Crítica de Teatro | Um Estranho no Ninho

Anna Cintra

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10 de março de 2015

Imagine um espetáculo teatral no qual tudo se encaixa: nada falta; nada sobra. Onde os elementos Iluminação, Figurino, Cenário e Trilha Sonora encontram-se dispostos numa unidade harmoniosa altamente eficiente e caprichada. E onde encontramos um elenco de primeira e personagens apaixonantes. Imaginou?! Um Estranho no Ninho, em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal, é assim: de alta performance em todos os sentidos!

Com direção de Bruce Gomlevsky, essa primeira montagem brasileira do texto de Dale Wasserman (baseado no aclamado bestseller de Ken Kesey) era um desejo antigo do ator Tatsu Carvalho. Ele não mediu esforços para viver no palco Randle Patrick McMurphy, um preso que finge-se louco para fugir do trabalho forçado na prisão e é levado para uma instituição de doentes mentais.Internado, logo ele questiona a monótona rotina do lugar, bem como as rígidas ordens impostas pela enfermeira-chefe Ratched.Desrespeitando regras tão sórdidas quanto sádicas, numa época em que eram comuns humilhações, choques elétricos e lobotomia, McMurphy é tratado como um líder e protetor pelos demais internos,o que vai lhe render grandes apuros.

Foto: Felipe Diniz

Foto: Felipe Diniz

Tatsu se sai muito bem e surpreende, justamente por mostrar confiança em ousar caminhos diferentes dos de Jack Nicholson, que encarnou o personagem em 1975, quando a versão cinematográfica abocanhou Baftas, Globos de Ouro e cinco estatuetas do Oscar. O McMurphy de Tatsu tem uma dose maior de malemolência e malandragem; ironia e carisma.E abre caminho para um naipe poderoso de atores, que passeiam com tranquilidade pelo delicioso texto de Dale e usam com inteligência a expressão corporal para garantir a veracidade do extenso portfólio de tipos que habitam a instituição. Como em toda peça, alguns personagens podem interessar e destacar-se mais que outros. Aqui seria difícil dizer tamanho equilíbrio e entrega visceral em cena.Talvez o índio catatônico Bromden, vivido por Charles Asevedo, que pontua todo o espetáculo com suas percepções; ou a revelação Vitor Thiré e seu Billy Bibbit suicida e dominado pela mãe. E a cereja do bolo Isaac Bardavid, em participação especial.

Se a direção de Bruce consegue aproveitar o que de melhor o elenco tem para dar, ele mostra-se igualmente atencioso e assertivo na escolha de sua equipe técnica: Elisa Tandeta assina a iluminação e Pati Faedo responde pelo cenário. Ouso dizer que, sem elas e seus excelentes trabalhos, a exata sensação claustrofóbica necessária para contar uma história como essa não seria possível.

Um Estranho no Ninho merece ser visto. Pelo tema, ainda tão atual, que nos leva a pensar sobre liberdade, aprisionamento do ser e respeito aos nossos próprios valores dentro e fora dos limites sociais. E pelo puro entretenimento, pois possui qualidades que vão além das expostas nesse texto. O espetáculo fica em cartaz até dia 3 de maio. Ou seja, o carioca tem um motivo a mais para curtir o outono no Rio.

FICHA TÉCNICA
Texto: Dale Wasserman
Tradução:Ricardo Ventura
Direção:Bruce Gomlevsky
Direção de Produção:Rafael Fleury e Tatsu Carvalho
Cenário: Pati Faedo
Iluminação:Elisa Tandeta
Figurinos:Alessandra Padilha e Jerry Rodrigues
Trilha OriginalMauro Berman
Visagismo: Uirande Holanda
Técnico de luz:Rafael Tonoli
Assistente de Direção: Lorena Sá Ribeiro
Camareira: Fernanda Moura
Programa Visual:Ana Andreiolo
Fotografia:Felipe Diniz
Ass. de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Elenco:
Charles Asevedo, Felipe Martins, Helena Varvaki,Henrique Gotardo, Hylka Maria, Isaac Bardavid, JUnior Prata, LOrena Sá Ribeiro, Marcelo Morato, Rafael Oliveira, Ricardo Lopes, Ricardo Ventura, Tatiana Muniz, Tatsu Carvalho, Vitor Thiré, Zé Guilherme Guimarães.

Anna Cintra

Estudante de Psicologia há dois semestres, metida à mochileira há alguns anos e interessada em Fotografia desde sempre! Tem mania de sair com o cabelo molhado, de tomar mate gelado e de Ricardo Darin. É de Niterói, mora em Maricá e diariamente atravessa a Guanabara para trabalhar. Tá sempre saudosa de Porto Alegre, do Guaíba e do Quintana. Adora lugares com farol, mar e Iemanjá. E jura que viu Deus no último grande show que assistiu: ele estava no palco,usava uma bata, óculos escuros,cantava e tocava piano como ninguém! Pera! Esse era o Stevie Wonder...!
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