Crítica de Teatro: Olheiros do Tráfico

Leonardo Ramos

Olheiros do Tráfico, espetáculo que estreou no último dia 17 no SESC Casa da Gávea, conta a história das idas e vindas de dois adolescentes, Crika (Sandro Barçal) e Tavim (Bruno Suzano) que trabalham como olheiros para o tráfico de drogas em alguma favela do Rio de Janeiro. Com texto a direção de Moisés Bittencourt o enredo toca em temas como amizade, família, vício, injustiça social, sexo, amor do universo dos personagens. A história tem uma capacidade de prender a atenção e as atuações conseguem, em diversos momentos, transportar o público para aquele universo, que  apesar de violento, não é muito distante de nós.

Bruno Suzano de destaca dando vida ao olheiro Tavim Fotos: Divulgação

Bruno Suzano de destaca dando vida ao olheiro Tavim
Fotos: Divulgação

 Bruno Suzano se mostra a vontade na pele de Tavim, o garoto que cresceu na favela e que sabe, que, por causa de seu trabalho, provavelmente vai morrer nela. O arquétipo do “traficante-menor-de-boca-mole” já foi feito mil vezes, e mesmo assim, é muito bom ver este jovem ator se entregar ao personagem, explorando bem tanto seus momentos mais cômicos quanto os mais dramáticos. Não é a toa que Bruno Suzano recebeu o prêmio FITA de teatro na categoria ator revelação. Já Sandro Barçal que interpreta Crika, garoto viciado em drogas que largou a família da zona sul para virar traficante. Apesar do ator se mostrar competente, parece que ainda não agarrou o personagem com unhas e dentes, ou que ainda está amadurecendo aquele ser, que de longe é bem mais complexo e trágico que seu par. O mais importante está lá, a química entre os dois personagens funciona muito bem e é difícil desviar o olhar quando os dois estão interagindo.

Contudo, tanto o texto como a direção possuem momentos que reduzem o brilho do espetáculo. Apesar do texto trabalhar muito bem o relacionamento dos personagens, ele possui um didatismo desnecessário, nos momentos mais importantes de uma peça de teatro: o começo e o final. Um sendo hiper expositivo e o outro uma lição de moral ingênua.

Fotos: Divulgação

Fotos: Divulgação

Falando em hiper exposição, as partes onde os atores narram o que aconteceu após a cena (e às vezes durante) serve somente para acordar o público e fazê-los lembrar a todo momento que estavam em um teatro, o que podia não comprometer o ritmo, mas destoava do todo. Narrações estas que podiam, bem ou mal, ser passadas através de diálogos, ações ou qualquer outro meio, que não fosse os atores saindo de seus personagens e contando o que aconteceu. Parecia que demoravam para pegar no tranco novamente, ou seja, após cada quebra para narração demoravam uns alguns minutos para voltarem a ser Crika e Tavim. A transição das cenas não se dava de maneira fluida, e a luz, que poderia ser um grande aliado na produção, não ajuda em nada. A única coisa boa para se falar do cenário(duas penteadeiras com luzes de camarim e um cabideiro) é que ele reforça a ideia de que estamos em um teatro assistindo uma peça, fora isso, é mera poluição visual.

Olheiros do Tráfico, tirando os momentos de hiper exposição e didatismo, possui uma história que, apesar de velha e conhecida, é bem contada e possui uma boa química entre os atores, valendo a pena o preço do seu ingresso.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação


SINOPSE

OLHEIROS DO TRÁFICO conta a história de Crika e Tavim. Dois adolescentes que, por conta do vício e da negligência de uma sociedade consumista, se entregam à ilusão do tráfico tornando-se cúmplices e vítimas ao mesmo tempo. Monitorados dia e noite pelo chefe da boca; Carlos Alberto dos Santos, mais conhecido como Sabuca, Tavim e Crika são levados ao caos da violência, migrando entre o mundo e o submundo.

 
SERVIÇO
LOCAL: Sesc Casa da Gávea
ESTREIA: 17 de janeiro de 2014
ENDEREÇO: Praça Santos Dummont, 116 – Gávea – Bilheteria: (21) 2239 3511
TEMPORADA: De 17 de janeiro a 23 de fevereiro de 2014
Sexta e sábado às 21h / Domingo às 20h
INGRESSO: R$ 50,00 (inteira)
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
CAPACIDADE: 60 pessoas.
DURAÇÃO: 65 minutos
GÊNERO: Drama
 
FICHA TÉCNICA
TEXTO E DIREÇÃO: Moisés Bittencourt
SUPERVISÃO ARTÍSTICA: Domingos Oliveira
ELENCO: Sandro Barçal (Crika) e Bruno Suzano (Tavim)
TRILHA SONORA: Moisés Bittencourt
SONOPLASTIA: Daniel Costa
ILUMINAÇÃO: Frederico Eça
PROGRAMAÇÃO VISUAL: Alexsander Fraga
FOTOS: Gil Nunes
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Rafael Klier
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Juh Galdino
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Fernando Gomes e Fabrício Chianello
ASSESSORIA DE IMPRENSA: Minas de Ideias
REALIZAÇÃO: Ymbu Entretenimento

Leonardo Ramos

NAN