Crítica de Série | War and Peace

Os britânicos sabem como fazer séries de TV e a BBC é mestre nisso. Temos outras séries no mesmo estilo que se tornaram um certo sucesso, tais como Dickensian, Merlin, Sherlock, Atlantis e agora War and Peace, que na verdade é uma produção parceria entre os britânicos da BBC e os norte-americanos do A&E (que por sua vez também exibe a produção no Lifetime e History Channel), e é uma adaptação da obra de mesmo nome, criada pelo autor russo Leo Tolsoty. Mas não basta você pegar uma história de uma outra mídia e adaptar para a TV de qualquer jeito, sem o menor cuidado e quando se trata de ter critérios a BBC é definitivamente a melhor.

A história apresenta a trajetória de diversos personagens, entre eles os membros de famílias aristocratas russas que sofrem as consequências da invasão do exército de Napoleão. Tendo fatos históricos como pano de fundo, a trama desenvolve situações que exploram o preconceito e a hipocrisia da nobreza, as tradições religiosas e a rotina de militares em período de guerra e claro, o romance na forma mais tenra possível. Ambientada nas invasões de Napoleão a Áustria e Rússia entre 1805 e 1812, a minissérie que deve ter somente esta temporada, acompanha os efeitos que elas tiveram nos caminhos de cinco famílias . No trio de protagonistas temos a jovem Natasha Rostova, interpretada por Lily James. Com 13 anos ao inicio da história Natasha é a clássica heroína romântica, a personificação da espontaneidade e que quer viver a vida ao máximo – canta, dança, vive por um amor onde o príncipe dos sonhos é o alvo. Quando ela vê o romance de seu irmão Nikolai e sua prima Sonya florescer, ela fica decidida a experimentar o amor por si mesma. Interpretado por Paul Dano, Pierre Bezukhov é o filho bastardo do Conde Bezukhov. Educado no exterior, Pierre retorna, por causa do agravamento da doença de seu pai, cheio de ideias revolucionárias e liberais para um mundo altamente aristocrático e antiquado. Obviamente a alta sociedade de São Petersburgo passa a evita-lo, porém ele pode contar com dois verdadeiros amigos, Natasha Rostova que ama sua sinceridade e Andrei Bolkonsky. Fechando o trio, Príncipe Andrei é um jovem e brilhante aristocrata, cuja esposa está gravida pela primeira vez. Ele despreza o mundo raso e fútil de São Petersburgo, e quando a guerra irrompe ele logo se alista. Aquela era a chance que ele estava esperando, uma chance de encontrar glória e um propósito para sua vida.

Mas então, falemos da narrativa da série, que é implacável no quesito competência; A Invasão francesa na Rússia em 1812, também conhecida como a Campanha Russa e Guerra Patriótica de 1812 foi um momento histórico do ponto de viragem durante as Guerras Napoleônicas. Reduziu a dimensão das forças francesas e forças aliadas (o Grande Armée) para uma pequena fração de sua força inicial, e provocou uma grande mudança na política europeia, uma vez que enfraqueceu dramaticamente a hegemonia francesa na Europa. A reputação de Napoleão como um gênio militar invencível foi emoldada e mostrada em um ângulo extremo onde após anos de guerra entre ele e os Russos, tamanha genialidade militar foi severamente abalada, enquanto antigos aliados do Império Francês, primeiro o Reino da Prússia e depois o Império Austríaco, romperam a sua aliança com a França, e trocaram de lado, desencadeando a guerra da Sexta Coligação.

A série enaltecida por uma linda caracterização joga o espectador de um lado ao outro, passando pela Áustria, Suíça, Rússia e França. As guerras a princípio localizadas como conflitos entre soberanos, tornaram-se guerras nacionais a partir da resistência popular, mostrando-se mais como uma guerra civil na série.

A postura agressiva de Napoleão dada na série, fez com que o indômito herege francês tornasse inimigo de muitos países e lhe custou aliados.

A julgar por toda a série,  essa nova adaptação é excelente, não deixa nada a desejar para as demais e nem para os fãs antigos e modernos da consagrada obra de Leo Tostoi. Percebe-se que realmente entramos em uma era de adaptações literárias, não só na Inglaterra, mas a nível mundial.

O Figurino e a fotografia são uma beleza à parte. Desenvolvem toda a trama simplesmente no detalhe de se vestir, onde cada cor, onde o vermelho em si, vigora como o sangue que brota da alma tentando de toda a forma emplacar um visual que ao mesmo tempo vai do noir e lê-se (ao se ver) idem para o contemporâneo, pois somos arremessados a esta narrativa sem dó.

O Foco central da série é em Andrei, Natasha e Pierre, que são três personagens que começam a se colidir quando os conflitos armados envolvendo França e Rússia se tornarem mais intensos. Alguns deles ficarão de lados opostos de acordo com os seus interesses individuais.

O roteiro da série é impecável e ausente de furos, e apesar de ser uma série de época, com um piloto de uma hora e narrativa naturalmente mais lenta, ela oferece uma estrutura de apresentação dos acontecimentos que não cansa o telespectador, pois apesar da série ter – somente – seis episódios, tudo acontece em seu devido tempo e com isso, cada personagem é desenvolvido de maneira corretíssima. Os personagens são carismáticos e oferecem plots interessantes na maioria dos casos. Toda a trama que se cria inicialmente promete uma movimentação constante entre esses personagens, que estão, de alguma forma, conectados com o cenário de guerra que acontece em paralelo, no plano de fundo. Mesmo sabendo que a guerra está lá acontecendo do lado de fora, o que alimenta os acontecimentos da trama são os plots dos personagens. As suas motivações individuais. Esses são os motivos pelos quais podemos acompanhar essa história com maior interesse. Uma hora o conflito armado vai se tornar evidente e restará ao telespectador saber como essa guerra vai afetar essas histórias.

As atuações do elenco conseguem deixar o espectador vibrante. As coadjuvantes Gillian Anderson (The Fall) e Tuppence Middleton (A Riley de Sense8) roubaram a cena, pois tem um carisma vislumbrante, Gillian interpretando Anna Pavlovna algum tipo de matrona que controla a alta sociedade de São Petersburgo, e Tuppence interpretando a ambiciosa Helene Kuragina, que fez de tudo para se casar com um dos condes da série, e até que conseguiu, mas também conseguiu um final tão trágico quanto sua ambição. Ao final da série, toda opulência contida durante os 5 episódios, estava completamente exaurida. Tudo que foi muito bem construído para cativar e prender a atenção do espectador, no final, terminou como um típico filme de drama com romance.

Enfim, War and Peace é uma série simplesmente maravilhosa, cenários perfeitos, figurinos deslumbrantes, fotografia estonteante, produção impecável, cenas de guerra perfeitas e muito bem orquestradas, romances avassaladores e que deve ser assistida com toda a atenção.