Crítica de Teatro: “Malinche”
Anna Cecilia Fontoura
Último fim de semana para conferir o monólogo “Malinche”, que está em cartaz no Espaço Sesc, em Copacabana.
No México “recém-descoberto” pelos europeus, todas as comunicações entre brancos e índios (leia-se dominadores e dominados) passavam pela boca de Malinche. A indígena deu a luz aos primeiros mestiços, mas ao mesmo tempo, teve um papel crucial no nascimento da colonização espanhola no México. Sendo que este último fato é considerado traição, até hoje, em sua terra natal… Malinche ficou eternizada não só na História da América Espanhola, mas inclusive no idioma de sua gente (no México existe até os termos malinchismo e direita malinchista – todos pejorativos e relacionados a exaltar o que vem do exterior…). E assim essa personagem histórica tornou-se persona non grata em sua própria pátria. Consigo Malinche carrega o peso da traição e da vergonha (por ter servido ao colonizador e traído os índios), mas também o orgulho de ter sido poderosa e fundamental nos rumos da sociedade mexicana.
Enquanto a história friamente julga a índia como traidora, o espetáculo “Malinche” se propõe a ser uma bela defesa da personagem-título. Logo nos primeiros minutos, a atriz Rosana Reátegui, que é estrangeira, conta suas experiências no Brasil. Por vezes, ela afirma que se a protagonista estivesse aqui faria assim e se ela fosse Malinche faria assado. E assim começa a evidenciar o ser humano que há por dentro da figura histórica. Dessa forma, a montagem convida o público a sentir quem foi essa mulher e entender o porquê de tanta polêmica em torno dela. Através da visão de mundo de Malinche, as mais relevantes passagens de sua vida são vivenciadas no palco. O monólogo faz a plateia mergulhar na subjetividade e nos conceitos que envolvem a controversa reputação dessa indígena. Cada detalhe no palco, é uma peça fundamental para perceber a história dessa mulher, que seguiu o curso imposto pelo seu destino e aprendeu a adaptar-se. Cada objeto é justificado de alguma forma durante a peça. Seja com poesia, seja com ironia, e até traçando um paralelo da história de Malinche com a cultura brasileira.
Vale ressaltar que durante o espetáculo diversos tipos de recursos são utilizados. Desde instalações, vídeos, poesias até intervenções diretas do diretor. Nada é por acaso! Mas, confesso que nem tudo é possível compreender assim instantaneamente, principalmente se você não está tão por dentro assim da biografia de Malinche. Mas, o espetáculo é ousado e surpreendente. Enfim, deixei o Espaço Sesc feliz por ter vivenciado arte vinda do palco…
MALINCHE
Espaço Sesc (Sala Multiuso) – Rua Domingos Ferreira, 160. Copacabana/RJ
Até 27 de outubro (sexta e sábado às 20h e domingo às 18h)
R$ 5 (cinco reais), para associados SESC, R$ 10 (dez reais) para jovens de até 21 (vinte e um) anos, estudantes, classe artística e maiores de 60 (sessenta) anos e de R$ 20 (vinte reais) para os demais
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Iracema Macedo e Warley Goulart
Direção: Warley Goulart, Atriz Rosana Reátegui
Cenário: Gilberto Gawronski
Iluminação: Tomás Ribas
Figurino: Leonam Thurler
Trilha Sonora: Rosana Reátegui
Fotografia e Design Gráfico: Thiago Motta
Vídeos: Phillip Johnson e Warley Goulart
Cenotécnico: Mano Ribeiro
Vozes em Áudio: Leonam Thurler, Rocio Salazar e Warley Goulart
Ator no Vídeo: Edison Mego
Assessoria de Imprensa: Mônica Riani
Produção Executiva: Joana do Carmo
Idealização: Rosana Reátegui
Realização: Espaço SESC e Caleidoscópio Cultural