Crítica de Teatro: Jumbo – eu visito a tua ausência
Colaboração
****Colaboração de Pedro Nogh****
Está em cartaz apenas durante o mês de maio, no Teatro da Companhia dos Atores, a peça Jumbo – eu visito sua ausência. O teatro fica super escondidinho na escadaria do Selarón, na Lapa. É verdade. Esse título é estranho e bem pouco explicativo. Também é verdade. Mas, neste caso, vale muito a pena deixar o preconceito de lado e ir assistir ao belíssimo trabalho da estreante companhia O Bau da baronesa.
Sete mulheres vão até o complexo prisional visitar os seus, com a mesma simultaneidade que faz dos ambientes de visita dos presídios um burburinho de relatos cotidianos, novidades da família, declarações de amor, mas também dificuldades escondidas e rancores inconfessos. As visitas periódicas são o fio condutor do drama, em que essas mulheres compartilham as vivências de quem tem um marido, namorado, irmão, filho ou pai encarcerado pela força da lei. Em lugar do preso, há o olhar do espectador. A ele os conflitos são apresentados e evoluem em um diálogo em que apenas uma das partes é ouvida.
Cilene Guedes, Fernanda Bastos, Fernanda Huffel, Heloisa Lazari, Letícia Milena, Naiana Borges e Nina Pamplona se entregam com energia e sensibilidade a seus papéis. Junto com a diretora, Joana Lebreiro, as atrizes apresentam ao público personagens muito bem construídas. Um mergulho complexo e profundo no universo dessas mulheres que convivem com sofrimento e a angustia de uma prisão.
Cilene Guedes assina a dramaturgia. Ela também é jornalista e fica fácil perceber esta sua outra vocação durante a peça. A encenação é um documentário, rico, bem embasado e repleto de informações sobre o tema. Durante duas horas somos fisgados por cativantes histórias (um mosaico de realidade e ficção) e saímos modificados.
O cenário, assinado por Karla Pê, também merece elogios. Criativo, multifuncional e simples.
São trabalhos como este que nos faz acreditar que a arte ainda é indispensável para o desenvolvimento e o aprendizado do ser humano.