Crítica de Teatro: Oleanna

Bruno Giacobbo

A atemporalidade, qualidade de se manter sempre atual independente da época em que foi escrita, é o que faz uma peça ser encenada indefinidamente. Grandes autores como Shakespeare, por exemplo, primam por esta característica. Suas obras não envelhecem, são seculares. Sem querer cometer o sacrilégio de compará-lo ao bardo inglês, o dramaturgo norte-americano David Mamet segue pelo mesmo caminho.

Mais conhecido no Brasil por seu trabalho em Hollywood, Mamet tem raízes firmemente fincadas no teatro. Fundador da companhia teatral Atlântica, antes de se aventurar como roteirista e diretor, ele escreveu diversas peças de sucesso. Em 1984, recebeu o Prêmio Pullitzer por Glengarry Glenross. Posteriormente, esta excelente comédia-dramática sobre o dia a dia de uma imobiliária, em plena crise econômica, foi transformada em um filme excepcional, batizado por aqui de O Sucesso a Qualquer Preço (1992). É de sua autoria, também, a peça Oleanna, em cartaz no Teatro Gláucio Gill, em Copacabana, no Rio de Janeiro, desde o dia 14 de março.

Se em Glengarry Glenross vender um imóvel quando ninguém quer comprar é uma forma de ter poder (um desejo completamente atemporal) e garantir o emprego, em Oleanna, esta aspiração pelo poder é tratada sob o prisma da relação professor-aluno. De acordo com regras pré-estabelecidas, cabe ao mestre ensinar, avaliar e decidir se o discípulo deve ou não ser aprovado. Ao aluno cabe fazer tudo o que professor mandar, estudar e aguardar pelo resultado. Funciona sempre assim. Será?

Carol (Luciana Fávero) é uma estudante universitária com dificuldade de aprender. Diante da iminente reprovação em uma matéria, ela procura o professor (Marcos Breda) para entender o porquê da nota baixa recebida no último trabalho. A partir daí, o que se vê em cena é um intricado jogo de insinuações e acusações em que o mestre descobrirá que, talvez, sua posição não lhe garanta o controle da situação. Aos poucos, a balança do poder se inverterá.

O texto de Mamet, por si só, é envolvente, ele prende a atenção do público em uma trama onde a tensão crescente explode, no fim, de forma arrebatadora. Nas mãos de atores como Fávero e Breda, que se entregam de corpo e alma aos papéis, fica ainda melhor.

De resto, o único problema de Oleanna é o pouco tempo que ela ficará em cartaz. Somente até o dia 21 de abril. Ah, uma curiosidade: em algumas apresentações o personagem do professor será vivido pela atriz Miwa Yanagizawa. Uma inovação proposta, e muito bem-vinda, do diretor Gustavo Paso.

Desliguem seus celulares e boa diversão.

Ficha técnica:
Texto: David Mamet
Tradução: Marcos Daud
Direção: Gustavo Paso
Cenário: Gustavo Paso e Teca Fichinski
Figurinos: Teca Fichinski
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Trilha Composta: Andre Poyart
Assistente de direção: Mônica Vilela
Serviços:
Estreia: 14 de março
Temporada: Até 21 de abril
Classificação: 14 anos
Duração: 75 minutos
Lotação: 123 lugares
Gênero: Drama
Horário: 20h
Valores: R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
Local: Praça Cardeal Arco Verde S/N
Telefone Bilheteria: 2547-7004
Horários: De sexta a segunda – às 20h

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN