Crítica de Teatro: Os Miseráveis

****Colaboração de Aline Macedo****

A Mostra de Teatro da UFRJ já conta com uma bagagem de 12 anos como plataforma de exposição dos novos talentos do Rio de Janeiro. É um evento que mobiliza todo corpo cênico jovem da cidade, atrai olhares e público, muito público. (Mais informações aqui, na matéria de divulgação).
Nem a chuva torrencial do último fim-de-semana conseguiu refrear os ânimos dos 43 atores-cantores do musical Os Miseráveis, o voo mais audacioso da Mostra. O mesmo aconteceu com o público, que encarou filas gigantes para assistir à montagem de cerca de três horas, divididas em 2 atos no projeto inicial (mas ninguém contou isso para a chuva da última sexta, dia 15, que fatiou o espetáculo). No domingo, dia 17, a apresentação se transformou numa serenata ao contrário, com o elenco devidamente vestido nas sacadas do prédio de Economia do Campus Praia Vermelha cantando para um mar de gente e guarda-chuvas, impedidos de se apresentar. Sem a cobertura para público e plateia, o espetáculo depende da boa vontade metereológica, e ela não foi generosa.

Por conta da intensa chuva e procura, Os Miseráveis terá duas apresentações extras nos dias 23 e 24 de março, e o melhor a aconselhar é: vá e chegue cedo para garantir uma das 400 senhas que acabam em 10 minutos. Elas são distribuídas a partir de 19h, só que vale a pena garantir seu posto por volta de 18h (ou 17h, pra quem não quer perder de jeito nenhum).
O esforço é recompensado por jovens rostos em cena, que ensaiaram voz e corpo por sete meses para encher de verdade uma montagem onírica do musical. Apesar de econômica em recursos cênicos, principalmente por ser apresentado num teatro de arena, o espetáculo tem potência e emoção.
Dentre os solistas, Luísa Suarez torna possível gostar de Cosette, uma das personagens mais apagadas (chatinhas!) dos últimos tempos. Delicada e concentrada, ela é um dos destaques mais bacanas da montagem. Leo Bahia, no papel de Jean Valjean, sustenta o protagonista com bom domínio vocal e carisma. Vitor Martinez, intérprete de Javert, é a voz mais grave e o domínio cênico mais consciente, e convence como o inspetor aficcionado pelo cumprimento da lei.
O coro é responsável por um preenchimento de cena interessante, cheio de movimentação e frescor, em plena sintonia com os solistas e o espírito das músicas. O Café ABC, os marinheiros e prostitutas que infernizam a Fantine de Calu Silveira (linda voz) e os fregueses da estalagem dos Thénardier (os divertidos Alê Sala e Bruno dos Anjos) são ricos em gestos e coloridos em emoção.

Algumas escolhas da montagem prejudicam o entendimento do enredo sem o acompanhamento do libreto ou o prévio conhecimento da história. Falta clareza em passagens como a fuga de Jean Valjean com Marius em seu ombro pelos “intestinos de Leviatã” (como diria Victor Hugo) ou esgotos de Paris, mas nada que quebre o encanto.
É um programa altamente recomendável, e fica a dica: guarda-chuva, uma boa mochila com mantimentos (não tem nada aberto no Campus no fim-de-semana) e sair de casa com antecedência vão garantir um bom evento pra todo mundo.
SERVIÇO:
Nova data: 23 e 24 de março
Horário: 20hs
Local: UFRJ – Campus da Praia Vermelha – Av. Venceslau Brás, nº 71.
Distribuição de senhas às 19h. Evento a céu aberto, sem cancelamento em caso de pouca chuva.
FICHA TÉCNICA:
Música: Claude-Michel Schönberg
Texto e Letras: Alain Boublil, Jean-Marc Natel e Herbert Kretzmer
Baseado no romance homônimo de Victor Hugo
Direção: Pedro Rothe
Orientação: José Henrique Moreira
Orientação de Direção de Movimento: Marcellus Ferreira
Assistência de direção: Lorena Morais e Manuela Muzachio
Direção Musical e Regência: Edvan Moraes
Assistência de Direção Musical: Matheus Brill
Preparação Vocal: Leandro da Costa
Arranjos: Edvan Moraes, Matheus Brill e João Azeredo (colaboração)
Iluminação: Adriana Tausz, Laura Storino, Lorena Morais, Maíra Lemos, Samanta Toledo
Cenografia: Samanta Toledo, Cris Ferreira, Rodrigo Duarte e Vinícius Lugon
Figurino: Lívia Porch, Marcela Cantaluppi e Moara Alcântara
Produção: Pedro Rothe e Erick Volgo
Ver Ficha Técnica completa
ELENCO:
Jean Valjean – Leo Bahia
Javert – Vitor Martinez
Fantine – Calu Silveira
Jovem Cosette – Camilla Farias
Madame Thénardier – Alê Sala
Thénardier – Bruno dos Anjos
Gavroche – Katarina Assef
Enjolras – Yves Baeta
Marius – Andrei Lamberg
Éponine – Fernanda Barreto
Cosette – Luísa Suarez
Coro
Sopranos – Camila Félix, Ciça Cidral, Evelyn Cirne, Flora Menezes, Luciana Cruz, Luísa Andries, Rebecca Heinzle e Suzana Felske.
Contraltos – Bruna Axt, Erica Oldemburg, Karla Alessandra, Larissa Costa, Rebecca Leão, Renata Figueiredo e Thais D’Castro.
Tenores – Alexandro Borba, Caio Lisboa, Carlos Augusto Gomes, Gabriel Leone, Gabriel Martins, Leo Yozo e Vitor Louzada
Baixos – Daniel Cintra, Gabriel Morais, João Azeredo, João Guesser, Luan Chelles, Lucas Baptista e Victor Hugo Araújo.