha a promessa de que será redesignado para outro local, devido a sua vasta experiência, o mesmo não se pode dizer dos demais funcionários. Para ele, isso é inaceitável. Apesar de querer impôr uma fachada de “durão”, Caputo realmente se importa com seus funcionários e com as mulheres encarceradas e faz de tudo para encontrar uma solução. Após uma dica arrancada de Figueroa, chega-se a conclusão de que a privatização de Litchfield poderia resolver os problemas de todos.

Privatização

No entanto, os problemas estão somente começando. Caputo tem anos de experiência já que ele foi primeiramente um agente carcerário e foi subindo de posição. Ele conhece o funcionamento da prisão, os direitos das detentas e como evitar problemas. Embora tanto ele quanto os demais agentes penitenciários permaneçam em seus antigos postos, a experiência deles é desprezada. Ao privatizar a penitenciária, aquele local terá que se adequar e servir à lógica capitalista: produzir lucro e, dar o mínimo de despesas. Então um novo grupo de trabalho é criado, uma oficina onde as detentas selecionadas farão roupas íntimas para uma outra empresa, que, apesar de pagá-las mais do que elas recebem em trabalhos de manutenção da prisão, as insere em um esquema de mão-de-obra barata e sem nenhum direito trabalhista. Os fornecedores mudam, de maneira que tudo seja adequado a este padrão de “quanto menos despesa, melhor”. A comida não é mais fresca e vem em sacos a serem esquentados. Outra grande mudança que causa bastante revolta, é a dimunição dos direitos trabalhistas dos agentes que já trabalhavam em Litchfield. Todos eles tem sua jornada de trabalho reduzida, não possuem mais os direitos que lhes eram assegurados e não fazem mais parte do sindicato de agentes penitenciários, o que os leva a conclusão de que eles mesmos deveriam fundar seu próprio sindicato para proteger seus interesses e direitos.

d230c2f98dceb34e63259d59158cc58ece7811a7

Maternidade

A maternidade se mostra um assunto que é desenvolvido durante toda a terceira temporada. O primeiro episódio é o de dias das mães, onde as detentas tem o direito de passarem um tempo fora da sala de visitação com seus filhos, mães e familiares.É possível perceber o grande número de detentas que são mães e tem vários filhos lá fora, que são cuidados por seus maridos e/ou familiares. Uma boa parte destes filhos, é menor de dezoito anos (embora haja presas mais maduras, com filhos adultos). E o dilema das mães de filhos menores de idade é constantemente trabalhado. São também expostas as relações maternais dentro da penitenciária. Existem mulheres que exercem o papel de mães das presas em diferentes grupos étnicos e religiosos. Red se coloca como a mãe das mulheres brancas, fazendo tudo o que está ao seu alcance e, as vezes até mais para ajudá-las. Principalmente para ajudar as viciadas como Nicky a se manterem sóbrias. Glória exerce o papel de mãe das latinas e, além disso, tem que lidar com os problemas que seu filho mais velho vem apresentando. Com a morte de Vee, Taystee descobre que as presas das outras etnias enxergam nela a figura maternal que zela pelas outras mulheres negras, o que é corroborado pelo fato de que, em diversos momentos, ela parece ser a mulher negra que precisa colocar juízo na cabeça de suas amigas, a detenta que os guardas vêem como guardiã de Crazy Eyes, tendo o poder de acalmá-la e ajuda Poussey quando esta perde o controle com a bebida.

Na questão religiosa, a ascensão de Norma como uma espécie de guru que pouco a pouco começa a ter um séquito, ela é vista como uma espécie de mãe pelas suas seguidoras, independente de etnia e, para aquelas que se voltam ao catolicismo, Irmã Jane continua a exercer o papel de mãe e aconselhadora espiritual.

Há ainda a relação de Aleida e Dayanara Diaz e de ambas com o feto de Dayanara, uma relação de mães dentro do presídio que é extremamente problemática; e a culpa que Pennsatucky sente em relação aos inúmeros abortos aos quais se submeteu. Assunto que, só consegue se resolver para ela com a ajuda de Big Boo.

Outra abordagem interessante sobre a questão da maternidade, é que, durante os flashbacks que mostram um pouco da história das presas, seja quando estas eram crianças, adolescentes, ou quando já estavam na vida do crime, em uma boa parte dos flashbacks desta temporada vemos, pela ótica de algumas detentas, o papel determinante que a mãe delas desempenhou para que elas seguissem um caminho desviante, seja porque elas queriam uma vida melhor do que a das mães, seja porque a mãe não as aceitava ou porque não tiveram atenção o suficiente enquanto cresciam.

O que agita Litchfield nesta temporada

Para cortar custos, novos agentes penitenciários são contratados para suprir a carga horária diminuída dos já existentes. Eles são contratados sem critério e não tem o devido treinamento, o que acarreta em diversos erros de conduta e inclusive, facilita que se cometam mais crimes dentro da prisão. Muitas vezes, as próprias detentas precisam explicar aos novos agentes como as coisas funcionam e, como suas atitudes poderiam facilitar que elas mesmas cometessem mais crimes e que eles tivessem problemas.

Joe Caputo, embora ache que tenha conseguido salvar Litchfield, se dá conta de que é apenas um peão dentro de uma grande corporação que não tem consideração pelas pessoas e visa somente o lucro.

Mr. Healey começa a ter que dividir o aconselhamento com outra conselheira, o que desperta o pior lado dele. Sendo confrontado com uma profissional com táticas mais brandas e em constante trabalho de se reciclar, Healey coloca para fora diversos preconceitos para que consiga se livrar daquela que considera a sua oponente.

A nova conselheira, Berdie,  começa um programa de teatro onde encoraja as detentas a contarem suas vidas e descontarem suas frustrações através de esquetes teatrais. Crazy Eyes escreve uma estória erótica ficcional, que é vetado por Berdie. Após os escritos de Susanne caírem nas mãos de outras presas, ela se vê pressionada a continuar escrevendo pelas suas próprias fãs.

orange

Participações da terceira temporada

Nesta temporada aparecem em Litchfield Lolly (Lori Petty), que, na verdade, conhece Piper em uma prisão em Chicago e é transferida e, Stella (Ruby Rose), uma criminosa australiana, que, pelo que parece já estava na prisão mas nunca chamou muita atenção para si mesma. Ambas as personagens vieram para desestabilizar a relação de Piper e Alex.

Alex começa a desconfiar que Lolly é alguém que Kubra, o traficante para quem ela trabalhava, mandou se infiltrar em Litchfield para matá-la. O que cria um ambiente hostil entre elas, e torna Alex cada vez mais paranoica, fazendo com que o interesse de Piper nela diminua.

Já Stella aparece como a personagem que constitui o triângulo amoroso nesta temporada. Piper se afasta de Alex e se aproxima de Stella, personagem da qual não sabemos muito.

Um dado interessante é que Ruby Rose, que interpreta Stella, é uma aquisição à série que amplia a diversidade de gênero já presente em oitnb. Temos Sophia, interpretada por Laverne Cox, uma mulher trans. Ruby Rose se define como gender fluid (identidade de gênero não binária e não limitada a um único gênero). Embora na série ela seja retratada como uma mulher lésbica, é bom ver que existe espaço em oitnb não só para diversidade sexual, como também, de gênero.

Piper e Alex

Alex volta a prisão por causa de uma denúncia feita por Piper ao seu agente de condicional. Os sentimentos de Alex por causa da sua volta se mesclam entre raiva e depressão. Estes sentimentos logo ficam de lado quando ela e Piper retomam seu relacionamento e, o assumem. No entanto, Alex não consegue se livrar de uma intensa paranoia porque ela sabe que haverá alguma punição por ela ter delatado seu chefe em troca da sua liberdade.

Enquanto isso, desmotivada com as atitudes obsessivas de Alex, e começando a trabalhar na oficina de produção de calcinhas, Piper percebe uma oportunidade de instalar um novo tipo de contrabando. Esta situação vai escalando até que Piper assume a posição de nova grande contrabandista de Litchfield, passando de apenas cúmplice de tráfico a galgar uma posição de chefe do crime organizado.

A série continua no mesmo formato que a tornou famosa, alternando drama e comédia. Há cenas belíssimas como por exemplo a penúltima cena da temporada e há assuntos bem problemáticos e difíceis de assistir, como estupro de uma das detentas e a trans-fobia sofrida por Sophia. Ao terminarmos de assistir a terceira temporada de oitnb temos certeza que mais mudanças acontecerão, resta saber se da próxima vez o gancho de uma temporada para outra será explicado, se os assuntos pendentes serão mais elaborados ou se mais será deixado para a nossa imaginação.

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
O que sabemos sobre Wicked Boa noite Punpun Ao Seu Lado Minha Culpa Lift: Roubo nas Alturas Patos Onde Assistir o filme Lamborghini Morgan Freeman