Crítica de Teatro | Chaplin, O Musical

Larissa Frade

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10 de setembro de 2015

Há pelo menos 10 anos, o Brasil passou a descobrir e valorizar o que a Broadway já faz há mais de um século: o poder do teatro musical. O país já teve o prazer de desfrutar de peças como “O Rei Leão”, “O Fantasma da Ópera”, “Cats” e também de produções completamente nacionais como Cassia Eller, Cazuza e outros. E dessa vez o grande homenageado foi um dos atores mais importantes do cinema mudo/comédia: Charlie Chaplin.

Chaplin, O Musical, estreado em 2012, tem sua versão brasileira a cargo de nada mais nada menos que Miguel Falabella (ainda estou tentando descobrir algo que ele tenha feito de forma não tão boa) e direção de Mariano Detry. As letras foram traduzidas para o português, mas as melodias foram mantidas. As músicas e letras originais são de um dos criadores da peça – Christopher Curtis (completando a parceria com Thomas Meehan). O elenco conta com nomes como Jarbas Homem de Mello no papel principal, Marcello Antony no papel do irmão de Chaplin – Sydney, Paulo Goulart Filho no papel do primeiro produtor de Chaplin nos EUA – Mack Sennett, e grande elenco.

Algumas curiosidades sobre a peça são muito interessantes: Jarbas teve que emagrecer 8kg para fazer Chaplin com perfeição, 5 músicas são inéditas na montagem brasileira (todas foram escritas pelo criador Curtis), algumas alterações no texto foram feitas para deixar a peça mais dinâmica e a montagem brasileira foi tão bem aceita pelos criadores da peça que eles farão essa montagem em outros países.

A peça retrata toda a vida de Charlie, desde a sua infância com a relação tempestuosa de seu pai alcoólatra e sua mãe doente, passando pela primeira apresentação no teatro vaudeville, até a criação de Carlitos, a extradição dos EUA por uma alegada afiliação ao partido comunista e a grande consagração no Oscar. Tudo isso mostrado pela relação de Chaplin com o seu irmão Sydney.

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O musical repleto de dança, muito colorido, utiliza-se de imagens reais misturadas a encenação da peça. As mudanças de cenário são realizadas pelo elenco de apoio, o som é impecável – ponto forte para a casa que não costuma ter um som muito bom para peças desse gênero, todo o elenco está entrosado e muito bem ensaiado, não há margens para erros. Um ponto muito alto nessa peça foi com a banda ao vivo. Geralmente é utilizado um foço para que a banda possa tocar nesses tipos de musicais, mas no caso da peça ela ficava escondida e em uma das cenas fez parte do cenário. Além de Jarbas – eu me senti como se Chaplin estivesse na minha frente, vivo – vale destacar as atuações de Naíma como mãe de Chaplin e Paula Capovilla como a colunista de fofocas Hedda Hooper (que voz maravilhosa!).

Mas não só de pontos positivos sobrevive uma peça. Nesse caso, dois pontos incomodam. O primeiro foi o sotaque muito forçado de Marcello Antony. De todas as personagens inglesas da história ele era o único que falava com sotaque, o que no meu ponto de vista criou uma desarmonia com o resto do elenco. E o segundo foi na interpretação do discurso final do filme “O Grande Ditador”. A interpretação de Jarbas Homem de Mello ficou muito inflamada, muito cheia de energia, quando na realidade a interpretação do filme é mais sentimental. Mesmo esses pormenores não deixaram de abrilhantar a peça de forma geral.

Mesmo com algumas alegações de que a peça não retrata fielmente a vida de Chaplin (vale lembrar que isso é uma adaptação de uma vida e não uma obra literal), a peça é espetacular e, com ela, podemos ter uma leve sensação de poder entender o funcionamento de uma das mentes mais geniais do cinema mundial.

:: FICHA TÉCNICA

Texto original: Christopher Curtis e Thomas Meehan
Músicas e letras originais: Christopher Curtis
Versão brasileira: Miguel Falabella
Direção: Mariano Detry
Produtores associados: Claudia Raia e Sandro Chaim
Direção musical e vocal: Marconi Araújo
Coreografia: Alonso Barros
Cenografia: Matt Kinley
Figurino: Fábio Namatame
Visagismo: Dicko Lorenzo
Design de luz: José Possi Neto e Drika Matheus
Design de som: Tocko Michelazzo
Design de vídeo: Luciana Ferraz e Otavio Juliano
Elenco: Jarbas Homem de Mello, Marcello Antony, Paulo Goulart Filho, Naíma, Paula Capovilla, Giulia Nadruz, Leandro Luna, Cauã Martins, Gabriel Cordeiro, Ana Catharina Oliveira, Andreza Meddeiros, Julia Duarte, Mariana Tozzo, Talitha Pereira, Vânia Canto, Arthur Berges, Felíppe Moraes, Fhilipe Gislon, Gustavo Ceccarelli, Marcos Lanza, Maurício Alves.

Larissa Frade

Se eu pudesse me definir em uma palavra poderia dizer que sou paradoxos. Adoro aprender, mas tenho preguiça de começar a estudar. Amo heavy metal, mas sou cantora lírica. Quero emagrecer, mas penso como gorda. Quero um amor só para mim, mas amo ser livre. Quero me mudar, mas tenho medo de mudanças. Só em uma coisa sou incisiva: eu quero ser feliz!
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