Crítica de Teatro: Eu me amo, Eu me aprovo

Bernardo Sardinha

Escrita e dirigida por Vinícius Arêas Eu me amo, Eu me aprovo é a primeira montagem do Grupo Atorais, um grupo de jovens atores que decidiram montar textos inéditos.

É legal ver que através do crowfunding o grupo conseguiu o financiamento necessário para montar sua peça. Tal iniciativa é importante se queremos ver cada vez mais textos inéditos, algo que o teatro carioca é um pouco carente.

eu me amo, eu me aprovo

Como primeira montagem, o texto, assim como sua produção, tem seus tropeços. Alguns podem ser relevados. Outros não.

Eu me amo, Eu me aprovo gira em torno de dois terapeutas que dividem portas em um prédio comercial em Laranjeiras, o politicamente incorreto Dr.º Cláudio (Vinícius Arêas) e a (in)competente Dr.ª Lurdes (Dayanna Lima). Os eventos se desenvolvem após a morte de uma paciente da Dr.ª Lurdes.

Com as primeiras cenas de exposição são muito longas, a peça demora a decolar. Mas esse problema não é só do começo do espetáculo. No decorrer da apresentação há outras cenas em que os objetivos não são claros, tornando-as demasiadamente longas. A do primeiro encontro entre os personagens do Dr.º Cláudio e da Dr.ª Lurdes, por exemplo, rende alguns momentos engraçados, mas, pela sua extensão, sacrifica o ritmo da peça como um todo.

Eu me amo etc capaO texto contribui bastante com o ritmo esquisito que a montagem possui. No começo, a exposição é longa demais, mas, depois dessa fase, o roteiro decola – com alguns soluços, mas decola -, e nos últimos momentos do último ato, a peça se arrasta para terminar.

Talvez, o texto sofra com o excesso de piadas, o que pode parecer estranho para alguns, mas, se cortasse uma aqui e outra acolá, permitiria a peça evoluir com mais ritmo como um todo.

O humor, como podem ver, está presente em boa parte do texto, variando entre o negro e o de tiradas rápidas. Sem dúvida, um dos personagens que ganham mais destaque é o divertido Dr.º Claudio, interpretado por Vinícius Arêas, que soube utilizar todo o potencial cômico de seu papel interpretando uma pessoa cuja a moral é altamente duvidosa.

A luz é responsável por dividir o palco em 4 ambientes diferentes e cumpre seu papel com bastante dignidade. A única derrapada nesse sentido foi na cena em que teve um B.O. (blackout). Para ele ser um B.O. é necessário a total ausência de luz, mas a iluminação da cabine estava vazando, o que incomodou bastante, pois comprometeu um dos momentos mais legais da peça.

Outra coisa importante: a coxia ao fundo não estava escondendo bem os atores. Lá de trás da platéia podia-se ver o entra e sai dos artistas. Não comprometeu em nada a peça, mas é algo que se deve prestar atenção.

No que se refere às atuações, elas estavam exageradas no começo, mas depois dos primeiros minutos melhoraram. Coisa pequena, mas que incomodou no início.

eu me amo, eu me aprovo BO

Enfim, Eu me amo, Eu me aprovo demora para decolar. Tirando esse problema do ritmo, depois que engrena, o espetáculo se torna agradável, com alguns momentos bem divertidos.

Bernardo Sardinha

NAN